ABC - domingo , 1 de dezembro de 2024

35 anos depois, ‘Sandman’ se tornou atual, analisa Neil Gaiman

Neil Gaiman gosta de dizer que, por 30 anos, sua missão foi impedir que más adaptações de Sandman chegassem ao cinema e à televisão. Mas, em 2020, a obra que ele escreveu a partir de 1989 e que ajudou a mudar a percepção do que eram histórias em quadrinhos restava como uma das únicas grandes propriedades da DC a não ter versões para as telas. Fora isso, Game of Thrones e outras tinham provado que era possível fazer séries com efeitos especiais. E é assim que, finalmente, Sandman chega, na sexta, 5, à Netflix.

Neil Gaiman participou de todo o processo, colaborando de perto com o showrunner Allan Heinberg. A primeira temporada é baseada nos dois primeiros volumes, Prelúdios & Noturnos e Casa de Bonecas. No centro da história está Sandman (Tom Sturridge), ou Sonho, que governa o mundo visitado ao dormir e é membro da família de Perpétuos, que inclui Morte (Kirby Howell-Baptiste), Desejo (Mason Alexander Park) e Desespero (Donna Preston), entre outros. Sonho é raptado e fica preso por mais de cem anos. Quando finalmente consegue escapar, retorna para seu reino, o Sonhar, que passou por muitas transformações. Começa então sua jornada para restaurá-lo.

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Sandman toca em temas como morte, mudança, poder, esperança, criação de narrativas, beleza e dor de ser humano. “Eu sinto que é uma história sobre a humanidade”, disse a atriz Vanesu Samunyai, que interpreta Rose Walker, uma jovem em busca do irmão desaparecido e peça fundamental na sobrevivência do mundo real e do Sonhar. “É um grande espelho que nos mostra quem somos, mas de uma maneira bem grandiosa e divertida.”

Gaiman disse que não foi necessário fazer muitas modificações no material original. “Fiquei surpreso ao voltar aos quadrinhos que eu comecei a escrever em 1987 e perceber como poucas coisas precisavam ser alteradas para torná-los atuais”, disse Neil Gaiman em entrevista ao Estadão. “De várias maneiras estranhas, Sandman estava à frente de seu tempo, o que significava que tivemos de fazer menos cirurgias do que imaginávamos para torná-lo relevante agora.”

Elenco

Desde o anúncio do elenco, houve muitos comentários sobre pessoas não brancas e mulheres fazendo personagens que eram brancos e homens nos quadrinhos. Por exemplo, Lúcifer, inspirado em David Bowie, é vivido por Gwendoline Christie. John Constantine agora é Johanna e vivida por Jenna Coleman. O bibliotecário Lucien é Lucienne (Vivienne Acheampong) e Morte é uma mulher negra. “Neil sempre esteve muito conectado com a realidade de nosso mundo”, disse Gwendoline Christie. “Então temos um elenco fantástico e diverso, tipos diferentes de vozes. E isso é empolgante para mim. É o que eu quero assistir.”

Gaiman disse que a ideia foi ampliar possibilidades. “Olhávamos os quadrinhos e perguntávamos: aqui temos um homem branco. Ele precisa ser homem? Precisa ser branco? Às vezes a resposta era sim. E às vezes, não”, contou. Lucien, por exemplo, é uma entidade milenar que lá atrás foi o primeiro corvo de Sonho. Não havia razão para ser branco, nem homem. “Sob nosso ponto de vista, isso significava que podíamos ver mais atores para o papel, de diferentes gêneros e tons de pele”, disse Gaiman. O mesmo aconteceu com Morte. “Não foi uma escolha de levantarmos uma bandeira e marcharmos pela diversidade.”

O autor sabe que tem gente chiando e vira e mexe rebate algum fã no Twitter. “Não fico chateado. O que digo é: Não se preocupe, nós sabemos o que estamos fazendo. Se você assistir, vai perceber isso.”

Tom Sturridge também compreende os fãs, por ser um deles. “Nossa versão é feita por Neil Gaiman. Não é algo que ele passou para alguém. É a versão dele”, disse o ator. “A responsabilidade de interpretar Sonho foi um peso, mas de uma certa forma conecta-se à responsabilidade de Morpheus com os sonhos de todos. Minha responsabilidade era para com os sonhos dos fãs de Sandman. Não é comparável no tamanho, mas é uma chave para entender o personagem.”

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