ABC - terça-feira , 28 de maio de 2024

Municípios negam aplicação de vacina vencida conforme aponta lista do SUS

Quadro mostra as unidades que, segundo o DataSus tiveram vacinas vencidas aplicadas na região.

Quase 26 mil vacinas contra a covid-19 da fabricante Astrazeneca foram ministradas no país fora da data de validade. Segundo o Jornal Folha de São Paulo publicou, com base em dados oficiais do DataSUS (sistema de informações do Ministério da Saúde), 46 destas doses teriam sido aplicadas em seis cidades do ABC, apenas Rio Grande da Serra ficou fora da lista. A maior parte, 12, foi teria sido aplicada em São Bernardo, em Mauá 14, Santo André teve 11 aplicações, Diadema foram 3, São Caetano duas e Ribeirão Pires, uma dose. Os municípios se apressaram em divulgar notas para contrapor o levantamento e negam ter aplicado vacina fora prazo de validade.

Os lotes são: 4120Z001 (vencimento em 29/03), 4120Z004 (13/04), 4120Z005 (14/04), CTMAV501 (30/04), CTMAV505 (31/05), CTMAV506 (31/05), CTMAV520 (31/05) e 4120Z025 (04/06). Os oito lotes representam 3,9 milhões de vacinas, mas apenas uma parte deste volume, 25.935 foi aplicada após o prazo de validade.

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A prefeitura de Ribeirão Pires, apesar do levantamento mostrar que uma dose vencida foi aplicada na cidade, sustentou em nota que ninguém recebeu fora da validade. Informou que recebeu no dia 26/01/2021 o lote 4120Z005 da vacina Astrazeneca com vencimento em 14/04/2021 e destinou aos profissionais da Saúde durante o mês de fevereiro. “Ribeirão Pires é exemplo na imunização. A população pode ficar tranquila, que todas doses recebidas são destinadas à imediatamente à população, por isso, não aplicamos nenhuma dose vencida”, tranquilizou Audrei Rocha, Secretário Municipal de Saúde. A cidade informou que não recebeu os demais lotes apontados com aqueles cuja validade venceu.

Santo André também discorda dos números dizendo que não aplicou vacina vencida. “O município recebeu apenas vacinas do lote 4120Z005 da AstraZeneca com vencimento em 14 de abril e todas as doses deste lote foram aplicadas em tempo oportuno, ou seja, dentro do prazo de validade”, informou a prefeitura, em nota.

Diadema informou que o sistema do DataSus foi alimentado com dados errados e que já foi providenciada a correção. “A prefeitura de Diadema, por meio da Secretaria Municipal da Saúde, tranquiliza os moradores de que não há na cidade doses armazenadas fora da data de validade. Sobre as três doses aplicadas em unidades de Diadema que aparecem no sistema de consulta disponibilizado ao leitor, trata-se de erro de digitação e, já foi providenciada a correção no sistema. As doses recebidas no município foram todas aplicadas dentro do prazo de validade”.

São Caetano confirmou ter recebido um dos lotes citados, mas garantiu que aplicou todas as doses antes do vencimento. “A cidade recebeu apenas um dos lotes em questão: 4120Z005, no dia 26 de janeiro. Foi o primeiro lote de Covishield (Astrazeneca) que a cidade recebeu, com 3.700 doses e vencimento no dia 14 de abril. Foram utilizados para vacinar profissionais da Saúde e parte do primeiro público alvo de idosos, entre janeiro e fevereiro”, informou a prefeitura.

Da mesma forma São Bernardo informou que recebeu um dos lotes citados, mas afirma as vacinas foram aplicadas dentro do prazo de validade. A Rede D`Or da qual o hospital Ifor faz parte divulgou nota negando a aplicação fora do prazo. “O Hospital IFOR informa que recebeu em janeiro deste ano os frascos do lote 4120Z005 da vacina da AstraZeneca, com validade até 14/04/21, e assegura que todas as doses foram aplicadas até o final de fevereiro. Ou seja, dentro do prazo de validade”, diz o informe.

Mauá sustenta que dos lotes considerados suspeitos, o município recebeu apenas o 4120Z005, em 26 de janeiro deste ano. “Essas vacinas tinham prazo de validade até 14 de abril. Todas as doses foram aplicadas até 5 de março, portanto, um mês e nove dias antes do vencimento. A Prefeitura de Mauá esclarece que o engano deve ter ocorrido em razão de problemas no lançamento de dados no sistema do VaciVida, do governo estadual. As datas de registro da vacinação de apenas 15 moradores (os que teriam sido imunizados com doses vencidas) ocorreu posteriormente à aplicação das doses, quando as vacinas já teriam passado do prazo de validade. A Secretaria Municipal de Saúde está levantando as informações para identificar o o ocorrido no lançamento das vacinas no sistema estadual”, informou a prefeitura.

Em nota, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pelo envase da Astrazeneca no país, diz que os lotes não foram fabricados no Brasil, mas vieram da Índia. “Fiocruz esclarece que os referidos lotes não foram produzidos pela instituição. Parte dos lotes (com numeração inicial 4120Z) é referente aos quantitativos importados prontos do Instituto Serum, da Índia, chamada de Covishield, e entregues pela Fiocruz ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde (MS) em janeiro e fevereiro deste ano. Os demais lotes apontados foram fornecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS)”, informou em nota publicada no seu canal oficial.

A fundação informou ainda que as doses estavam dentro da validade. “Todas as doses das vacinas importadas da Índia (Covishield) foram entregues pela Fiocruz em janeiro e fevereiro dentro do prazo de validade e em concordância com o MS, de modo a viabilizar a antecipação da implementação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19, diante da situação de pandemia. A Fiocruz está apoiando o PNI na busca de informações junto ao fabricante, na Índia, para subsidiar as orientações a serem dadas pelo programa àqueles que tiverem tomado a vacina vencida”.

O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e o Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) divulgaram um uma nota em conjunto informando que os órgãos vão cobrar apuração dos casos. “Todos os casos sobre aplicação de doses contra a covid-19 fora do prazo de validade serão investigados; não está descartado erro do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, que desde o início da Campanha de Vacinação apresenta instabilidade no registro dos dados; o número de casos identificados corresponde a 0,0026% de todas as doses aplicadas no País, sendo necessárias ponderação e investigação quanto à aplicação das doses e preenchimento das informações. Por fim, ressaltamos que todos os profissionais destacados pelos municípios para aplicação das vacinas adotam as boas práticas de vacinação, dentre as quais, a checagem do prazo de validade”, diz a nota assinada por Carlos Lula, presidente do Conass, e por Wilames Freire, que preside o Conasems.

O Ministério da Saúde, em nota, na noite desta sexta-feira (02/07), diz que “de acordo com o Plano de Operacionalização do Ministério da Saúde, os estados e municípios que eventualmente tenham aplicado vacinas vencidas devem fazer a busca ativa e monitorar os casos. As doses aplicadas não devem ser consideradas válidas. A recomendação é que a vacina seja reaplicada com um intervalo de 28 dias”.

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