Donas do maior grupo de eleitores no País – cenário se repete no ABC -, as mulheres são pouco representadas na política. Na região, são apenas quatro vereadoras (sendo uma suplente), menos de 3% do total. Segundo a cientista social e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Carla Garcia, o machismo ainda é o principal fator para a baixa representatividade feminina na área.
Mesmo com os mecanismos criados nos últimos anos, como a cota de gênero de 30% na formação das chapas proporcionais e as diversas campanhas para estimular a participação feminina, o resultado ainda é muito baixo no comparativo do número de eleitoras com o número de representantes nos poderes Executivo e Legislativo.
“Quem imaginava que seria maior (a representatividade)? A questão não é o voto, é o machismo. Você pode ter o voto, mas continua tendo uma sociedade profundamente machista que ainda considera a mulher menos capaz para as questões públicas do que os homens e aí, em uma sociedade como a nossa, a baixa representatividade aparece, uma das causas é essa”, afirma Carla.
A professora explica que o fato de você ser mulher não te torna feminista. “Ainda temos um modelo patriarcal de sociedade que atinge todos, homens, mulheres, não importa, então o nível de consciência ao que pode fazer uma mulher ainda depende de muito trabalho do feminismo. Então não é o fato de ter mais eleitoras que isso torna esse lugar bom para as mulheres na política”, comenta.
Atrasado no ranking
Segundo dados da União Interparlamentar, instituição internacional que compara os dados da formação dos congressos em 191 países, o Brasil aparece em 140º lugar no ranking do número de mulheres com representação na Câmara dos Deputados, que é de 14,62%, e no Senado, com 13,58%.
A liderança da lista é de Ruanda, país africano com 61,25% de deputadas e 38,46% de senadoras. O Brasil fica atrás de outras nações que contam com a imagem de restrições para as mulheres, como Afeganistão (67º), Iraque (70º) e Arábia Saudita (111º). “Não é porque são árabes que há menos mulheres (na política), muito pelo contrário”, comenta Carla. No caso do Executivo, o Brasil aparece em 167º lugar entre 174 países no ranking feito pela ONU Mulheres, em 2017.
Outro ponto utilizado por Carla Garcia para justificar o baixo número de mulheres é a falta de apoio nas eleições. “As mulheres recebem um baixo apoio financeiro nas campanhas, além do pouco espaço para falar que são candidatas e nem mesmo nos discursos têm esse espaço”, explica a professora, que considera a principal consequência o baixo número de políticas voltadas para as mulheres.
Em maio de 2018, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) acatou um recurso de 14 parlamentares, que também criava uma cota 30% para as mulheres no tempo de propaganda eleitoral de rádio e televisão e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha.