Uma manobra de última hora impediu que o julgamento do caso da família Gonçalves tivesse no banco dos réus os cinco acusados. O júri que teve início na manhã desta segunda-feira (12/06), no Fórum de Santo André, vai analisar a ação de apenas três denunciados pelo triplo homicídio qualificado que vitimou em 28 de janeiro o casal de empresários Homuyuki Veras Gonçalves e Flaviana Meneses Gonçalves e o filho do casal Juan Victor Meneses Gonçalves, de apenas 15 anos. Os réus em julgamento são Anaflavia Meneses Gonçalves, filha e irmã das vítimas, sua ex-companheira, Carina Ramos, e Guilherme Ramos da Silva.
Os outros dois acusados do crime, os primos Jonathan Fagundes Ramos e Juliano de Oliveira Ramos Júnior, decidiram, na última hora, quando o júri já tinha se iniciado, destituir a advogada Alessandra Jirardi que fazia a defesa dos dois há três anos. Logo depois da decisão dos réus, a advogada e também Tamara Cavalcante, que atua no mesmo caso, ficaram muito descontentes. Ela disse que os rapazes pediram um novo adiamento, no que ela respondeu que não havia mais motivos para adiar, quando eles decidiram por retirar a defensora do caso. “Assim que apregoaram e iniciaram o júri eles (Jonathan e Juliano) queriam que nós adiássemos o processo que já foi adiado várias vezes e eu expliquei que não tinha como adiar mais, inclusive todas as testemunhas estavam presentes”, disse Alessandra. Por causa da falta de um advogado que os representasse, o juiz Lucas Tambor Bueno, da Vara do Júri de Santo André, redesignou o júri de Juliano e Jonathan para o dia 21/8.
O advogado de Carina Ramos, Fábio Costa, disse que todo o resultado do julgamento dos réus pode ser impactado por causa do desmembramento. Ele disse à imprensa que pretende pedir o anulamento do júri, por entender que ele está prejudicado. “Prejudicou demais e vamos pleitear a anulação, porque todos estavam no dia e participaram da ação, isso prejudica principalmente a minha cliente sem o depoimento deles, como executores, prejudica minha cliente. O juiz poderia ter remarcado para todos e entendemos isso como uma violação do ordenamento jurídico”, declarou.
O julgamento dos três réus deve durar de dois a três dias, segundo a previsão do Tribunal de Justiça. Nesse primeiro dia foram ouvidos Anaflavia, Carina e Guilherme, que deram suas versões do crime. Os três assumiram o crime de roubo, mas as duas negaram terem combinado o triplo assassinato empurrando para os rapazes a responsabilidade pelas mortes.
Duas testemunhas de acusação também foram ouvidas. O delegado Ronald Quene Justiniano Marques, que participou das investigações e a mãe da vítima Flaviana e avó da ré Anaflavia, Vera Lúcia Chagas Conceição. Vera ficou frente a frente com a neta acusada de matar a família. A ré chegou, por duas vezes, durante seu depoimento pedir desculpas para a avó, que chegou a deixar o plenário em protesto. O júri tem sequência nesta terça-feira (13/06) à partir das 10h.
O advogado Epaminondas Gomes, que assessora a família das vítimas e que atua como assistente de acusação disse que, apesar da separação dos réus no julgamento, os trabalhos foram positivos neste primeiro dia. Ele disse esperar que a sentença saia ainda nesta terça-feira (13/06). “Dia muito produtivo, em que os trabalhos foram iniciados, esse caixão de fato começou a ser fechado. Depois da formação do conselho de sentença, a escolha dos sete jurados, que inaugurava a abertura dos trabalhos, depois as testemunhas de acusação – doutor Ronald e depois dona Vera, e passamos para o interrogatório, amanhã retornaremos e esperamos ter uma sentença”, descreveu.
Caso
Os três corpos foram encontrados, no dia 28 de janeiro de 2020, no interior do veículo da família, um Jeep Compass, carbonizado na Estrada do Montanhão, em São Bernardo. O crime, porém teve início no condomínio residencial onde a família vivia a poucos quilômetros dali, em Santo André. O crime chocou a opinião pública após a polícia deter a outra filha do casal, Anaflavia Meneses Gonçalves, hoje com 27 anos como suspeita do crime, juntamente com a sua então companheira Carina Ramos.
Ao longo das investigações a polícia foi chegando aos comparsas que, segundo o inquérito policial e a denúncia do Ministério Público, participaram do crime. Os primos de Carina, Jonathan Fagundes Ramos e Juliano de Oliveira Ramos Júnior e um terceiro amigo, Guilherme Ramos da Silva, as teriam ajudado a praticar o crime. Passados mais de três anos e quatro meses do crime, os cinco réus continuam presos, e esta é a quinta tentativa de julgamento, as anteriores foram redesignadas por pedidos da defesa dos réus, alegando ausência de testemunhas.