Mulher negra, de comunidade, mãe solo e empreendedora. A prefeita em Exercício de Diadema, Patty Ferreira (PT), enfrentou muitos desafios na vida e agora busca superar o machismo e o racismo do meio político para mostrar a força da mulher negra na política. Em entrevista ao RDtv, nesta terça-feira (07/03), a petista falou de sua história e reforçou a necessidade de uma maior participação feminina no meio político.
Eleita vice-prefeita em 2020, em sua primeira tentativa eleitoral, Patty foi a primeira negra a assumir o comando do Paço diademense. Sua história política nasceu a partir das necessidades profissionais das mulheres que passaram dificuldades durante a fase mais crítica da pandemia do Covid-19, em 2020.
“Meu interesse surgiu meio que involuntariamente. Eu sou cabeleireira, minha formação é em Química, formada em Cosmetologia e eu tinha uma escola de cabeleireiros aqui na cidade. E durante a pandemia, aquela loucura, os espaços fechando, a escola também precisou fechar e aí comecei a perceber que várias amigas minhas, profissionais na área de beleza, começaram a me ligar desesperadas buscando saber como iriam fazer com os salões fechando. Muito incomodada com a situação, principalmente em Diadema como um Polo de Cosméticos, fiquei muito incomodada em fazer alguma coisa”, explicou.
Chegou a montar uma chapa coletiva para disputar uma cadeira na Câmara, porém, após uma reunião virtual acabou convidada por José de Filippi Jr. (PT) para ser sua vice, na chapa que acabou vencendo as eleições no segundo turno. Entrou no Paço assumindo também a Secretaria de Assistência Social e Cidadania, mas meses depois entrou no comando da Pasta de Desenvolvimento Econômico.
Ao ser questionada sobre seu envolvimento com a política antes da pandemia, a prefeita em exercício relatou que a vida corrida para sustentar a si e a sua filha acabou deixando longe de uma oportunidade.
“No meu caso não foi o machismo que me impedia, no meu caso foi a falta de políticas públicas para as mulheres, porque eu sou mãe solo, pequena empreendedora na área de beleza, então você acaba se distanciando da política e de tudo que o universo constrói para a mulher, e eu fiquei focada no meu dia a dia, buscando trabalhar, me sustentar, sustentar a minha filha, dar melhor educação, então eu de fato me afastei”, disse.
“Mas eu comecei a perceber que com a candidatura e a possibilidade de mulheres terem uma visibilidade maior, um empoderamento maior dentro da política, eu comecei a pensar nessa possibilidade. Em sempre disse assim, ‘eu não entendo de política, não sou da política’, mas é uma inverdade, hoje eu consigo perceber isso, que mesmo não estando na área governamental, eu sempre fiz a política, porque eu sempre incentivei, no meu caso na área da beleza, as mulheres a se arrumarem, a melhorar sua autoestima, pois eu tenho certeza que quando nos sentimos melhor, visualmente falando, você acaba se sentindo melhor para uma entrevista de emprego, para uma colocação, uma discussão. Você se sente mais preparada para isso”, seguiu.
Mulher negra
Segundo levantamento feito pelo Instituto Alziras, as mulheres são 51% da população do Brasil, porém, governam apenas 12% dos municípios. Quando o relato é sobre as negras, que são 28% da população, apenas 4% das cidades contam com prefeitas afrodescendentes. O racismo no meio político também é percebido por Patty.
“Eu consigo perceber isso quase que diariamente, porque eu venho de um universo que sou mulher, mulher preta, mulher mãe solo, mulher moradora de uma comunidade, então agrega um monte de valores que não são entendidos por todos, inclusive por algumas mulheres. Então, há um machismo, há o racismo”, iniciou.
“Quando é uma mulher preta todos entendem que é uma luta agressiva e não é, nós queremos nos colocar nos espaços, a gente quer resgatar tudo que perdemos de anos com a escravidão, então queremos no local que a gente precisa tá, e para isso é preciso ser um pouco mais rígida, precisa bater um pouco mais no peito para se fazer entender. Porque quando em alguns casos nós vamos com certa suavidade, as pessoas não acreditam no que falamos”, completou.
Por fim, considera que seja necessário que as mulheres busquem se posicionar e se igualar aos homens nos debates, principalmente quando envolvem políticas públicas femininas.
“Precisamos combater o machismo, pois nas mesas de negociação, nas discussões ainda é um universo muito masculino. Quando é o universo dos homens que entendem e corroboram para o universo das mulheres, ótimo. Mas quando é o universo daqueles homens que são machistas, que são misóginos mesmo, que não querem a gente em um papel de poder de decisão, acabam dando adjetivos para a gente, dando nomes para a gente, porque a gente está ali. Mas só queremos defender a família, criar uma política em um universo mais amplo, porque quando falamos de política para a mulher nós estamos falando de política para a família”, falou.