O isolamento social em decorrência da covid-19 fez com que a educação tivesse que se readequar a uma nova realidade, o meio virtual. Sem mínima capacitação, apoio ou financiamento dos materiais básicos para tal, os professores são obrigados a se reestruturarem e reinventarem seus próprios materiais, planejamentos e aulas para dar conta do novo formado EAD (ensino a distância), o que coloca em xeque seus direitos trabalhistas, uma vez que chegam a dobrar a jornada de trabalho e se estreitam nos moldes de ensino.
Em entrevista ao RDtv, a presidente do Sinpro ABC (Sindicato dos Professores do ABC), Edilene Arjoni, defende ser essencial que os professores se resguardem de seus direitos para assim não prejudicarem seu dia-a-dia e saúde mental. “Não somos contra o EaD, mas os professores precisam ter o mínimo de condição para seguir as orientações e trabalhar com a modalidade, sem que precisem ser um ‘super professor’, pois isso pode trazer prejuízos em longo prazo”, declara.
A professora orienta ainda que os docentes se resguardem, protocolem as atividades e apliquem o material no formato online somente enquanto durar a quarentena da covid-19. “Terminado o período de isolamento as aulas devem ser retiradas do domínio público e serem documentadas, porque isso vai resguardar o direito do professor e da escola”, alerta.
Em caso de suspensão de contrato, redução de jornada e outras questões que coloquem em xeque a permanência dos professores, a orientação é que busquem o sindicato. “Nenhuma escola deve exigir nada a mais do que está na legislação, e se tiver algo que vá prejudicar os professores, a orientação é que não assinem nada antes de conversar com o sindicato da categoria”, sugere.
A mesma orientação se aplica na rede estadual, conforme explica Vera Z, diretora estadual e conselheira por São Bernardo do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). A professora defende que é necessário a continuidade do isolamento social como medida eficaz na proteção da covid-19, mas os professores precisam se assegurar. “Os docentes não devem abrir mão da particularidade nem fazer dupla jornada porque estão no sistema home office”, defende.
Na avaliação do sindicato, a implementação do EaD pela Secretaria de Estado da Educação prejudica ainda questões sociais, como a desigualdade entre alunos, uma vez que apenas os que contam com acesso à internet de qualidade, com franquia elevada, que conseguem acompanhar as aulas, que agora em sua maioria são em vídeo. “O ensino a distância faz uma grande distinção de explosão social dramática na rede estadual de educação, e afeta principalmente os alunos das classes sociais mais necessitadas”, defende.
A professora relata ainda que a educação a distância implantada na rede pública foi feita de forma atabalhoada e amadora “sem que se garanta que todos os alunos e professores terão acesso a equipamentos que possibilitem o acompanhamento das aulas em questão, o que é uma falha extremamente grave”, completa.
Retorno gradual
O governador do Estado, João Doria (PSDB), anunciou na última sexta-feira (24/4) que as aulas no Estado só serão retomadas em julho. Além disso, será feita de modo gradual, com rodízio de estudantes e conforme a situação da pandemia no local. As primeiras a voltar serão as creches e pré-escolas, como forma de apoiar mães e pais que precisam voltar ao trabalho, conforme a quarentena vem for sendo flexibilizada. Escolas municipais e particulares devem seguir orientações de retorno gradual.
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