ABC - quarta-feira , 1 de maio de 2024

Terreno em Diadema é ocupado por 150 famílias que lutam contra a fome

Cerca de 150 famílias ocuparam terreno abandonado no Serraria e Prefeitura abriu diálogo (Foto: Adriano Tomé)

Desde a noite da última sexta-feira (13), cerca de 150 famílias sem-teto ocupam um terreno abandonado, no bairro Serraria, em Diadema. A ação levanta bandeira para a necessidade de moradia digna, a luta contra fome, o desemprego e para o descontentamento das famílias com o governo federal.

Batizada pelos integrantes como Ocupação Devanir José de Carvalho, a ocupação faz homenagem a um grande lutador popular, operário e líder sindical do ABC, que lutou contra a ditadura militar no Brasil. Torturado e assassinado pelo estado militar, Devanir segue, até hoje, com seu corpo desaparecido.

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Organizadas pelo MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), as famílias são compostas, majoritariamente, por mulheres negras e mães, trabalhadoras, crianças e idosos. “Todos que têm vivido sob o mesmo fardo: a falta de moradia, desemprego, a fome e o descaso com o governo federal, que cada vez mais vem piorando a situação dessas pessoas”, afirma a coordenadora do movimento, Victoria Magalhães.

Segundo ela, cerca de 200 mil famílias não moram dignamente no ABC, sendo que mais da metade destes lares, enfrentam insegurança alimentar e 15% da população segue desempregada. “Os preços de produtos aumentaram, o gás, contas de luz e água, aluguel, tudo está mais caro. Com o desemprego fica praticamente impossível arcar com todos esses gastos e, para piorar, a fome também entra em discussão”, enfatiza a coordenadora.

Nesta, que é a 6ª ocupação do grupo na cidade, os integrantes denominam a ação como “território livre da fome”. No espaço construído pelas famílias – de forma coletiva -, além de existir teto sobre suas cabeças, os integrantes montam creche para as que as crianças recebam cuidados e há, ainda, a cozinha solidária, para fornecer alimentação para os moradores. “Temos esse espaço que chamamos de cozinha solidária/coletiva, ao qual as pessoas ajudam com os alimentos e o preparo das refeições”, explica Victória.

Para ela, a ação é uma resolução paliativa para os desafios que a população enfrenta atualmente. “Não é uma solução definitiva, mas é uma forma de resolver temporariamente os problemas que essa população enfrenta, e que são piorados nesse período de pandemia”, diz ao frisar que para agravar ainda mais a situação, o governador João Doria (PSDB) vetou a PL que suspenderia as reintegrações de posse e despejos durante a pandemia, deixando milhares de famílias sob ameaça de perder suas casas diante do alto custo dos alugueis e remoções irregulares.

“Estamos em meio a maior crise sanitária da história. Esse  veto mostra o total descaso do poder público com o povo brasileiro”, destaca a coordenadora ao citar que durante a pandemia mais de 14,3 mil famílias foram despejadas no Brasil, destas mais de 3 mil somente na cidade de São Paulo.

Na região, representantes do movimento se reuniram com a Secretaria de Habitação de Diadema neste sábado (14), que firmou novo compromisso para segunda-feira (16) para definir o futuro das famílias na cidade. “O secretário de Habitação veio aqui hoje e fizemos mesa de diálogo, em que abrimos uma nova conversa para a semana. Estamos negociando com a prefeitura, mas em avaliação do que será melhor para as famílias”, salienta Victória.

Em nota, a Prefeitura de Diadema informa que “sempre tratou a questão da habitação como uma de suas prioridades”. De janeiro até o momento, informa que foram entregues 83 unidades habitacionais e regularizou outras 220 moradias. “Em relação à área ocupada nesta sexta-feira, a gestão prontamente se colocou à disposição para o diálogo. O local, no entanto, já havia sido destinado anteriormente para a construção de moradias. Os futuros moradores, aliás, já estão compromissados com o financiamento de suas residências”, diz.

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