
O preço dos combustíveis na região caiu mais de 35% desde julho e o reflexo disso é que os postos de combustíveis estão vendendo mais e quem trabalha com o veículo, seja no transporte de passageiros ou de cargas, está mais aliviado. Porém um dos fatores que levaram à queda dos preços foi a medida federal que cortou os impostos federais sobre a gasolina e o etanol e ainda estabeleceu teto das alíquotas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado pelos estados sobre os produtos, mas a medida tem validade apenas até 31 de dezembro, e isso deixa também consumidores e empresários apreensivos com uma possível volta do preço alto nas bombas.
Hygor Cardoso, que é motorista de aplicativo disse que chegou a pagar R$ 8 pelo litro da gasolina em julho, agora está pagando R$ 4,50. Para ele o corte de uma da principais despesas do seu negócio dá mais tranquilidade para o trabalho. “Ajudou sim, sobra um pouco para a manutenção do carro e nos anima mais a trabalhar”, diz o motorista que, como muitos, teve dificuldades por conta do preço do combustível ao longo do ano.
Perguntado se acredita que, à partir de janeiro, os preços voltem a subir, Cardoso disse que sim. “Isso é o que mais se fala entre os colegas. Eu acredito que pode voltar a aumentar e ficar até mais caro, por isso temos que aproveitar agora porque depois não se sabe o que vai acontecer”, diz o motorista de aplicativo. Hygor Cardoso disse ainda que apesar da sua margem ter aumentado, o número de corridas diminuiu e ele avalia que, pelo negócio ter voltado a ser atraente para quem está desempregado, há mais motoristas nas ruas.

O motorista de caminhão Marcos Dias Santos, sempre trabalhou nesta área, a atividade ele herdou do pai. Mas no meio deste ano as condições de trabalho estavam bem difíceis. Hoje ele paga em média R$ 7 o litro do diesel, mas já chegou a pagar R$ 8,50 em julho. Ele conta que outra ajuda é o auxílio pago para os caminhoneiros pelo governo federal. “Já recebi duas parcelas e ajuda muito. Quanto ao valor do diesel está variando muito de região para região, aqui no ABC estou pagando em média R$ 7”, diz o caminhoneiro que roda por dia cerca e 500 quilômetros e que calcula que o gasto com combustível representa quase 50% dos seus custos.
Com o caminhão, Santos sustenta a esposa, os três filhos e a primeira netinha. O caminhão, que ele gosta de chamar de escritório, garante tudo que a família precisa, foi até o veículo que levou ele e a esposa para o casamento. A celebração da união do casal foi uma promessa que Santos fez a esposa Edvania, quando estava internado no ano passado com covid-19. Ele esteve em estado grave, foi intubado e ficou 20 dias em unidade de terapia intensiva. “Foi um milagre, acordei depois de 14 dias e soube que todos os que estavam nos leitos à minha volta não resistiram”, comentou. Outro sonho que Santos quer realizar, está previsto para março de 2023, quando vence a última prestação do ‘escritório’, um Ford Cargo ano 2011. Animado, Marcos faz planos para o futuro. “Do jeito que está (o preço do combustível) dá para viver”, completa.
Postos
Segundo o Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do ABCDMRR), o preço médio da gasolina no ABC hoje é de R$ 4,50, uma redução de 35,71% sobre os R$ 7 que o produto chegou a custar em julho. Já o etanol está custando em média R$ 3, redução de 40% sobre os R$ 5 que eram cobrados há dois meses.

Roberto Leandrini Júnior, presidente do Regran, diz que depois da redução de preços o movimento nos postos aumentou. “Melhorou entre 20% e 30% e só não está melhor porque o mercado não está muito comprador. Acho que a tendência é continuar assim porque o cenário é recessivo no mundo todo, por isso o preço do barril de petróleo está caindo. A única coisa que pode mudar isso é a guerra (entre Rússia e Ucrânia)”, analisa o empresário.
Leandrini Júnior compartilha a incerteza dos motoristas sobre o que será do mercado após término da validade, no fim deste ano, da medida que cortou impostos federais e estabeleceu teto para o ICMS nos combustíveis. Porém ele acredita que, se o mercado exterior continuar como está, não haverá um aumento muito grande. “Não vai chegar a R$ 7 como já custou a gasolina. Com a volta do ICMS ao normal de 25% (hoje está em 17% no Estado de São Paulo) se aumentar só isso ainda vai estar bom”, analisa.
Apesar de considerar que a margem de lucro do setor ainda é muito pequena, fazendo o empresariado agregar outros tipos de vendas e serviços aos postos, como lojas de conveniência, farmácia, bomboniere, barbearia ou floricultura, Roberto Leandrini Júnior acredita que esse é o melhor momento do ano para o segmento. “Melhorou pouca coisa, mas o momento é positivo”, completa.