O Dia do Índio, celebrado nesta segunda-feira (19/04), é marcado pela luta e resistência dos povos indígenas, que sofrem, ano após ano, com o racismo, preconceito e perda de terras. Em entrevista ao RDtv, a indígena Avani, da tribo Fulni-o, de Águas Belas (PE), e Karai Mhamandu, da tribo guarani Mbya, aldeia Guyrapa-ju, de São Bernardo, relatam sobre os desafios enfrentados pelos povos tradicionais brasileiros e a importância da data.
Avaní, natural de Pernambuco (PE), vive há 32 anos em São Paulo, e está na terceira gestão dos povos indígenas na Capital. Apesar do tempo, diz enfrentar dificuldades com o convívio social. “Por aqui ainda enfrentamos muito preconceito, por ter vindo de outro estado, por ser de outra raça e, principalmente, por ser quem somos”, diz. “Por isso não considero que o Dia do Índio tenha motivos de celebração, mas sim de luta e resistência, por ser quem somos”, defende.
Segundo a indígena, a cada ano que passa, os povos mais tradicionais do Brasil sofrem com a perda de terras e, muitos morrem por perderem o pouco que tem por falta de adaptação. “Conforme o tempo passa, nós perdemos mais e mais terras por desapropriação ambiental e territorial. A terra é tudo para nós, tanto para nossa educação quanto para nosso convívio”, explica. “É nossa cultura particular, nosso recanto, e sem ela, não somos nada”, enfatiza.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que, até o ano de 2010, a população indígena brasileira correspondia a 817,9 mil pessoas no País, de 305 etnias diferentes, dos quais 502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras. Entre as sete cidades da região, pouco mais de 2,3 mil índios foram identificados.
Para Karai Mhamandu, da tribo guarani Mbya, da aldeia Guyrapa-ju, na região da pós-balsa em São Bernardo, o número poderia ser ainda maior, mas por conta da perda de terras nos últimos anos, houve redução no número. “Mais uma vez, o Dia do Índio é marcado por luta, resistência e lembrança daqueles que perderam suas terras ou que morreram sem elas”, diz. “Conforme o tempo passa, perdemos mais e mais, é uma luta sem fim para nós”, diz.
Segundo ele, a visão que se tem hoje sobre o Dia do Índio não retrata a realidade da população indígena. Algumas aldeias recebem visitas de turistas neste dia, e mostram aquilo de mais bonito, mas não retratam a realidade. “Mostram o que querem mostrar, mas não é o que de fato acontece. Vivemos uma luta diária por terra demarcada, por direitos iguais, para ter nosso espaço, para que possamos viver bem, sem preconceito, com nossa paz, e isso não acontece facilmente”, explica.
Especialmente no dia 19, ou em datas de celebração, o ritual é o mesmo em ambas as tribos: cultos nas aldeias e reuniões indígenas. “Nos reunimos na casa de reza junto com os mais velhos, acendemos cachimbos e fazemos nossos rituais tradicionais. Essa é a nossa celebração”, explica Mhamandu.
Já Avaní diz que, além dos rituais na tribo, enquanto está na cidade prefere ficar em casa e se recolher para celebração pessoal. “É um dia muito especial para mim, e por isso prefiro tirar a data para me resguardar e refletir tudo que enfrentamos”, explica.