Falta de ciclofaixas no ABC impede trânsito mais sustentável

Para contornar a situação, Santo André prevê expansão de oito rotas de ciclovias – mas ainda sem data definida (Foto: Pedro Diogo)

Aos poucos, o uso da bicicleta como transporte tem se tornado comum nas ruas do ABC. É oportunidade não só para melhorar a condição física, mas evitar gastos, estresse e fortalecer a mobilidade urbana de forma sustentável. No entanto, ainda é preciso que intervenções emergenciais sejam adotadas pelo poder público em prol das boas práticas de segurança viária. É preciso ampliar a malha cicloviária nas cidades e os bicicletários.

Em São Caetano, o prefeito José Auricchio Júnior (PSDB) decidiu realizar um gasto milionário (R$ 19,9 milhões) para construção de uma ciclovia em toda a extensão da avenida Goiás, além dos 17,7 km de ciclovias e ciclofaixas já existentes. Para isso, a administração assinou homologação de contratação de empresa, no final de 2022, para executar malha cicloviária de 5,8 quilômetros (2,9 quilômetros de cada lado da avenida), segundo o edital.

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Os pontos da cidade atendidos serão as avenidas Presidente Kennedy, Goiás, Nelson Braido, Fernando Simonsen e Guido Aliberti; alamedas Terracota e Caulim; e o Ramal Terminal Rodoferroviário – rua Amazonas. O projeto inclui, ainda, um bicicletário no novo terminal Rodoviário, como incentivo ao modal.

Atraso no modal

Quem pedala na cidade comenta que o município está atrasado no incentivo à vida mais sustentável com o uso de bicicletas. “O número de carros só cresce, em todo ABC, mas as cidades estão atrasadas, não estão preocupadas em resolver a questão. Ainda que as pessoas optem por trabalhar ou estudar de bicicleta, não existe uma via específica e segura pra se andar nela, além disso, falta segurança pra quem quer essa vida”, reclama a estudante de Psicopedagogia, Sara Figueiredo Santos, de 26 anos. A moradora do bairro Nova Gerty diz invejar cidades onde a ciclovia e estações de bike por app funcionam. “Não lembro de ver opções assim aqui no ABC, acho que realmente não tem”, diz.

A estudante atualmente usa a bicicleta somente para passear aos finais de semana, mas diz que ainda sim, evita ficar muito tempo fora de casa, em razão da indisponibilidade de pontos para parar a magrela com segurança nas ruas. “Diferente de São Paulo (Capital), onde temos muitos pontos para guardar a bike, aqui no ABC não temos sequer bicicletário, então é muito difícil sair para pedalar longe de casa porque não há lugar para fazer uma parada segura se você não tiver seus próprios itens de segurança e não conhecer bem a cidade”, enfatiza.

Os demais municípios da região, com exceção de Rio Grande da Serra e Mauá que não responderam os questionamentos do RD – contabilizam, juntos, somente 50,8 km de malha cicloviária (entre ciclovia e ciclofaixa) para ciclistas, sendo: Santo André correspondente a 21 km, Diadema (15 km), São Bernardo (12,3 km) e Ribeirão Pires (2,5 km). Em todas as cidades, existem planos em execução para ampliar as vias cicláveis, com objetivo de formar uma rede, com infraestrutura que inclui bicicletário e adequação de sinalização.

Em Santo André, o projeto prevê expansão de oito rotas de ciclovias: Rota 1: avenida Queirós dos Santos/av. Santos Dumont/av. Cap. Mário Toledo de Camargo/Estrada do Pedroso – 10 km; Rota 2: avenida Firestone – 1,5 km (já implantada) Rota 3: rua Jorge Beretta – 1 km; Rota 4: avenida Lauro Gomes/rua das Figueiras/av. Padre Manoel da Nóbrega/av. Lino Jardim/av. Atlântica – 5,4 km; Rota 5: avenida dos Estados/avenida Pres. Costa e Silva – 12,5 km; Rota 6: avenida Prestes Maia – 3,9 km; Rota 7: rua Adriático – 1 km (já implantada) e Rota 8: avenida Lauro Gomes – 5 km (parcialmente).

Os demais municípios não informaram os endereços que devem receber os investimentos de malha cicloviária e instalação de bicicletários.

Uso da bicicleta

Em entrevista ao RD, a docente do curso de Educação Física da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Claudia Garcia, explica a importância de utilizar a bicicleta para além de um meio de transporte. Afirma que o número de grupos de ciclistas tem aumentado consideravelmente, e é uma forma de reunir pessoas, criar e cultivar amizades. Além da prática da atividade física, a professora diz que o ciclista pode conhecer lugares diferentes e, involuntariamente, até fazer bem para sua saúde. “Eu por exemplo, utilizo a bicicleta para conhecer o ABC e a bicicleta acaba sendo uma terapia. Quando estou andando não me preocupo com o trabalho e problemas a serem resolvidos. É uma forma de curtir as amizades, natureza me conectar com a espiritualidade”, diz.

No entanto, sem malha cicloviária, Claudia analisa que o ciclista pode se complicar, uma vez que cada dia mais as pessoas utilizam a bicicleta como meio de transporte para o trabalho, estudo, exercícios físicos e, principalmente, lazer. “O que vemos são algumas malhas cicloviárias sem interligações, que levam ciclistas a utilizarem vias públicas sem as devidas demarcações, e no meio de outros meios de transporte. No ABC, é comum ciclistas se reunirem para passeios noturnos nas cidades, porém é necessário sempre que os grupos tenham organização, para não haver acidente”, analisa.

Para isso, além do investimento necessário por parte do poder público, a docente recomenda o uso do capacete em qualquer momento e luzes na bicicleta quando for pedalar à noite. Além disso, luvas para proteger as mãos de uma possível queda e, a depender da quilometragem rodada, o uso de bermudas ou calças com proteção de gel. “É recomendado também, que o ciclista leve sempre uma bomba, reparos e câmara para sua bicicleta, para não ter problemas durante o percurso”, sugere.

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