O Sintrabor (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Borracha da Grande São Paulo) estima que as cerca de 700 demissões que podem ocorrer na Bridgestone até o final deste ano vão impactar no corte de 25 mil postos de trabalho em toda a cadeia produtiva da indústria pneumática, que envolve a indústria química, de autopeças e até o início da cadeia que é a retirada do látex da seringueira. A prefeitura de Santo André diz que não tem uma estimativa do impacto do corte que os postos de trabalho poderiam trazer a economia do município.
As demissões, segundo a nota da empresa, são resultantes de um plano de negócios para otimizar a produção. A Bridgestone diz que vai levar a produção de pneus para veículos de passeio para a Bahia e ficaria em Santo André apenas a produção de itens para veículos pesados, fora de estrada e agrícolas. Essa mudança ocorreria até o final deste ano, portanto as negociações entre sindicato e empresa têm menos de seis meses e a representação dos trabalhadores tem um único objetivo que é tentar reverter a decisão da empresa.
“Ontem (segunda-feira, 08/05) passamos o dia todo conversando com os trabalhadores de todos os turnos. Hoje enviamos ofício para a empresa pedindo uma reunião que deve ocorrer na próxima semana. Mandamos também um ofício para o ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin e também uma carta ao Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, para que pressionem a empresa a dizer o real motivo das demissões e tentar convencer a Bridgestone a usar esse pessoal que quer demitir, em outra linha, fazendo pneu de caminhão e trator”, explicou o presidente do Sintrabor, Márcio Ferreira.
Para Ferreira o assunto é de preocupação nacional dada a estimativa de que os 700 postos de trabalho diretos que seriam cortados vão implicar em 25 mil empregos perdidos em toda a cadeia. “Desde o seringueiro até o pessoal da indústria química e das fábricas de autopeças serão prejudicados e tem também o pessoal terceirizado de limpeza, transporte e segurança”, diz o sindicalista.
Márcio Ferreira não acredita que a Bridgestone vá produzir pneus de passeio na Bahia. “Eles vão parar de produzir os pneus do aro 14 ao 17 e vão concentrar tudo nos pneus para veículos pesados que dão muito mais lucro, os de aro menor eles vão trazer de fora”, aponta o presidente do Sintrabor. “Estão tomando uma decisão visando somente o lucro, mas se esquecem que 700 trabalhadores vão ficar desempregados e isso não pega bem para a imagem da empresa”, analisa.
O Sintrabor não descarta paralisações na fábrica caso não haja uma negociação. “Por enquanto a empresa tem demonstrado interesse em negociar. Depois da reunião da semana que vem vamos ver o que vai acontecer; se não houver um consenso podemos acionar a justiça do trabalho ou mesmo parar a fábrica. Temos seis meses para negociar, há tempo para estudar alternativas”, conclui.
Reestruturação
A prefeitura de Santo André disse que não tem informações sobre o impacto que as demissões e que o fim da produção de pneus para veículos de passeio, trarão para as finanças do município. Em nota, a prefeitura explica que há um compromisso de manutenção da fábrica na cidade e que há um processo de reestruturação na empresa que demitiria 15% dos trabalhadores. “A Secretaria de Desenvolvimento e Geração de Emprego recebeu a informação, por meio da direção da Bridgestone, que haveria um plano de reestruturação interna para a manutenção da planta e de mais de 85% dos empregos gerados pela empresa na cidade. Destacamos que, desde o início da atual gestão, a administração tem se colocado à disposição para prestar qualquer suporte e apoio para as empresas da cidade, com objetivo de manter e gerar emprego, trabalho e renda. Para propor iniciativas, o município tem se pautado com base em três pilares fundamentais: a melhoria do ambiente de negócios, a competitividade das empresas e o fomento à qualificação e à inovação. A prefeitura, no entanto, não se manifesta sobre decisões estratégicas da iniciativa privada”.
São Bernardo
Ao que tudo indica o investimento que foi anunciado em janeiro, durante entrevista coletiva do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), sobre o investimento da Bridgestone na cidade, não ocorrerá. O Sintrabor informou que não tem conhecimento de movimentação da empresa para a montagem de um Centro de Distribuição no município vizinho ao da fábrica de Santo André, conforme foi dito no anúncio há quatro meses. A empresa não confirmou a informação. “A Bridgestone realiza continuamente a prospecção de locais que possam ser úteis para a companhia e a região do ABC oferece opções estratégicas. Contudo, não há confirmação de um novo Centro de Distribuição”, esclareceu em nota. Questionada sobre o tema novamente, a prefeitura de São Bernardo não se posicionou.