
Arquitetos e construtores do ABC seguem na luta para emplacar uma lei específica que permita o funcionamento do retrofit – modelo de revitalização de construções antigas para atualização e modernização. O presidente da Acigabc (Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC), Milton Bigucci Júnior, junto do arquiteto e gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Ênio Moro, diz já ter adotado providências para articulação do projeto, que promete redução nos custos e melhoria das edificações.
Segundo Bigucci, em abril deste ano foram protocolados os primeiros pedidos para criação de uma série de leis em Santo André, São Bernardo e São Caetano. No documento, o empresário detalha a importância do retrofit, em razão da grande quantidade de prédios e espaços desativados na região. “Entendemos a importância de encontrar um destino melhor para esses espaços abandonados e, por isso, estamos nessa luta. Poderíamos utilizar estes locais de uma forma melhor e mais digna, com destinação para hospitais, escolas, equipamentos de cultura, enfim, uma série de opções”, afirma.
Até o momento, seis meses depois de protocolar os pedidos de lei específica, o empresário diz que não houve mudanças significantes, mas que enxerga algumas movimentações dentro das prefeituras diante do pedido. “Em Santo André e São Caetano já percebemos que há algumas movimentações, mas esperamos que deva sair algo para o ano que vem, já para o início do ano. Por agora, em razão das eleições, acredito que não vão ‘aquecer’ o assunto”, salienta.
O professor de Arquitetura, Ênio Moro, defende que as práticas do retrofit são sustentáveis e que não custam muito ao poder público, ao contrário, podem gerar substancial economia, além de fomentar os municípios. “Um espaço retrofitado pode garantir economia de 20% nos gastos. Quem realiza esse processo no seu edifício aumenta a qualidade e valoriza não só as construções, mas, principalmente, o seu entorno, ao transformar áreas degradadas em ambientes favoráveis ao desenvolvimento”, diz.
A etimologia da palavra retrofit (do latim – retro, e do inglês -fit), significa “colocar o antigo em forma” e, segundo o professor, este termo cada vez mais tem sido comentado no mercado da construção civil, por oferecer o aumento da vida útil nos espaços e valorização do entorno. “O retrofit surgiu e foi popularizado na Europa, devido às construções feitas há muitos anos. É comum que, no exterior, haja recuperação de edifícios desgastados para criação de novos espaços de moradia, preservação do patrimônio histórico, e não vejo do porque isso não acontecer aqui, no ABC”, salienta.
Para além do entorno e da vida útil do espaço, alguns dos grandes benefícios da renovação dos edifícios antigos é a economia de água e energia, visando a sustentabilidade ambiental – já que em geral os equipamentos modernos consomem menos recursos naturais; menos ocupações nas cidades e melhora no quesito da segurança pública no entorno dos edifício desativados.
Dispensa de projeto
O RD questionou as prefeituras do ABC para saber se há algum projeto previsto voltado ao retrofit. Das sete cidades, somente duas responderam. Diadema informou, em nota, que o assunto “não foi pautado pela administração”, em razão da ausência de prédios de valor arquitetônico suficientes para receber o tipo de projeto. Apesar disso, informa que “se coloca à disposição”, para discussão do tema caso empresas privadas estejam interessadas em revitalizar estruturas públicas com o modelo. Já São Caetano, por meio da Seohab (Secretaria de Obras e Habitação), diz que o retrofit “está em estudo” na cidade, mas até o momento sem definição.

Shopping Nova Estação
Em Mauá, o retrofit é aplicado na multidisciplinaridade do Shopping Nova Estação Mauá, que se encontra em construção integrado ao Terminal Rodoviário e a Estação de Trem (que já estão no local). Na ocasião, o retrofit está associado a essa combinação de uso para os equipamentos comerciais de grande porte da cidade.
De acordo com a administração do shopping, as atualizações vão além da troca de acabamentos. Envolvem também um complexo mais dinâmico e viável para a população, em funcionamento todos os dias da semana. “Ou seja, o que antes era só o transporte público, agora será com serviço e lazer”, explica Jayme Lago Mestieri, arquiteto do projeto do Shopping Nova Estação Mauá.
Antes, o Terminal Rodoviário, a Estação de Trem de Mauá e algumas lojas/quiosques trabalhavam bem distantes umas das outras. Com a qualificação via retrofit, os equipamentos foram completados com o terreno fértil para novos negócios e posições, a fim de atender uma demanda que já existia. “A praça, por exemplo, agora terá um aspecto de passeio e destino que há muito tempo não tinha. O varejo será mais qualificado, com mais segurança aos empreendedores e aos clientes. Para completar o ‘combo’, a circulação entre os modelos de transporte já existentes e em funcionamento no local agora permanecerá dentro de uma comodidade e funcionalidade singulares”, frisa o arquiteto.
Com a construção iniciada em novembro de 2021, o Shopping Nova Estação Mauá será integrado ao Terminal Rodoviário principal e à Estação de Trem da Linha 10-Turquesa, com inauguração prevista para março de 2024.