Pandemia evidencia más condições do transporte público no ABC

(Foto: Divulgação)

A pandemia da covid-19 impôs a necessidade do distanciamento social e acendeu alerta para uma condição de normalização generalizada: transporte público lotado, viagens de duas horas ou mais entre casa e trabalho e escassez de opções mais acessíveis à população. Apesar de muito se falar na rotina do novo normal e como as relações de trabalho podem se moldar diante da flexibilização, as más condições do transporte público ainda assustam aqueles que dependem exclusivamente do setor, apesar do momento de crise.

A professora do curso de Arquitetura e Urbanismo, Eloísa Balieiro Ikeda, elaborou um estudo sobre o tema junto a outros professores para o Observatório do Conjuscs  da Universidade Municipal de São Caetano do Sul e nele destaca a necessidade de se ampliar o sistema de transporte público na região, sobretudo o de transporte em massa de alta capacidade, para tornar as cidades mais democráticas e garantir aos seus habitantes o direito de ir e vir com conforto, segurança e em intervalos de tempo adequados.

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Para a professora, a pandemia é apenas uma circunstância que torna mais evidente a condição de precariedade e que abre espaço para debate do tema. “A solução não está em uma medida paliativa de prazo imediato, mas na implementação de uma política de Estado a longo prazo. Isso significa que o governo estadual e os municípios devem ser orientados por uma política que vá além de seus prazos administrativos”, diz ao salientar a necessidade de um órgão de governança metropolitana que atue entre as esferas de governo.

A continuidade dos planos e projetos já realizados e outros a serem elaborados, a exemplo do BRT – escolhido na região para substituir o sistema de trens leves com pneus – pode, na visão da professora, garantir o desenvolvimento gradual do sistema de transporte público articulado à mobilidade urbana. “Essa base necessária de infraestrutura urbana que abrange toda a área ocupada é urgente para se buscar mais equidade entre os cidadãos e deve existir, mas precisa ser acompanhada”, defende.

Circulação reduzida

Especificamente no período de pandemia, na tentativa de desestimular o deslocamento da população, os trens da Linha -10 Turquesa da CPTM tiveram circulação reduzida, bem como trólebus, ônibus e demais modais coletivos. Apesar de ter sido uma ação compreensível, para a pesquisadora a preocupação das autoridades com a grande circulação de pessoas foi quase nula, tendo em vista as poucas opções para a população. “Se não há alternativa eficaz de transporte, não há tentativa de redução de uso viável”, diz.

O resultado, segundo Eloísa, é a exposição de usuários à uma maior chance de transmissão e contaminação pelo vírus. “Ainda que reduzir ônibus tenha causado mais lotação, visto que 40,1% dos deslocamentos utilizam esse modal, os habitantes da maior parte das cidades não
teriam modal alternativo, como metrô ou trem, portanto concluímos que além de faltar condições, faltam opções no ABC”, completa.

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