Em menos de 30 dias, as internações por complicações da covid-19 no ABC dispararam 49,3%. Eram 109 pacientes internados nos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) até a primeira quinzena de novembro e até esta sexta-feira (20/11) já tinham 160, de acordo com as secretarias de Saúde da região. Quem puxou o salto foi Diadema, que atingiu o patamar de 60% de ocupação dos leitos de UTI quinta-feira (19/11), com 12 dos 20 leitos ocupados e 14 dos 30 leitos de enfermaria preenchidos, conforme apontou a Gestão de Enfrentamento da Covid-19 do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
Na sequência aparece Mauá, com a segunda maior taxa de ocupação do ABC. Dos 26 leitos de UTI disponíveis para atendimentos de casos mais agravados da doença, 14 já estão preenchidos, o que corresponde a 53,85%, enquanto 8 dos 23 leitos de enfermaria também já estão ocupados (34,78%), conforme aponta o TCE.
Já em São Bernardo, a ocupação dos leitos de UTI está em 47%, com 53 dos 111 leitos de UTI preenchidos. Nas redes sociais, o prefeito Orlando Morando fez um apelo para evitar o retrocesso na pandemia. “Em uma semana, nós saímos da taxa de ocupação da taxa de 30% para 46% […] Ou corrigimos ou as coisas vão piorar. Isso nos preocupa”, diz em vídeo.
Risco de fechar novamente
A cidade, que também atingiu picos nas ocupações dos leitos de enfermaria, com 131 leitos ocupados (46%), ameaça retroceder em uma das etapas do Plano São Paulo de flexibilização e caso a situação piore, poderá fechar novamente os teatros e cinemas. “O que estamos vendo na Europa, ainda dá pra controlar e não ter aqui, mas precisam ajudar, senão seremos obrigados a fechar novamente os teatros e cinemas da cidade”, enfatizou o prefeito em vídeo.
Ribeirão Pires e São Caetano também atingiram patamares semelhantes ao de São Bernardo. Ambas estão com 46% de ocupação nos leitos de UTI. A primeira cidade, que possui ao todo 41 leitos no Hospital de Campanha, está com 19 ocupações, sendo três pacientes na emergência e 16 na enfermaria. Já São Caetano mantém 18 pacientes internados em estado de emergência e outros 11 em observação em graus mais leves, na ala de enfermaria (66% de ocupação).
Santo André também apresentou alta considerável no número de internações, aumento de 43% na rede pública e particular do município. De acordo com a Secretaria de Saúde, a taxa de ocupação dos leitos de enfermaria dos equipamentos públicos e privados era de 46,27% e 40,21% dos leitos de UTI. O Centro Hospitalar Municipal possui 34 pessoas internadas, sendo que 27 estão na UTI, o que representa 52% da ocupação UTI. Já no hospital de campanha do Complexo Pedro Dell’Antônia há 146 pacientes internados, sendo que 12 estão sendo assistidos na UTI. Ao todo, a ocupação do espaço é de 81%. Por enquanto, o hospital de campanha da UFABC não possui pacientes internados.
Pós-eleições
Para o professor da Faculdade de Medicina do ABC e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juvencio Furtado, os números retratam um pico prolongado que pode ser ainda mais esticado com os dias de eleições. “Após o período de eleições provavelmente vamos ver um número um pouco maior, justificado pela falta de cuidado de uma parte da população que esteve nas ruas e que transmitiu a doença”, analisa.
Ainda segundo o médico, se não houver cuidado redobrado da população, a curva pode continuar a subir e piorar até mesmo após as festas de fim de ano. “Será um período ao qual as pessoas terão de se conscientizar ainda mais para não pressionar novamente o sistema de saúde, senão terão de fechar tudo novamente”, enfatiza.
De acordo com o médico, especialmente no fim de ano e após a quarta fase de flexibilização do Plano São Paulo, se tornou comum a contaminação de pessoas que estiveram aglomeradas em festas. “Temos visto que o público contaminado mudou. Agora, em sua maioria, os contaminados são aqueles que estiveram em festas com 20 ou 30 pessoas e passaram a doença para algum familiar que continuou a passar a doença”, analisa.
Apesar disso, o infectologista acredita que o recado foi dado, e é importante que a população se cuide para que não volte a sofrer com o reflexo do descuido. “O que a população tinha de saber com a pandemia, ela já sabe e está bem informada. Agora tem de se cuidar. A cura não sai até termos a vacina, e é importante ficar em casa até os números diminuírem”, lembra.