Em meio ao momento de aceleração da pandemia do novo coronavírus no Estado de São Paulo, o professor de Relações Internacionais e Economia da UFABC (Universidade Federal do ABC), José Paulo Guedes, avalia que o governo tem adotado medidas precipitadas, ocasionadas por pressões econômicas e políticas no combate à doença.
O assunto tem gerado polêmica, já que o Estado ainda não atingiu o platô de casos e óbitos, o que é previsto para as próximas semanas, segundo o governador João Doria. “No Brasil por conta do pouco apoio do governo federal temos uma curva complexa. É mais parecida com a dos Estados Unidos que não levou muito a sério no início da pandemia. A ciência acertou tudo, e quem não levou a serio se deu mal”, comenta o professor.
Ainda segundo o economista, os parâmetros utilizados pelo Estado não foram reproduzidos em nenhuma parte do mundo, que aguardou a curva de casos diminuir para iniciar a flexibilização. “Todos os especialistas avisavam no início de junho que seria um erro, então foi uma política completamente precipitada. O número de casos e óbitos está crescendo. Até ter uma vacina as pessoas não podem ter contato com o vírus. Mesmo que tivéssemos hospitais para todo mundo o vírus ainda é muito perigoso e mata”, salienta.
O Estado utiliza parâmetros como a taxa de aceleração da doença, com o número de casos e óbitos, e a ocupação de leitos dos hospitais para avaliar a fase adequada para cada região e cidades estabelecidas no Plano São Paulo. O professor avalia que os parâmetros deveriam ser outros, já que não há protocolo de abrir quando a curva está aumentando.
“Estamos discutindo a ciência do governo do Estado, as pessoas não estão deixando de se contaminar e morrer. Eu até sairia dessa narrativa se está acelerando ou não, o Paraná sempre disse ser modelo, reabriram tudo e está no risco de decretar lockdown. Os prefeitos e governadores vão ter que justificar as mortes na eleição, de jogar as pessoas para esse abatedouro”, comenta Guedes.
Também colaborador do site acaocovid19.org, que mapeia, simula e estuda o cenário da covid-19 no Brasil, o João Paulo informou que, apesar do número de testes ter aumentado, os casos também cresceram e é possível notar após cerca de 5 dias de novos decretos de flexibilização.
Outro fator que preocupa o professor é a volta das aulas, programada para o dia 8 de setembro. “O retorno das aulas é um absurdo completo, está difícil para todo mundo, os governantes não podem culpar o cidadão, eles têm que garantir renda para a população, reabrir é garantir renda para essas famílias, mas o vírus é uma coisa que você não vê, o relaxamento vai fazer com que a pandemia piore. A taxa em São Paulo é a de que 10% das pessoas tiveram contato com a covid”, completa.