Nos EUA, democratas seguram onda republicana; devem manter Senado e perder Câmara

O Partido Democrata, do presidente norte-americano Joe Biden, parece ter contido a “onda vermelha” projetada por muitos analistas que daria para o Partido Republicano o controle do Senado e da Câmara e inviabilizaria a segunda metade do governo Biden nas eleições legislativas nos Estados Unidos.

“Definitivamente não é uma onda republicana, com toda certeza”, reconheceu o senador republicano Lindsey Graham, um dos líderes do partido e aliado do ex-presidente Donald Trump, em entrevista à NBC.

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Para os democratas, manter a maioria do Senado parece mais possível após John Fetterman derrotar Mehmet Oz na Pensilvânia. Na Câmara houve vitórias importantes que devem diminuir o baque da derrota para os democratas.

Fetterman tirou uma cadeira no Senado controlada pelos republicanos, que é fundamental para as esperanças do partido de manter o controle do Senado.

Outras disputas essenciais para determinar essa maioria ainda seguem em aberto em Wisconsin, Nevada, Geórgia e Arizona. Na Câmara, os democratas mantiveram assentos em distritos da Virgínia ao Kansas e Rhode Island, enquanto muitos distritos em estados como Nova York e Califórnia ainda estão em aberto.

Nas primeiras horas da manhã desta quarta, 9, já se falava que os republicanos poderiam ter maioria apertada na Câmara – com 435 assentos, quem conquistar 218 cadeiras controla a Casa, apenas seis a mais do que o partido tem hoje.

Na Câmara, segundo as projeções da Associated Press, a agência responsável por fazer as principais medições e projetar vitórias com base nos resultados parciais das apurações nos Estados, os democratas estavam com 172 cadeiras, e os republicanos com 199. No Senado, democratas tinham 48 assentos, e os republicanos também 48.

São necessários 218 deputados e 51 senadores para controlar cada uma das casas. No Senado, apenas 1/3 é renovado; democratas já tinham 36 senadores e republicanos, 29. Todos os 435 assentos na Câmara dos Representantes dos EUA estão em disputa.

Por enquanto, é uma vitória modesta, se comparada com as duas últimas vezes em que presidentes democratas foram derrotados nas eleições de meio de mandato. Em 2010, nas primeiras midterms de Barack Obama, os republicanos viraram 63 cadeiras para o partido. No começo do governo Bill Clinton, em 1994, os republicanos conquistaram 54 assentos. O mesmo ocorreu quando os democratas retomaram o controle da Câmara quando Donald Trump enfrentou as eleições legislativas em 2018: na ocasião, os republicanos perderam 41 assentos.

Com os votos ainda sendo contados em todo o país, os republicanos ainda tinham a oportunidade de ganhar o controle do Congresso. Mas os resultados foram animadores para os democratas, que se preparavam para grandes derrotas, e levantaram questões sobre o tamanho da maioria governista dos republicanos se vencerem a Câmara.

Democratas conseguiram manter cadeiras onde as pesquisas apontavam que haveria uma virada republicana, como Abigail Spanberger (Virgínia), Seth Magaziner (Rhode Island) e Chris Pappas (New Hampshire). Em três corridas apertadas do Texas, os democratas venceram duas.

O deputado Kevin McCarthy, o republicano cotado para ser o presidente da Câmara se o Partido Republicano assumir o controle da casa, estava otimista de que o Partido Republicano assumiria o controle, dizendo aos apoiadores: “Quando você acordar amanhã, seremos a maioria.”

A presidente democrata da Câmara, Nancy Pelosi, disse: “Embora muitas corridas permaneçam próximas, está claro que os membros e candidatos democratas da Câmara estão superando fortemente as expectativas em todo o país.”

Trump vs Biden em 2024?

O resultado das corridas para a Câmara e o Senado determinará o futuro da agenda de Joe Biden e servirá como um referendo sobre seu governo, com os EUA sofrendo com a inflação recorde e as preocupações com a direção do país. O controle republicano da Câmara provavelmente desencadearia uma rodada de investigações sobre Biden e sua família, enquanto uma conquista do Senado do Partido Republicano prejudicaria a capacidade de Biden de fazer nomeações judiciais.

Além disso, a disputa o resultado afeta diretamente as perspectivas para a corrida presidencial dos Estados Unidos em 2024. O ex-presidente americano Donald Trump, que deve anunciar sua pré-candidatura à presidência na semana que vem, se inseriu em corridas em todo o país, endossando mais de 300 candidatos.

Trump esperava que a noite terminasse em uma onda vermelha para que ele pudesse concorrer à indicação presidencial republicana de 2024 com folga, mas ele teve amargas derrotas em Estados-chave, como a Pensilvânia, Michigan e New Hampshire. Depois de convocar repórteres e seus mais leais apoiadores para uma festa em seu clube de Mar-a-Lago, ele terminou a noite sem um discurso triunfante, e foi à sua plataforma de mídia social para dizer que teve “uma ótima noite”.

