Dados de 2021, do Vigitel (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) detectou que 55,4% da população brasileira acima de 18 anos está com sobrepeso e 19,8% com obesidade, ou seja, Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 30 kg/m2. No Estado de São Paulo 57,42% estão com sobrepeso, com IMC (Índice de Massa Corporal), de 25 a 25 kg/m2 e 22,52% com obesidade. As prefeituras fazem ações para tentar reduzir esses números na esteira de também reduzir as doenças que caminham paralelamente à obesidade, como pressão alta, diabete, risco aumentado para infarto, AVC (Acidente Vascular Cerebral), trombose e risco aumentado para diversos tipos de câncer.
A medicina já diagnosticou que, durante a pandemia da covid-19, a obesidade na população aumentou, dado ao isolamento, o trabalho e o estudo online, que resultaram em menos atividades físicas. Para a médica endocrinologista e docente do curso de medicina no campus São Paulo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Fernanda Gomes de Melo, existem várias razões para que uma pessoa se torne obesa e as causas podem ser uma pré-disposição genética para engordar, sedentarismo, problemas psicológicos e até a poluição. “Na pandemia as pessoas ficaram mais em casa, com a parte emocional abalada diante das mortes e perdas familiares, isso deixou as pessoas mais ansiosas o que trouxe um desequilíbrio na alimentação. No início não se podia sair de casa, as academias fecharam então tudo conspirou para que a grande maioria da população ganhasse peso, principalmente quem já tinha uma pré-disposição para isso”, conta a especialista.
A médica, que já atuou por cinco anos no ambulatório de obesidade do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, disse que pessoas que estavam em tratamento para o controle do peso antes da pandemia voltaram com problemas maiores. “O ganho de 10 a 20 quilos nestes casos foi normal. A ansiedade, o trabalho em casa, a facilidade de pedir comida pronta, mais horas de trabalho e pouco sono, tudo isso veio com a pandemia e agravou a situação”.
Fernanda diz que, para as crianças o dano foi devastador, principalmente porque durante as aulas online elas foram privadas de atividades físicas e brincadeiras, ficando em casa em frente a telas. “Elas não queimaram energia e vem aquele faniquito de comer. O prejuízo escolar é recuperado, mas o da saúde não. Quanto mais cedo se ganha peso maior é o componente genético e a obesidade na criança é mais séria e pode trazer o diabete, uma doença que o indivíduo vai ter que tratar para o resto da vida. Há casos de crianças que desenvolvem a diabete do tipo 2, a que atacava, em geral, só adultos.
Além dos problemas vasculares conhecidos, se a obesidade está no grau III, a que era chamada de obesidade mórbida, o paciente tem problemas com a apneia do sono ou até mesmo ser mais uma vítima de morte súbita, isso porque, segundo a endocrinologista da USCS, o coração não aguenta bombear o sangue necessário. “Quando o IMC (Índice de Massa Corporal) é maior que 30 já entra na faixa da obesidade, maior que 35 já enfrenta o risco de doenças relacionadas ao sobrepeso e com mais de 40 o risco de mortalidade é aumentado”, explica a médica. O IMC é obtido do cálculo em que se divide o peso pela altura ao quadrado.
Nem toda pessoa com sobrepeso é uma pessoa doente. Atualmente até os modelos de beleza são revistos, há inclusive mercado para isso, com lojas especializadas de roupas para esse público e um segmento de moda que só atende os mais gordinhos. “Não existe um peso ideal, a pessoa tem que se sentir bem. O que deve ser construído é um movimento de que saúde não se pesa, pois o conceito de obesidade é relativo, desde que a pessoa se mantenha saudável que faça um acompanhamento médico não há problema”, analisa.
O preconceito é muito comum contra quem é gordo e isso é outro problema que agrava a situação e dificulta tratamentos. “Não se pode ter preconceito, o sobrepeso não pode ser um estigma, existe muita gordofobia na sociedade. Basta uma gordinha postar uma foto de biquíni que os comentários gordofóbicos virão. Existe até a gordofobia médica. Uma pessoa que tem condições busca medicação, faz um acompanhamento com exercícios e perde peso, mas quem é pobre vai no SUS e não tem medicação para isso na lista dos remédios populares, isso a meu ver é gordofobia médica”, critica. “Junte-se a isso a questão de que a comida mais barata é a comida que engorda mais. Falta muita educação na escola sobre hábitos alimentares e vida saudável”, conclui.
Em Santo André 87% da população adulta está obesa ou com sobrepeso
A prefeitura de Santo André estima que 26,8% de 417.286 adultos de 20 a 59 anos, ou seja, 111.832 indivíduos, estão obesos, e 60,3%, ou seja, 251.162 adultos estão com excesso de peso e a prevalência da obesidade vem aumentando, segundo análise da administração. A obesidade infantil também preocupa. De 7.899 crianças com idade entre 5 e 9 anos, cerca de 2.369 estão com excesso de peso, informou a prefeitura. Dos 8.503 adolescentes com idade entre 15 e 17 anos, cerca de 1.649, estão com excesso de peso, cerca de 850 obesos e aproximadamente 800 com sobrepeso.
