Os esforços para desenvolver, produzir e distribuir uma vacina totalmente eficaz contra o novo coronavírus (covid-19) estão sendo feitos em velocidade nunca antes vista, mas, se tudo der certo, as doses só estarão disponíveis depois do segundo semestre de 2021, conforme adiantou o pneumologista e pesquisador sênior do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Elie Fiss, que é também professor titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC.
Em entrevista ao RDtv, o médico conta que apesar de nunca ter visto os pesquisadores trabalharem em um ritmo tão acelerado como agora, a vacina para o início do ano ainda é algo muito precoce. “Uma vacina precisa de, no mínimo, um ano para que hajam os testes mínimos de eficácia, e estamos trabalhando com vários testes, em questões de semanas, está sendo algo inacreditável, coisas de prazos curtíssimos, mas que exige cuidado, não podemos ser precoces com algo tão sério”, afirma. Até hoje, a vacina obtida em tempo mais curto foi a da zika, em dois anos, mas sem testes amplos.
Segundo Fiss, o que dificulta a pesquisa é a pressão para que exista a vacina com segurança em um curto espaço de tempo. “Precisamos cumprir diversas etapas e para isso precisamos de tempo e estudo, mesmo que alguns processos sejam acelerados”, diz. Enquanto algumas doses entraram para experimento agora, outras já estão na segunda e até terceira fase de estudo. “Já em um bom estudo clínico, o processo passa para a fase de testagem, em que leva um ano de experimento para saber se tem ou efeito protetor contra a doença”, explica.
Testagens
Na linha de pesquisa e desenvolvimento, outro setor que se aperfeiçoou ao longo dos últimos meses foram as unidades de terapia intensiva (UTI), ao qual os pacientes com covid-19 em estado grave, são submetidos. “A entubação, que antes era um procedimento bastante precoce nas internações, hoje foi praticamente abandonada, e é utilizada somente em últimas necessidades”, explica.
Com a maior oferta de testagens sorológicas e de PCR nos hospitais, os pacientes diagnosticados com covid-19 recebem assistência mais rápida nos órgãos de saúde, o que evita esforços de aparelhos como entubadores e respiradores. “Percebemos que agora, por termos uma oferta um pouco maior que antes, as pessoas estão sendo diagnosticadas mais cedo, o que vem nos ajudando bastante a nos mantermos na linha tênue de casos da doença”, explica o médico.
Flexibilização
A preocupação do pneumologista é que nos próximos dias, o Governo do Estado flexibilize as cidades paulistas no plano São Paulo diante dos números da covid-19. Assim, as sete cidades do ABC, que estão na Fase 3 (amarela), passariam para a Fase 4 (verde), decrescente, de abertura parcial e com menores restrições, o que poderia levar a uma segunda onda de contaminações.
Nesta etapa de reabertura, fica liberado o funcionamento de todos os estabelecimentos comerciais e de serviços, incluindo academias e praças de alimentação dos shoppings, desde que com capacidade limitada a 60% e adoção dos protocolos padrão e setoriais específicos. Ficam proibidos eventos que gerem aglomeração, mas a princípio já está liberado o retorno às aulas presenciais. “Isso é o que mais nos preocupa”, afirma o pneumologista.
Segundo Fiss, foi constatado que 60% das crianças moram junto com um idoso, o que representa um extremo risco com a volta às aulas. “Imagina se todos voltarem para a escola o que isso pode significar?”, questiona. “Até então sentimos que essa flexibilização responsável vem funcionando, mas ela deve acontecer com cautela, sem que haja precipitações”, afirma.
Até a ultima quarta-feira (02/09), o ABC atingiu a marca de 59.920 contaminados pelo novo coronavírus, com 947 infectados somente no dia. Dessa forma, foi registrada uma média móvel de 547,43 novos casos/dia e uma variação de 23,18% (alta), em relação à média de contaminados registrada em 14 dias. Em relação ao número de óbitos, foram 30 confirmações nas últimas 24h, com isso, já são 2.277 mortes com a doença.