A Frente Ambiental Viva Billings, que envolve representantes das prefeituras de Diadema e São Paulo, a USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), entidades representativas do comércio, indústria e a sociedade civil, espera conquistar o audacioso objetivo de desassorear um braço da represa, o da Grota Funda, que fica entre as duas cidades. A proposta é que esse seja um projeto piloto para todo o reservatório, que completa 98 anos neste 27 de março. O velejador e medalhista olímpico em Seul (1998) e Atlanta (1996), Lars Grael aderiu à frente e gravou um vídeo sobre a data.
A Billings é um gigante que tem 150 quilômetros de espelho d’água, 460 quilômetros de margens e que manda água para o sistema Guarapiranga e para o Alto Tietê. Cerca de 12 milhões de pessoas recebem água da represa na Grande São Paulo. O gigante, no entanto, está doente, precisa de ações urgentes que garantam a produção e qualidade da água e que impeçam a continuidade do assoreamento.
Neste domingo (26/3), a Frente realizou um ato, no Parque Ecológico de Eldorado, em Diadema, para marcar o aniversário da represa e cobrar a continuidade de obras de retenção de sedimentos. As obras impediriam o avanço do assoreamento da represa, principalmente no braço Grota Funda. O apoio governamental o movimento já tem bastante. Foi elaborada uma carta que vai ser entregue, na data do aniversário da Billings, ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em que pede ações concretas para a despoluição do reservatório.
Semana passada, na Câmara de Diadema, o fundador e assessor jurídico do MDV (Movimento em Defesa da Vida do ABC), Virgílio Alcides de Farias, apresentou a carta que foi subscrita por todos os vereadores. A prefeita interina, Patty Ferreira (PT), também assina o documento, além do prefeito da Capital Ricardo Nunes.
Desassoreamento pode virar case
Segundo a ambientalista, bióloga e docente da USCS, Marta Marcondes, há muitos problemas que prejudicam a qualidade da água da represa, mas neste 98° aniversário, a novidade é a adesão à frente. “Hoje a situação da água é boa, porque choveu bastante e ela está bem cheia, mas isso não diminui o assoreamento que reduziu a capacidade de armazenamento em 15%. Se não deixar mais esgoto entrar e se não parar o desmatamento no entorno a situação tende a piorar, como tem piorado ano a ano. A novidade agora, com a qual estamos empolgados é o sucesso dessa frente que reúne setores diferentes, alas políticas antagônicas e esse grupo todo existe para que possamos fazer do desassoreamento do braço Grota Funda um case de sucesso”, diz.
Marta afirma que o movimento possui adesão dos prefeitos, vereadores, deputados, empresários através da associação comercial, do Rotary e que esse projeto piloto de desassoreamento deve ter início assim que conseguirem recursos. “Estamos na fase um, que é a de mobilização e conscientização e esperamos que em dois anos consigamos essa vitória para celebrar os 100 anos da represa. É possível fazer limpeza dos córregos, para que a água chegue limpa na represa. Até agora estamos conseguindo fazer com que entendam a importância que desassorear o Grota Funda tem”, afirma.
A intenção da frente é conseguir o projeto e os recursos para recuperar o braço da represa e esse exemplo poderá ser usado em todos os demais trechos do reservatório que estejam comprometidos. Do lado de Diadema, a Prefeitura quer fazer um ancoradouro flutuante e uma escola de vela, com o objetivo de estimular a vocação para esportes náuticos e o turismo naquela região, que foi forte até os anos 1970. Marta diz que há inúmeras adesões surgindo em apoio à Frente Ambiental Viva Billings. “Tem uma Ong que faz um trabalho com mulheres que passaram por mastectomia. Trata-se de um barco chinês em que as mulheres fazem aulas de remo e também recebemos a importante mensagem do velejador Lars Grael, que gravou uma mensagem chamando atenção para a vocação turística da Billings”, explica a professora. (veja vídeo).
O assessor jurídico do MDV ressalta que a recuperação do reservatório está explícita na Lei Específica da Billings e também comemora as adesões. “A Frente está atraindo muita gente, desde 1985 eu luto pela represa e nunca via uma mobilização como essa; a Câmara, de forma unânime, subscreveu a carta e isso é um importante ponto de vista político. Esperamos a volta do bairro de Eldorado (Diadema) às atividades náuticas e ao turismo”, diz.
Virgílio de Faria conta que no próximo dia 5 de abril acontece reunião das duas prefeituras com Emae (Empresa Metropolitana de Água e Energia), responsável pela represa, para a autorização do uso das margens para essas atividades. “Também vamos cobrar a Prefeitura de Diadema pela conclusão das obras de contenção de sedimentos que estão paradas. Só o braço Grota Funda perdeu cerca de mil metros quadrados de assoreamento, a terra está empurrando a água, imagine o quanto se perdeu em capacidade de armazenamento”, comenta.
O secretário adjunto de Meio Ambiente da prefeitura de Diadema, André Luiz das Neves, disse ao RD que a obra parou não por causa da administração, mas por questões burocráticas. “Primeiro que a licença da Cetesb para a obra venceu, já pedimos a renovação, mas a companhia ambiental não renovou ainda. Outra questão envolve duas casas que estão no caminho da obra e que precisam ser desapropriadas em um processo judicial. Esperamos que essas questões sejam resolvidas logo, o processo de desapropriação já está na sua fase final”, explica.
Marta e Virgílio concordam que os avanços da Frente Ambiental Viva Billings valem comemoração, mas ao analisarem a situação da represa como um todo, não há o que se comemorar. “A situação da represa só piora a cada ano, mas a gente espera que essa nossa ação para desassorear o braço Grota Funda, inspire também outras prefeituras”, afirma a professora.
Segundo Marta, a Prefeitura de Rio Grande da Serra já procurou o grupo interessada em aproveitar a margem para abrigar atividades turísticas. “É preciso investimento e a Sabesp, que explora a água tem que pagar por isso também”, completa Farias. “O meu sentimento é ambíguo. Enquanto estou eufórica com essa mobilização e apoio que a Frente recebe, não posso comemorar pelo estado atual da represa com assoreamento e contaminação”, resume Marta.