ABC - terça-feira , 7 de maio de 2024

Funai vive dança das cadeiras e 3 dirigentes renunciam a cargos em duas semanas

Em crise desde o começo da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), a Fundação Nacional do Índio (Funai) vive uma dança das cadeiras. Nas últimas duas semanas, ao menos três dirigentes deixaram seus postos. O último a sair foi o delegado da Polícia Federal César Augusto Martinez, até então diretor de Proteção Territorial da Funai.

Segundo servidores, o abandono contínuo dos cargos de chefia é resultado do estilo pessoal do presidente da Funai, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, que seria incapaz de formar e manter equipes.

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Martinez tinha sob sua alçada a Coordenação de Indígenas Isolados e de Recente Contato, setor no qual trabalhou o indigenista Bruno Pereira, desaparecido desde domingo no Vale do Javari (AM). Ele deixou o cargo nesta quarta-feira, 08/6, mas sua saída já estava prevista e não tem relação com o desaparecimento de Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, que viajava com ele.

Pereira pediu licença não remunerada da Funai em janeiro de 2020, depois de ser removido da coordenação de Indígenas Isolados em outubro de 2019. Sua exoneração foi assinada pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça, à época em que o ex-juiz Sérgio Moro era o titular, Luiz Pontel de Souza.

Desde então, o indigenista atuava na União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Para servidores da Funai, o desaparecimento de Pereira poderia ter sido evitado se ele estivesse trabalhando com o auxílio do aparato de Estado.

Além de Martinez, também deixaram os cargos, recentemente, o coordenador de Gestão Estratégica da Funai, João Francisco Goulart dos Santos, e o coordenador-geral de Promoção dos Direitos Sociais, Oscar Homero de Lima Marsico. Para uma indigenista, que opinou na condição de anonimato, os episódios demonstram que Xavier não consegue montar equipe.

Para o lugar de Martinez, a Funai designou uma servidora que já havia trabalhado como assessora de Marcelo Xavier. Em entrevista à Voz do Brasil, no começo da noite desta quarta-feira, 8, Xavier destacou que a exoneração de Martinez já estava prevista há mais de 30 dias, e não tem relação com o desaparecimento de Pereira.

Servidores que eram subordinados a Martinez contaram que ele estava rompido com o presidente da Funai. O estopim para a saída teria sido o atrito com o chefe. Os dois se desentenderam depois que uma operação da Polícia Federal, no fim de março, prendeu um coordenador da Funai em Ribeirão Cascalheira (MT), o militar da reserva da Marinha Jussielson Gonçalves Silva.

Jussielson foi acusado de envolvimento com milícias e de intermediar o arrendamento de terras indígenas para pecuaristas na região. Martinez culpou Xavier pela nomeação de um militar supostamente corrupto e por não ter checado a ficha dele antes de indicá-lo. Procurado, Jussielson não foi encontrado até a publicação desta reportagem.

No dia 25 de maio, saiu publicada no Diário Oficial da União a exoneração, a pedido, de Goulart dos Santos. Policial militar aposentado do Rio Grande do Sul, Santos integrou a Força Nacional e trabalhou com gestão estratégica no Ministério da Justiça. Era considerado um dos mais preparados na Funai. Deixou o posto de coordenador de Gestão Estratégica sem explicar os motivos nem mesmo aos subordinados diretos. O Estadão conversou com um indigenista que trabalhava com ele. A saída de Santos foi descrita como “abrupta”.

Seis dias depois, quem entregou o cargo foi Lima Marsico. Tenente do Exército, Marsico é paraquedista, como Jair Bolsonaro. Atuou na missão de paz das Nações Unidas no Haiti (Minustah) e, na Funai, era o responsável por montar a operação para a entrega de cestas básicas aos indígenas. Pediu para deixar a cadeira de coordenador-geral de Promoção dos Direitos Sociais alegando razões de cunho pessoal. Procurada pela reportagem, a Funai não respondeu.

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