Santo André considera epidemiológico o avanço da obesidade em crianças. O paço andreense realiza o Programa Saúde na Escola, com o objetivo de contribuir para a promoção da saúde, prevenção e cuidado das crianças com obesidade e sobrepeso, matriculados na Educação Infantil (creche e pré-escolas) e Ensino Fundamental I, com vistas a apoiar os esforços de reversão do cenário epidemiológico da obesidade infantil. “São avaliados o estado nutricional das crianças, os marcadores de consumo alimentar e ofertadas atividades coletivas de promoção da alimentação adequada e saudável, atividades coletivas de promoção das práticas corporais e atividades físicas. As ações de Vigilância Alimentar e Nutricional às crianças na Atenção Primária no âmbito das Unidades Básicas de Saúde são fundamentais e temos como ferramentas o guia alimentar para a população brasileira, o guia de atividade física para a população brasileira, o guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos entre outros”. Em relação aos adultos a prefeitura informa que acompanha a situação no atendimento das Unidades de Saúde através de equipes multiprofissionais.
São Caetano
Em São Caetano a prefeitura trabalha com os dados nacionais do Vigitel, para orientar suas políticas públicas de saúde. A cidade informou que, em 2018, implantou a linha de cuidados com ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento da obesidade através dos seguintes programas: Saúde na Escola, Crescer Saudável e Território Conectado para crianças e adolescentes; Grupo de Qualidade de Vida – adultos com sobrepeso e obesidade grau I; Grupo de Saúde Diária (GSD) – adultos com obesidade a partir de grau II; cirurgia bariátrica; apoio psicológico e nutricional pós bariátrica e cirurgia plástica reparadora. “O GSD é o programa de até dois anos, que aborda especificamente pessoas com IMC acima de 35, portanto possivelmente elegíveis à cirurgia bariátrica. São encontros quinzenais de uma hora com psicóloga e nutricionista, onde são abordados temas relacionados à alimentação saudável e adequada, relação do indivíduo com a comida e prática de atividade física. Cada UBS possui um grupo de 20 usuários, totalizando 240. A indicação de cirurgia bariátrica só ocorre quando há consenso entre médico da família, nutricionista e psicólogo do GSD. O grupo tem um profissional de educação física que faz avaliação individual, prescreve e oferta grupo de atividade física específica”, explica a administração em nota.
São Bernardo tem 68,14% da população adulta acima do peso
Em 2022, de acordo com os índices do sistema de saúde do Estado, São Bernardo teve 7,36% da população infantil do município considerada com peso elevado para a idade. Entre a população adulta, o índice era de 34,79% para sobrepeso,19,82% para obesidade grau I, 8,43% para obesidade grau II e 5,1% para obesidade grau III. Na população idosa, o índice de sobrepeso ou obesidade era de 50,07%.
A prefeitura informou em nota que trabalha o tema na rede municipal de saúde e na sua rede educacional. “Desde 2018, a administração também está inserida no Programa Federal Crescer Saudável, que traz hábitos de alimentação saudável e atividade física nas escolas de educação Infantil e Fundamental 1 da rede municipal. As ações são desenvolvidas pelas equipes da Estratégia da Saúde da Família (ESF) e do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), em parceria com os profissionais da Educação. Os pacientes diagnosticados com sobrepeso e obesidade são acompanhados por uma equipe multiprofissional, com endocrinologistas, nutricionistas, psicólogos e enfermeiros”, diz o comunicado.
Diadema
A prefeitura de Diadema não informou o percentual da sua população que está acima do peso, mas revelou a obesidade aumentou. “Segundo dados disponíveis no município, nos últimos cinco anos houve um aumento percentual de 3% em relação à população adulta considerada com excesso de peso, ou seja, somando os atendimentos de sobrepeso e obesidade. Na faixa etária de 0 a 5 anos, observando os dados disponíveis (2017-2021), houve uma redução de 1,42% nos índices de obesidade. Por outro lado, na faixa etária de 5 a 10 anos, houve um crescimento nos índices de 6%”.
As 20 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) de Diadema fazem o aconselhamento para a adoção de práticas alimentares mais saudáveis e adoção de práticas de atividades físicas. A prefeitura informou que contratou de equipes multidisciplinares (educadores físicos, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos, entre outros) para suporte às equipes de Estratégia Saúde da Família. Outras secretarias, não apenas a da Saúde, estão envolvidas no tema. “O Programa Saúde na Escola que desenvolve avaliações antropométricas e de consumo alimentar dos estudantes até 10 anos, bem como ações de educação alimentar que promovem mais qualidade de vida. A promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno é uma política municipal que tem sido incentivada e fortalecida nas UBSs e impacta diretamente na saúde do bebê e da mãe e, à longo prazo, nos índices de obesidade”, diz nota do paço diademense.