ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Pandemia aumenta em 47% o número de catadores de recicláveis em Santo André

Até 2020, 579 profissionais trabalhavam com essa atividade (Foto: Divulgação/Semasa)

Ao andar ou trafegar de veículo pelas ruas de Santo André nesses últimos dois anos é possível notar que houve aumento significativo de pessoas que recolhem materiais recicláveis. Os novos catadores autônomos de resíduos secos, como também são conhecidos, passaram a exercer essa atividade após perder o emprego ou ver o poder de compra da família diminuir, devido à crise econômica e inflação agravadas pela pandemia da Covid-19.

A ampliação no número de catadores foi comprovada por um mapeamento executado pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André). Das 853 pessoas que participaram da pesquisa, 579 trabalhavam com essa atividade até 2020 e 274 começaram a recolher e vender materiais recicláveis entre um e dois anos. Ou seja, a crise sanitária ocasionada pelo vírus SARS-CoV-2 foi responsável por aumentar em 47% a quantidade de catadores em Santo André.

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Tiago Cambaúba Barontini trabalhava como ajudante geral em uma montadora de São Bernardo do Campo, mas foi demitido, segundo ele, porque a empresa precisava cortar gastos. “Estou desempregado desde o final de 2019. Saí da fábrica onde eu trabalhava, fui despejado da minha casa, minha mulher largou de mim, fui para a rua e caí na reciclagem. Mas, graças a Deus, tenho tudo o que eu preciso”, afirma, acrescentando que no começo foi difícil, mas que depois aprendeu e gostou do novo trabalho. “É difícil, mas o básico eu tenho para sobreviver. Dá para pagar as contas, pago a minha condução, me alimento bem. Tenho tudo”, diz.

Depois de encontrar várias portas fechadas, Tiago decidiu manter-se na reciclagem. Mas ele faz um apelo: “Precisa ter mais oportunidades. Às vezes o povo vê a gente de uma maneira e discrimina, pois você está sujo. É um trabalho que, querendo ou não, não dá pra gente ficar limpo. Mas é um trabalho digno igual qualquer um. A gente está fazendo o planeta durar mais e garantindo o futuro das próximas gerações”.

Outra pessoa que encontrou na reciclagem um meio de sobrevivência foi Maurão, que não quis se identificar e preferiu ser chamado pelo apelido. Caminhoneiro por muitos anos, no auge da pandemia perdeu o emprego e desde então trabalha recolhendo recicláveis. “Um carreteiro puxando carroça? Se eu falar para os amigos de trabalho, talvez tenha vergonha. Mas, agora, achei interessante e estou até gostando. Como não arrumei outro serviço de caminhoneiro, não posso ficar parado”, explica.

A atividade de catador de material reciclável é reconhecida pelo Ministério do Trabalho, desde 2002, como categoria profissional. Apesar disso, os trabalhadores ainda exercem a profissão na informalidade e sem a garantia de seus direitos trabalhistas. Esse tipo de atividade torna-se uma importante e às vezes única fonte de renda para desempregados, pessoas analfabetas, com passagens pelo sistema prisional, idosos e também para quem não consegue recolocação no mercado formal de trabalho.

Para compreender as dificuldades dos catadores, com vistas a implementar políticas públicas que possam melhorar as condições de vida, trabalho e renda, o Semasa executou um mapeamento entre novembro e dezembro de 2021. O censo traz informações de perfil socioeconômico, renda, etnia, raça, moradia, saneamento, saúde, educação, trabalho, dentre outros. O estudo aponta que 52,9% dos profissionais ganham até um salário mínimo e que 81% não realizaram nenhum curso de capacitação profissional.

Visando mudar essa realidade, Santo André desenvolveu o Plano Municipal de Inclusão Produtiva dos Catadores Autônomos de Materiais Recicláveis, importante documento que deve se tornar decreto para que a cidade possa desenvolver políticas públicas a esses trabalhadores. O plano, inclusive, ficou entre as três melhores iniciativas do Prêmio da TV Bandeirantes “Cidades Excelentes”, concorrendo na categoria Desenvolvimento Socioeconômico e Ordem Pública.

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