Para praticar o bem estar e transformar vidas, não são precisos grandes investimentos. Na região, mesmo sem auxílio do poder público, diversos projetos sociais se mantém somente com a força de vontade e disposição de voluntários e profissionais que investem tempo e conhecimento para mudar o cotidiano de milhares de pessoas.
Exemplo é o projeto SECI Social, em Santo André, que desde 1990 leva atividades culturais, esportivas e educacionais gratuitas para mais de 3 mil pessoas no bairro Capuava. A ideia surgiu do treinador de futebol Silvio Justiniano de Souza, o Professor Tatinha, que após encerrar carreira como jogador profissional decidiu mergulhar de cabeça na solidariedade.
No contraturno escolar, promove aulas de futebol e oficinas de música (canto, violão, guitarra, percussão, teclado e violino) para crianças e adolescentes com objetivo de tirá-los da rua, oferecer oportunidade e combater o sedentarismo. Para dar conta da crescente demanda, Tatinha conta com apoio nove profissionais, como o filho, Guilherme Ferreira, que desde pequeno ajuda na condução e manutenção do projeto.
Foram anos de luta até que houvesse estrutura e pessoal para atender todas as crianças. Somente em 2016, com turmas completas e filas de espera, que o projeto angariou incentivos financeiros de empresas como Braskem, Mercedes-Benz, White Martins, Coop, Cabot, Pirelli, ContourGlobal e Centauro. Junto ao programa de Lei de Incentivo ao Esporte do Estado, os parceiros ajudaram a garantir material esportivo e modernização da quadra, que de terra foi substituída por grama sintética. “Finalmente os alunos puderam se sentir como se estivessem em um verdadeiro estádio, com alambrado e tudo”, lembra Ferreira.
Entretanto, mesmo com o auxílio de verbas, um dos desafios é conseguir a manutenção e continuidade do projeto. “Começamos com 100 alunos no futebol e de repente já eram 400. O dia-a-dia é desafiador, mas isso não nos intimida. Se precisamos de algo, aprendemos a fazer ou recorremos a amigos que sabem e assim levamos o barco”, afirma Ferreira.
Além das atividades voltadas aos jovens nos sete dias da semana, o SECI implementou projeto de caminhada com supervisão de personal training para atender aos pais que esperavam os filhos saírem dos treinos. “É uma forma de combater o sedentarismo e movimentar toda a família”, explica. Outra novidade, programada para breve, é a sala para projetos pedagógicos. “Será uma sala para a educação, para tornar o ato de estudar ainda mais interessante”, acrescenta.
Ainda para contribuir com a ação e a sustentabilidade, foram instalados dois tambores para arrecadação de tampas plásticas. Quando cheios, são trocados por bolas de futebol. “É uma ação das empresas que incentiva não só as crianças a ajudarem o meio ambiente, mas o entorno”, completa.
Adote um Cidadão concretiza sonhos
Criado por Antônio Carlos Veiga, o projeto Adote um Cidadão celebra 20 anos em São Bernardo, com mais de 5 mil bolsas de estudo e outros 150 passeios socioeducativos. Todas as ações são gratuitas e visam conscientizar no processo de inclusão e integração de desenvolvimento da sociedade. “Queremos mostrar que todos podem fazer o que querem, todos têm a chance de sonhar”, explica Veiga.
Dessa forma, junto a outros dois colegas, Eduardo Bueno e o deficiente visual Roque Fermino, Veiga qualifica deficientes para competirem no mercado de trabalho. “Recebemos pessoas semi analfabetas que se alfabetizaram, aprenderam informática, mexem no celular e inclusive se formam em nossos cursos de inclusão digital”, explica.
Além de todo o projeto de qualificação, que inclui ao menos 100 cidadãos, existem os passeios do programa Karitato, que visa a realização de sonhos e oportunidades. Na lista estão passeios radicais de jeep, surfes, saltos de paraquedas, apresentações culturais e até jogos em estádios de futebol.
Em visita à sede do Adote, o RD presenciou a realização do sonho da deficiente visual Maria Selma Pimenta, que tinha o desejo de ir ao show de Roberto Carlos. Inscrita no programa desde 2010, Selma desenvolveu habilidades com celular e outras tecnologias, como tablet e computador. “Cheguei aqui e não sabia de nada. Hoje já sei pedir Uber sozinha e até usar aplicativos de mensagens”, comemora.
Quem também realizou um sonho foi o deficiente visual Osvaldo dos Santos, que acompanhou jogo de seu time do coração, o Santos, no estádio. “Estou me sentindo um menino, de corpo e alma lavados só por ver meu time”, diz. Diante do relato, Veiga declara que isso o motiva a continuar. “Vencer é isso, é trabalhar para fazer o bem para o próximo”, afirma.