Os trabalhadores da Mercedes-Benz, em São Bernardo, decidiram cruzar os braços nesta quinta-feira (08/09) em protesto contra as demissões de 3,6 mil operários, divulgada pela empresa. Em assembleia realizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, os funcionários da montadora decidiram parar as máquinas pelo menos até segunda-feira (12/09).
A empresa anunciou na última terça-feira (06/09), de que pretende demitir 2,2 mil trabalhadores das áreas de logística, manutenção, ferramentaria, laboratórios, fabricação de eixos e transmissões de caminhões médios, e 1,4 mil trabalhadores com contratos temporários. O presidente do Sindicato e trabalhador na Mercedes, Moisés Selerges, disse ao RD que ficou agendada para a próxima terça-feira (13/09), uma nova reunião quando o sindicato levará as propostas dos trabalhadores para negociação. “É uma negociação bem difícil, mas esperamos encontrar um bom caminho para que todos os lados saiam com um acordo favorável. Os trabalhadores encontraram muita força, garra e disposição ao final da assembleia, e estamos esperançosos para uma tratativa com a Mercedes”, diz.
Questionado a respeito do comunicado sobre as demissões, o presidente do sindicato alega que a montadora “queimou a largada” e assustou os trabalhadores. “Deram esse depoimento sobre as demissões e simplesmente queimaram a largada. Assustaram os trabalhadores sem que houvesse um diálogo, uma troca com quem está com a mão na massa, na produção. Esperamos esclarecer todos esses pontos na próxima conversa, com os representantes da empresa”, salienta.
Em nota enviada na última quarta-feira (07/09), o governo do Estado informou que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico estaria dialogando com a montadora, e “se colocou à disposição da empresa e da categoria”. No entanto, Selerges diz que, até o momento, nem o poder público municipal, nem o Estado buscaram ajudar na luta da permanência dos metalúrgicos na empresa do ABC. “Estamos de portas abertas para receber qualquer tipo de ajuda, mas até agora ninguém se manifestou sobre o assunto”, disse.
O sindicalista disse que a mobilização é um recado para o novo presidente da montadora. “Precisamos mostrar que um processo de negociação se faz em torno de uma mesa. Muitas vezes num processo de negociação não vai prevalecer tudo que o sindicato quer, mas também não vai prevalecer tudo o que a empresa quer”. O dirigente lembrou ainda a incoerência do comunicado, já que até a semana passada pessoas estavam sendo contratadas. “Então como é que funciona, contrata em uma semana e na outra solta um boletim dizendo que tem que demitir? Isso não é lógico, não é racional”.
A mobilização desta quinta-feira foi aprovada por cerca de 6 mil metalúrgicos presentes na assembleia. Hoje a planta da Mercedes-Benz em São Bernardo conta com cerca de 9,5 mil trabalhadores, sendo cerca de 6 mil na produção.
Agência
Para o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC, Aroaldo Oliveira da Silva, que também é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e acompanhou as negociações e a assembleia desta quinta-feira (08/09) o objetivo da paralisação é mostrar que os trabalhadores e o sindicato estão prontos para negociar. Silva lembrou de negociação com a Mercedes-Benz em 2014, que chamou de “negociação pelo futuro da fábrica”. Para o dirigente, agora faltou diálogo para entender qual é a dificuldade da empresa. “Queremos entender os detalhes do plano da empresa”
A Agência tem realizado neste ano reuniões com diferentes setores da indústria do ABC, criando o Fórum da Indústria. “Essa situação da Mercedes mais do que reforça o trabalho da Agência de mostrar a necessidade dos atores terem um trabalho articulado e de discussão da política industrial, uma política clara que vai mostrar os próximos passos”. Aroaldo também descreveu como estavam os trabalhadores na empresa nesta quinta-feira. “O clima estava muito tenso na fábrica, então a gente já começou com a paralisação para dar uma resposta, começamos dando sinais para a empresa não achar que vai vir com o prato pronto que não vamos aceitar, vamos brigar”, completou.
Colaborou Amanda Lemos