De um lado os discursos em defesa do isolamento social (e até do isolamento total, conhecido como lockdown) e de outro as falas sobre isolamento vertical (e até o negacionismo sobre a pandemia). Para os especialistas em Comunicação e Políticas Públicas ouvidos pelo RDtv, nesta quarta-feira (13), a diferença nos discursos sobre o novo coronavírus (covid-19) estão atrapalhando as medidas para a redução da infecção no Brasil.
“Infelizmente as disputas políticas transbordam e isso ajuda a reforçar de certa maneira a forma em que as pessoas enxergam o estado como inimigo. Parece que tem uma disputa entre a sociedade e o estado, e isso acaba sendo muito ruim, porque de certa maneira as pessoas sabem do que está acontecendo. Não é falta de acreditar (na pandemia)”, explicou o professor-adjunto de Políticas Públicas da UFABC (Universidade Federal do ABC), Cláudio Penteado.
Para a professora de Comunicação da Universidade Metodista, Luciana Rodrigues, existe uma falta de unidade na comunicação para a população em relação as medidas de prevenção contra a enfermidade, mesmo com a demonstração feita pelos veículos de comunicação sobre o que ocorre no mundo sobre a doença.
“Temos tantas novidades surgindo que não tem como não olhar para o mundo e se não tem uma unidade, um discurso homogêneo que faça um efeito cascata desde o Governo Federal até os prefeitos a gente não vai saber o que precisa para sair de uma situação em que ninguém viveu”, disse a educadora.
As principais diferenças de discurso estão entre o que fala o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que defende o isolamento vertical, ou seja, que apenas as pessoas que fazem parte do grupo de risco ficariam em casa e os demais migrariam para o seu trabalho normalmente seguindo normas estabelecidas pelos órgãos de Saúde.
Do outro lado os governadores como o paulista João Doria (PSDB) que segue defendendo o isolamento horizontal conforme estabelece os decretos de quarentena que estão válidos desde 23 de março e que não descarta a possibilidade de medidas mais rígidas como o isolamento geral em caso de aumento do número de casos, da transmissibilidade e da baixa adesão aos pedidos para ficar em casa e sair apenas com extrema necessidade.
“É difícil falar qual é o discurso mais eficaz, mas podemos ver que cada um já vem contribuindo pelo que está acontecendo. Agora não dá para negar que é um discurso racional e um discurso irracional. Não podemos acreditar neste discurso de saída para o trabalho para a maioria, pois os números de casos estão aumentando. Estamos mais próximos do lockdown”, comentou o gestor do curso de Jornalismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Flavio Falciano.