A PIC (Pesquisa de Intenção de Compras) para a Black Friday, elaborada pelo Observatório Econômico da Universidade Metodista, aponta uma expectativa de movimentação de R$ 362 milhões em vendas na data este ano. Nominalmente, o montante previsto é 2% menor do que a previsão do ano passado, cujo montante foi de R$ 370 milhões, mas descontada a inflação dos últimos 12 meses a previsão fica 7,8% menor do que a do ano passado. O tíquete médio ficará em R$ 795 segundo a pesquisa, 2% acima dos R$ 779 de 2021, mas se considerada a inflação o gasto médio fica 4% menor.
“A nossa expectativa é de movimentação de R$ 362 milhões, uma queda nominal de 2% e se considerarmos a inflação de 12 meses isso tem uma queda real de 7,8%. Isso é devido a dois fatores bastante importantes; o custo de vida e a inadimplência”, explica o economista e docente da Metodista,
. Segundo o economista, embora haja aquecimento no mercado de trabalho, a melhora da renda média se dá de maneira mais lenta, o que é natural, e tem o aumento do custo de vida, uma pressão muito forte da inflação. “Embora tenhamos alguns fatores melhorando a renda, até mesmo a ampliação do auxílio para as famílias mais vulneráveis, por outro lado temos uma pressão do custo de vida puxado por elementos essenciais especialmente a questão da alimentação, isso tem diminuído muito o poder de compra das famílias. Além disso temos o grau de endividamento que está em nível recorde na sua história do Brasil e uma inadimplência bastante alta”, analisa.
Outro dado da pesquisa do Observatório Econômico mostra que metade dos consumidores, ao contrário do que se esperava, não vai aproveitar a Black Friday para adiantar as compras de Natal. Para o coordenador da pesquisa, isso se deve ao perfil diferente das compras feitas na data de promoções e no Natal. “A Black Friday começou há 10 anos e traz uma alteração no comportamento do consumidor, algumas antecipações de compras, o que não quer dizer que todos os consumidores façam isso”, diz.
Os resultados mostram que daqueles que vão presentear alguém no Natal, quase metade (49,1%) diz que não vai antecipar a compra de presente na Black Friday. Na pesquisa, quase 10% (9,5%) vai antecipar todas as compras, e tem uma parcela muito grande que vai antecipar metade das compras ou que vai antecipar só 25%. “É muito comum nessa época a compra de eletroeletrônicos que tendem a apresentar algumas promoções bastante atrativas. São produtos que não estão no rol dos presentes. Muitas pessoas miram a Black Friday pensando mais na substituição de algum eletrodoméstico ou eletroeletrônico de casa”, diz .
A pesquisa também apontou que os que ganham entre um e três salários mínimos e os de cinco a 15 salários mínimos vão gastar menos do que no ano passado e esses grupos representam 60% das famílias. O custo de vida afeta diretamente a decisão desses públicos quanto aos gastos. Maskio diz que a questão não é só a renda familiar, mas o poder de compra tendo em vista o aumento dos preços e a elevação da inflação.
“Quando a gente olha o índice de inflação IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ele capta uma média que é calculada em nove grupos de despesa e há uma curiosidade interessante. A gente viu a inflação desacelerando nos últimos meses, até em função da redução do custo do combustível, dos nove grupos temos dois grupos abaixo da média, que é justamente o transporte e os gastos residenciais que também traz para baixo em função da queda do gasto com energia elétrica, gás, dado a redução do ICMS”, afirma. Maskio diz que os outros grupos estão acima da média da inflação. O grupo principal para todas as famílias é o grupo alimentação que tem uma inflação acumulada muito forte. “Isso para quem tem uma renda mais curta, as famílias mais vulneráveis, é muito ruim do ponto de vista da capacidade de consumo e sobra muito pouco para outras despesas”, comenta.
Segundo Maskio, o que mais chama a atenção no estudo é que, mesmo com a melhora do nível de emprego e da expansão do auxílio emergencial, ainda não há perspectiva de melhora em vendas. Embora as outras pesquisas que fez ao longo do ano em outras datas – Dia das Mães, Namorados, Dia dos Pais e Dia das Crianças -, tenham apontado esse comportamento, existia uma certa expectativa de que essa pesquisa apontasse um cenário pelo menos um pouco positivo, principalmente do efeito da expansão do auxílio emergencial, mas o que se observa, diz, é que todo esse esforço tem sido consumido seja pela inflação, sobretudo a dos alimentos, e pelo esforço das famílias em sanarem algumas dívidas. “Isso diminui a preferência por fazer compras e novos endividamentos, levando a esse resultado não tão animador quanto a gente gostaria que tivesse”, afirma.
Para Maskio, a Black Friday tem potencial para superar as vendas de Natal, mas isso ainda não acontece no Brasil, pois é necessário uma estratégia de vendas como na cultura de consumo do brasileiro. “Precisa combinar com dois fatores importantes, como é que o pessoal do varejo vai utilizar isso como estratégia de vendas, e como isso vai se incorporar na cultura de consumo do brasileiro. A Black Friday está muito associada à venda de produtos de maior valor adicionado, como eletrônicos, televisor e celular ou algum eletrodoméstico. Já como presente de Natal se pensa mais nos vestuários, nos cosméticos, nos brinquedos para crianças, são composições ainda muito diferentes”, completa o economista.