Os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado mostram que o número de roubos e furtos de veículos no ABC teve pequena redução se comparados os primeiros cinco meses deste ano com o mesmo período do ano passado. Ainda assim foram 6.486 automóveis roubados ou furtados na região no período, o que dá quase um carro levado a cada meia hora por criminosos. Apesar da situação, o número de flagrantes feitos pelas polícias Civil e Militar diminuiu e apenas as Guardas Civis Municipais atenderam ocorrências e fizeram prisões.
A estatística mostra que houve uma queda de 4,93% no número de veículos roubados e furtados no ABC, comparando o intervalo de janeiro a maio de 2022 com os cinco meses deste ano. Apesar da queda, Diadema destoou do restante da região registrando significativa alta de crimes envolvendo veículos. Foram 714 roubos e furtos em cinco meses do ano passado contra 913 neste ano, uma alta de 27,87%. Ribeirão Pires também teve alta de 3,47% nestes tipos de crime. O histórico mostra que a maioria dos veículos roubados ou furtados acaba em desmanches clandestinos onde são desmontados e as partes vendidas ilegalmente em lojas de peças usadas, ou seja, o crime acontece porque há receptadores e também quem compre as peças sem origem comprovada.
O RD conseguiu, através da Lei de Acesso à Informação, o número de flagrantes feitos pelas duas polícias no ABC. Considerando, para efeito de comparação os primeiros cinco meses do ano de 2021, 2022 e 2023, foram apenas quatro flagrantes e seis pessoas presas, todos no ano de 2022. De acordo com o relatório apresentado nenhum flagrante foi realizado e ninguém foi preso por essa modalidade de crime pelas polícias estaduais neste ano, nem em 2021.
Enquanto que os dados oficiais da pasta, mostram que o número de flagrantes de desmanches clandestinos pelas polícias Civil e Militar, ainda não saiu do zero, as Guardas Civis Municipais coibiram a prática de desmonte de carros e motos roubados ou furtados para venda ilegal de peças. Só a corporação de São Bernardo fez dois flagrantes. No dia 13/06 os guardas municipais estavam em patrulhamento pelo bairro Cooperativa quando suspeitaram de uma garagem com motocicletas cobertas por uma lona. A consulta de placa constatou que um dos veículos era roubado. Um homem estava na casa que autorizou a entrada dos guardas que localizaram outras duas motos, também roubadas, uma delas já estava parcialmente desmontada. Um objeto que simula uma arma de fogo e celulares foram apreendidos no local. O homem detido foi levado ao 8° Distrito Policial e confessou que desmanchava os veículos e vendia as peças. Na delegacia foi levantado que o acusado já tinha passagens por roubo.
Outra situação semelhante foi flagrada pela corporação municipal este ano no bairro Ferrazópolis. A prefeitura informou que orienta o patrulhamento com vistas a este tipo de delito e que só esse ano desencadeou 12 ações de patrulhamento preventivo para detecção de operações de desmanche.
O professor de direito penal e coordenador do Observatório de Segurança Pública da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), David Pimentel Barbosa de Siena, a explicação para a polícia fazer menos flagrantes pode estar na lei dos desmanches, que trouxe para essa área uma regulamentação mais rigorosa para o comércio de peças usadas, que agora passam a ser rastreadas e também na atuação de departamentos especializados, como a Divecar (Delegacia de Investigações sobre Fraudes, Seguros e Afins ) que é parte do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais). “É complicado dizer porque determinada instituição ou delegacia não está performando porque tem inúmeras variáveis, mas no caso da Polícia Civil ela conta com uma divisão especializada em desmanches que fica na Divecar, que eles tem uma atuação estadual, uma hipótese seria que a atuação da Divecar, esteja inibindo esse tipo de delito, o que também não impediria as delegacias locais de atuar”, opina.