Em 1970, John Lennon proclamou que o sonho havia acabado e que era preciso encarar a realidade. Sua convicção estava na letra de God, música do álbum John Lennon/Plastic Ono Band. Ele estava enganado. Na verdade, o sonho acabara um ano antes, em 26 de setembro de 1969, quando os Beatles lançaram Abbey Road, seu 12.º e último LP.
Obra-prima e o melhor disco da banda, segundo o produtor George Martin, Abbey Road completa hoje meio século, tão jovem e atual como na época do lançamento. Os quatro músicos, apesar de todos os desentendimentos nos últimos anos, estavam maduros.
Fizeram um álbum denso, adulto, com evidente tom de despedida. Saindo da sombra que sempre lhe foi imposta pela dupla Lennon & McCartney, George Harrison veio à tona com Something e Here Comes the Sun. Ringo compôs e cantou Octopuss Garden.
Agora, meio século depois, as desavenças pessoais e financeiras que levaram ao fim dos Beatles se dissiparam no tempo. Restaram o mito e suas músicas que ganharam tons de eternidade. Para comemorar os 50 anos de Abbey Road, está previsto para outubro o relançamento do álbum remixado, com brindes e informações raras sobre a banda. Como aperitivo, sabe-se que o novo Abbey Road traz duas versões de Come Together, já divulgadas pela internet.
A primeira versão é um tanto tosca, de ritmo acelerado. A segunda, presente no Abbey Road de 1969, é mais lenta graças a uma sugestão de McCartney, aceita por Lennon. A versão a ser lançada em outubro foi mixada por Giles Martin, filho de George Martin. Em todas elas, John repete ao longo da canção uma frase curta: “Shoot me” (atire em mim). Vale lembrar que nessa época John estava dependente de heroína e a palavra “shoot” podia também significar uma dose da droga.
Temendo uma reação negativa, Paul McCartney, segundo o engenheiro de som Geoff Emerick, fez questão de que o volume de seu baixo fosse aumentado toda a vez que John pronunciava a frase para encobrir o som. Deve ser verdade, embora a história dos Beatles esteja cercada de lendas.
Uma delas é que a primeira semana de gravações do álbum Abbey Road teria começado com a notícia de que John ficaria fora uma semana por causa de um acidente de carro. Notícia ruim, pois John estava ferido, mas boa ao mesmo tempo. Em junho, Paul, George e Ringo pareciam ter voltado aos velhos tempos e estavam cordiais e cooperativos. No fundo todos temiam que John estragasse esse clima. Seu temperamento cáustico poderia minar a aparente boa vontade que reinava entre os demais Beatles.
Em 9 de julho, Lennon estava de volta. Logo depois, o ambiente se deteriorava. Na gravação da música The End a frase de despedida: “And in the end, the love you take is equal to the love you make”. Era o fim dos Beatles, o fim do sonho, mas Abbey Road continua vivo.
Abbey Road, 50 anos: 5 lugares essenciais na Londres dos Beatles
Há exatos 50 anos, os Beatles lançavam o álbum Abbey Road, o 12º da carreira do quarteto. O disco trazia várias músicas que se tornaram clássicos da banda, como Something, Come Together, Because e Here Comes The Sun, mas foi imortalizado por sua capa. Nela, John, Ringo, Paul e George atravessavam a rua londrina que dá título ao disco, e onde fica até hoje o estúdio no qual eles gravavam seus discos.
A rua também ainda está lá, assim como a faixa de pedestres – e até hoje beatlemaníacos e turistas em geral fazem fotos recriando a célebre travessia.
Veja alguns lugares em Londres que têm ligação com a história da banda
O lugar onde a beatlemania estourou
Foi durante uma apresentação no teatro London Palladium, em 1963, que os meninos de Liverpool foram catapultados para o estrelato. O show que foi divisor de águas na história da banda ocorreu no dia 13 de outubro, quando ela se apresentou no programa de variedades Sunday Night at the London Palladium, exibido pelo canal ITV.
As músicas She Loves You, Twist and Shout e From Me To You levaram as fãs à loucura, a imprensa acompanhou a comoção e, no dia seguinte, todas as mídias noticiavam que havia um novo fenômeno na música. O resto é história.
Com capacidade para 2.286 pessoas, o centenário teatro (foi aberto em 1910) recebe shows, musicais e premiações e fica na 8 Argyll Street, em pleno Soho. O metrô mais próximo é Oxford Circus. Na agenda de próximas atrações, tem Boyzone, Christopher Cross e, em janeiro e fevereiro de 2020, alguns shows da turnê que Madonna está fazendo para seu último disco, Madame X.
O apartamento de John Lennon e Yoko Ono
Pelo imóvel que ocupava o subsolo e o primeiro andar da Montagu Square n° 34, quem passou primeiro foi Ringo Starr, em 1965. Depois, moraram nele Paul McCartney, o guitarrista Jimi Hendrix e, por fim, em 1968, o casal John Lennon e Yoko Ono.
Foi nesse apartamento que a fotógrafa Annie Leibowitz fez os imortais registros de John e Yoko abraçados nus. As fotos (de “frente” e “verso”) ilustraram a capa e a contracapa do disco Two Virgins, de 1969. Também nesse imóvel, John foi preso por porte de maconha.
O prédio está identificado por uma plaquinha azul na fachada, que informa que Lennon morou ali. As estações de metrô mais próximas são Marylebone e Baker Street.
O local do último show
A última apresentação ao vivo da carreira dos Beatles não foi um show de despedida. Ao contrário: aconteceu de surpresa. No dia 30 de janeiro de 1969, o quarteto e mais o tecladista Billy Preston fizeram um show improvisado na cobertura de um prédio na Savile Row, ao meio-dia.
Naquele prédio, funcionava a Apple Records, o selo da gravadora EMI que publicava os discos da banda. O show ficou conhecido como o Rooftop Concert. A imprensa não foi avisada, mas rapidamente a notícia do show se espalhou e atraiu multidões para a rua e os prédios ao redor. Diante da confusão, a polícia interveio e acabou com a festa.
O prédio (3 Savile Row; metrô Piccadilly Circus ou Oxford Circus) não tem nenhum esquema de visitação do terraço. Resta aos fãs contemplar a fachada do edifício e tentar imaginar como se passou aquele dia tão especial.
A Abbey Road, é claro
A icônica faixa de pedestres que cruza a Abbey Road continua rendendo centenas de cliques todos os dias. Os motoristas que passam por ali já sabem que terão de ser pacientes com as recorrentes peregrinações de fãs. Para chegar, vá de metrô (estação St. John’s Wood, linha Jubilee) ou com os ônibus 139 ou 189.
O Abbey Road Studios não é aberto para visitação, mas tem uma lojinha (com suvenires alusivos não apenas aos Beatles, mas também a outros grupos que já gravaram discos ali, como Oasis e Pink Floyd) e um muro em que é possível escrever uma mensagem.
Ele mantém uma câmera apontada para a faixa de pedestres 24 horas por dia. Isso permite aos interessados darem uma conferida no movimento em tempo real. Alguns avisam os amigos a hora em que vão para lá, para que eles possam acessar o site e vê-los fazendo a travessia.
A loja definitiva: London Beatles Store
Se você quiser encher a mala de lembrancinhas dos Beatles, este é o lugar. A loja é especializada em todo tipo de artigo da banda de Liverpool: camisetas, chaveiros, broches, bolsas, fotografias, pôsteres, canecas, malas de viagem, artigos para casa e, claro, discos. Alguns artigos são autografados.
A loja fica em 231 Baker Street, metrô Baker Street.