Nesta segunda-feira (21/02), data em que aconteceria o júri dos cinco acusados de matar e carbonizar a família Gonçalves, crime ocorrido em janeiro de 2020, uma das testemunhas arrolada tanto pela defesa como pela acusação não compareceu e não foi localizada. Como a defesa dos réus não abriu mão do depoimento, o juiz Lucas Tambor Bueno, da Vara do Júri de Santo André, determinou adiamento do julgamento que ficou marcado para o dia 13 de junho, às 10h.
No dia 28 de janeiro de 2020 os corpos de Flaviana de Meneses Gonçalves, do seu marido Romoyuki Veras Gonçalves e do filho do casal Juan Victor Meneses Gonçalves, de apenas 15 anos, foram encontrados carbonizados no carro da família, um Jeep Compass, incendiado na Estrada do Montanhão em São Bernardo. A polícia concluiu que as vítimas foram mortas por golpes na cabeça e em outro local, na casa da família, em um condomínio de casas que fica em Santo André. Durante as investigações, a polícia apurou que a filha mais velha das vítimas, Anaflavia Martins Meneses Gonçalves, sua companheira na época, Carina Ramos de Abreu, os primos de Carina, Juliano Oliveira Ramos Júnior e Jonathan Fagundes Ramos e ainda o amigo deles, Guilherme Ramos da Silva, teriam cometido o crime para roubar R$ 85 mil que estariam no cofre da casa, dinheiro que não foi encontrado. Os cinco réus foram denunciados por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e roubo.
A movimentação começou cedo na porta do fórum de Santo André, com a família das vítimas, que organizava um ato de protesto do lado de fora, com cartazes e camisetas com fotos das vítimas. Apenas a mãe de Flaviana, Vera Lúcia Chagas Conceição, foi autorizada a entrar no plenário. O restante dos familiares e amigos das vítimas ficaram do lado de fora com camisetas e cartazes pedindo justiça. Quando os carros da Secretaria de Administração Penitenciária chegaram com os réus foram ouvidos vários gritos de “assassinos”.
O adiamento do julgamento frustrou a família. Dona Vera desabafou logo na saída do fórum. Ela veio de Minas Gerais, onde mora, para acompanhar o júri. “Fiquei indignada, uma falta de respeito, de consideração. Os advogados de defesa já estavam planejando isso desde antes da gente entrar, porque eu ouvi. Eles já queriam melar e melou. Essa testemunha da defesa que não veio estava na Moóca (bairro da Capital paulista), daqui para lá é rapidinho. Mas eu não vou desistir, estou mais preparada ainda”, disse.
Defesa
O advogado Sebastião Siqueira Santos Filho, que defende Anaflavia, disse que o depoimento da testemunha, cujo nome não é revelado, pois é protegida por lei, era imprescindível para o caso. “Quando essa testemunha prestou o primeiro depoimento em juízo foi de extrema importância”, disse ao justificar a necessidade da oitiva para o caso. Santos Filho disse pretende fazer uma defesa técnica e mostrar “o outro lado” do crime. “Ela (Anaflavia) tem a sua culpa e tem que responder pelo que fez, o roubo, mas não as mortes. O crime em si chama muito a atenção porque envolve uma família, mas vamos fazer uma defesa imparcial e justa”.
A defesa de Anaflavia pediu uma perícia médica para analisar a sanidade mental da acusada. “Precisamos saber se ela estava em boas condições das suas faculdades mentais porque a Carina (Ramos) é manipuladora. O objetivo é mostrar a verdade”, concluiu.
O advogado Leonardo José Gomes, que defende o réu Guilherme Ramos, disse também que o júri não poderia ocorrer sem a testemunha protegida. “Eu fui o primeiro a arguir pela redesignação e ameacei abandonar o plenário. Essa testemunha tem muito a dizer sobre o Jonathan e o Juliano, pois sabia que eles iam fazer uma ‘fita’, conforme disseram à polícia”.
A advogada Alessandra Jirardi, que representa os primos Juliano e Jonathan, também concordou que o depoimento da testemunha protegida é importante para a defesa dos réus. “Foi através deste depoimento que se chegou a grande parte da autoria. Tentou-se de tudo, contato telefônico, o juiz esperou até as 14 horas, por fim saiu a redesignação para junho”, explica. A advogada disse que entende a revolta dos familiares das vítimas e se solidariza com eles, mas diz que os advogados não devem ser alvo de críticas. “Estamos lá para garantir que a justiça seja feita, se não for eu, será outro advogado”, comentou sobre os protestos em frente ao Fórum.
A tese da defesa dos primos é a de que eles foram até a casa da família Gonçalves para roubar, que não havia plano para matar a família. “Tanto que eles foram de touca ninja, não tinha porque matar ninguém. Eu acredito que eles devem ser condenados pelo roubo e pela ocultação de cadáver e quem deve responder pelos homicídios é a Carina”, comentou a defensora.
O advogado Ayrton Pereira Gabira Júnior, que representa Carina, disse apenas que o depoimento da testemunha era “imprescindível” para a defesa.
Acusação
O advogado Epaminondas Gomes de Farias, que representa Dona Vera e a família das vítimas, e que vai atuar no júri como assistente de acusação ao lado do Ministério Público, disse que a decisão do juiz foi justificada. “Foi mais na esfera da prudência do que qualquer outra coisa. Trata-se de uma testemunha que foi devidamente intimada, teve a oportunidade de vir e não sei porque não veio, sendo que da outra vez foi espontaneamente até a sede do Deic (Departamento de Investigações Criminais). Eles (advogados de defesa) insistiram na presença da testemunha e a gente respeita, pois é a estratégia da defesa, mas eles têm 40 anos para fazer manobras no processo”, disse o advogado convicto da condenação dos réus.
Diogo Reis, primo de Flaviana, protestou quando da fala dos advogados de defesa. “Eles nunca foram lá para roubar, foram para matar. Mataram pai, mãe e filho; elas são assassinas”, disse durante o protesto em frente ao fórum de Santo André.