A maior derrota de Trump foi na Pensilvânia, onde seu candidato, Dr. Oz, entregou aos democratas uma cadeira no Senado que hoje é ocupada por um republicano, Pat Toomey. No mesmo Estado, Doug Mastriano, negacionista do resultado das eleições de 2020, perdeu para o democrata Joshua Shapiro.

A Pensilvânia é um estado-pêndulo, assim como Michigan, onde a democrata Gretchen Whitmer, venceu a reeleição contra a comentarista política ultraconservadora Tudor Dixon, apoiada pelo ex-presidente.

Em Ohio, por outro lado, a vitória de JD Vance, autor do best-seller Hillbilly Elegy, garantiu no Senado um trumpista que já repetiu alegações falsas de fraude em 2020.

Na Carolina do Norte o candidato apoiado por Trump, Ted Budd, derrotou Cheri Beasley, ex-presidente da Suprema Corte estadual.

A performance abaixo do esperado pode alterar a disputa presidencial para 2024. Trump deve anunciar na próxima semana que será candidato, e o ex-presidente deve ter como principal adversário Ron DeSantis, que teve uma vitória importante e foi reeleito governador da Flórida com quase 20% a mais de votos que seu adversário democrata, Charlie Crist.

Senado

Para o Senado, de acordo com a Associated Press, o republicano Tim Scott venceu facilmente a reeleição na Carolina do Sul, e o deputado democrata Peter Welch ganhou a cadeira de Vermont na disputa com o aposentado Patrick J. Leahy, mantendo esse assento para seu partido. Ambos não enfrentavam corridas competitivas.

O senador republicano Rand Paul, de Kentucky, conquistou mais um mandato. Na Flórida, o também republicano Marco Rubio venceu a eleição e vai para o seu terceiro mandato. Ele derrotou o democrata Val Demings.

J.D. Vance, que já foi um crítico ferrenho de Donald Trump, mas se reformulou como um aliado de extrema direita do ex-presidente, venceu sua corrida em Ohio. Ele derrotou o deputado democrata Tim Ryan, que fez uma campanha tentando reconquistar alguns dos eleitores brancos da classe trabalhadora que fugiram de seu partido na era Trump.

Maryland, Connecticut e Illinois também projetam vitória para os democratas, enquanto Alabama e Oklahoma (as duas cadeiras), para os republicanos. Com isso, segundo as projeções do jornal The New York Times, os democratas têm 47 senadores e republicanos, 46.

Governadores

O Estado de Maryland elegeu o primeiro governador negro da sua história, o democrata Wes Moore, segundo as projeções da Associated Press. Moore venceu o candidato republicano Dan Cox, considerado de direita radical, e se torna o terceiro governador negro da história dos Estados Unidos. Cox tinha o apoio do ex-presidente Donald Trump.

Moore, um político que é ex-executivo de uma entidade sem fins lucrativos e escritor, emergiu nas primárias do Partido Democrata com o apoio de nomes como Oprah Winfrey. A campanha focou nas propostas de erradicação da pobreza, mais investimento do Estado e projetos de transporte público e energia renovável.

A democrata Maura Healey foi eleita governadora de Massachusetts ao lado de sua vice, Kim Driscoll, marcando a primeira vez que qualquer Estado americano elege uma chapa com duas mulheres para os cargos ao mesmo tempo. Healey é também a primeira mulher abertamente lésbica a ser eleita governadora nos EUA.

O governador da Flórida, Ron DeSantis (republicano), conquistou a reeleição, segundo a projeção da Associated Press. A vitória consolida o poder republicano no Estado, que já foi mais disputado. Ele derrotou o democrata Charlie Crist. DeSantis se tornou governador em 2018 após uma disputa acirrada, na qual terminou com 32,4 mil votos a mais. A margem exigiu uma recontagem, que confirmou o resultado.

Ao contrário de outros candidatos, Ron DeSantis fez campanha sem buscar a direita moderada e apelou a uma “guerra cultural” para combater a “esquerda”. Durante a crise de coronavírus, se posicionou contrário à opinião de especialista em saúde pública. Mas sua vitória foi tão retumbante que ele virou o Condado de Miami-Dade, que não votava em um candidato republicano a governador havia duas décadas.

A ex-secretária de imprensa da Casa Branca do governo Trump Sarah Huckabee Sanders foi eleita governadora do Arkansas. Ela ocupará o cargo que seu pai ocupou por uma década.

Na Geórgia, a democrata Stacey Abrams reconheceu a derrota para o atual republicano Brian Kemp, encerrando uma disputa amarga e de alto nível que começou na disputa de 2018.

Kemp, que liderou o Estado enquanto seu partido controlava ambas as câmaras da Assembleia Geral da Geórgia, fez campanha pelas vitórias políticas conservadoras de seus últimos quatro anos, incluindo a renúncia às orientações de saúde pública para manter os negócios da Geórgia abertos durante a pandemia de covid-19 e aprovar legislação que permitiria que os residentes do Estado comprassem uma arma de fogo sem autorização. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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