
O anúncio feito nesta quinta-feira (25/05), Dia da Indústria, pelo governo federal, que quer estimular a indústria automobilística a produzir carros mais acessíveis, abaixo de R$ 60 mil, foi vista com um otimismo contido pelos representantes das regionais do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) no ABC. Para os dirigentes, não apenas a indústria automobilística, mas outros setores industriais precisam ser estimulados com revisão da carga de tributos para continuar com geração de empregos e riquezas.
“A nossa indústria espera uma redução da carga tributária para que volte a ser competitiva. Queremos que a indústria volte a representar 35% do PIB (Produto Interno Bruto), hoje está em 11%. Está na hora de uma compreensão de que a indústria carrega um fardo maior e é mais onerada que outros setores da economia. Se regular isso não vai ser necessário olhar para um segmento só, como o automobilístico, porque focar em um único setor não vai resolver o problema e outros segmentos vão pagar essa conta”, diz o diretor do Ciesp de Diadema, Anuar Dequech Júnior.
Apesar de grande parte da cadeia produtiva do automóvel esteja presente no ABC, a região não deve ser mais ou menos favorecida com as medidas do governo anunciadas nesta quinta-feira pelo governo federal, na ótica de Dequech Júnior. “As montadoras que ainda estão por aqui têm outras fábricas em outros lugares então, apesar de estarmos bem localizados, perto do Porto de Santos, o porto tem seus problemas também. A região precisa repensar sua política industrial, pois os municípios pensaram mais no setor de serviços, mas é a indústria que traz desenvolvimento econômico e paga os melhores salários. Não adianta só a Agência de Desenvolvimento Econômico debater a questão se os municípios não participarem”, avalia.
O diretor do Ciesp de Diadema diz que, apesar das questões tributária e de desenvolvimento regional, espera que as medidas tragam um clima de positividade na indústria. “No setor (automobilístico) as medidas serão bem aceitas e olhar para a indústria é sempre bom, porém a ressalva é que não se deve ver apenas um setor”, completa.
Desindustrialização

O diretor do Ciesp de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Norberto Perrella, destaca que algo deve ser feito para frear o processo de desindustrialização que o ABC tem vivido nos últimos anos. “A indústria do ABC já escapou pelos dedos; nossas empresas não conseguem concorrer no mercado porque não temos condição de competir. Temos encargos elevados de impostos, taxas e também na área trabalhista, com isso temos o trabalhador que ganha pouco e a indústria que gasta muito. Um funcionário custa para a empresa duas vezes e meia o seu salário. Esse anúncio de hoje, pode ser visto como uma iniciativa positiva. Ter um carro mais acessível gera volume para a indústria automotiva, mas será que a indústria de transformação está preparada? Têm outros segmentos também que precisam de apoio”, avalia.
Perrella diz que o governo deve encarar um debate sobre a carga de impostos. “Deve ser vista a importância da indústria para a região, a mão de obra mais qualificada. O ABC tem oferta de cursos superiores, tem parques tecnológicos, indústrias remanescentes e aptas, ou seja, tem muito potencial. Falta integrar essas forças. A Agência de Desenvolvimento tem feito um bom trabalho, mas não tem efeito sem o poder público envolvido”, afirma.
Otimismo

Mais otimista, o diretor do Ciesp de São Bernardo, Mauro Miaguti, disse que toda a economia será beneficiada com as medidas. “Os anúncios feitos hoje pelo governo federal, com a redução dos preços dos carros populares por meio da diminuição dos impostos federais e a disponibilização de linhas de crédito pelo BNDES, são bem-vindos para a indústria automotiva. Eles têm o potencial de impulsionar toda a cadeia produtiva. Com o aumento das vendas, as montadoras terão a oportunidade de ampliar sua produção e, consequentemente, gerar mais empregos no setor. Além disso, o aquecimento do mercado automotivo terá um efeito positivo em toda a cadeia de fornecedores e serviços relacionados, impulsionando a economia como um todo”, afirma.
Miaguti também considerou acertada a medida que prevê linhas de financiamento do BNDES, destinadas a indústria exportadora, mas pondera que a discussão não deve deixar de lado a reforma tributária. “A indústria nacional precisa de incentivos para gerar emprego qualificado e renda para o País, mas muito ainda precisa ser feito, o País precisa da reforma tributária. Estamos confiantes, porém atentos aos próximos passos”, completa.
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O governo federal anunciou nesta quinta-feira (25/05) a redução de impostos com o objetivo de diminuir o valor final de carros novos no Brasil. A medida será possível com a redução das alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do PIS/Cofins (Programa de Integração Social e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) para a indústria automotiva.
Os descontos que incidirão sobre o valor dos veículos irão de 1,5% a 10,96%, de acordo com critérios de preço, eficiência energética e densidade industrial no país. A medida vale para carros de até R$ 120 mil. O Ministério da Fazenda terá 15 dias para apresentar os parâmetros que serão usados na edição de um decreto (para reduzir o IPI) e de uma medida provisória (MP) (para reduzir PIS/Confins) que será encaminhada para aprovação do Congresso Nacional.
As informações foram dadas pelo vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, após reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com representantes de entidades de trabalhadores e fabricantes do setor automotivo, no Palácio do Planalto, em Brasília.
De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o preço final ao consumidor pode cair para menos de R$ 60 mil, conforme a política de cada montadora. Atualmente, não é possível comprar um carro popular por menos de R$ 68 mil. O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, explicou que é importante que o benefício seja de pelo menos 12 meses, para melhor planejamento e investimentos da indústria.
Segundo Leite, os descontos serão imediatos após a publicação da MP e do decreto e incidirão, inclusive, sobre os veículos que já estão nos pátios das montadoras.
Outra medida que deve beneficiar o setor automotivo foi anunciada pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante. O banco abrirá uma linha de crédito de R$ 2 bilhões só para produtos de exportação, financiados em dólar. Mais R$ 2 bilhões estarão disponíveis para que empresas exportadoras realizem investimentos na modernização da sua linha de produção.