
Com a proximidade do Setembro Amarelo, mês de prevenção do suicídio, o tema da saúde mental ganha mais espaço. Desde julho, São Caetano atua na implantação de projeto para promover a saúde mental de crianças e jovens e combater as preocupantes estatísticas da OMS (Organização Mundial da Saúde), que aponta o suicídio como a segunda maior causa de mortes no mundo entre jovens de 15 a 29 anos.
O trabalho em São Caetano começa antes dessa idade crítica, nas escolas de Ensino Fundamental II (11 a 14 anos), com o objetivo de prevenir problemas. Toda criança que apresenta sinais indicadores de sofrimento psicológico ou emocional, identificados pela professora em sala de aula, é encaminhada para avaliação e, se necessário, tratamento na USCA (Unidade de Saúde da Criança e do Adolescente). Para fazer essa primeira identificação e o encaminhamento, os professores da rede recebem capacitação da equipe de Saúde Mental do município.
Neste ano houve um aprimoramento do serviço no âmbito do PSE (Programa Saúde na Escola), instituído pelos ministérios da Saúde e da Educação em 2007. Esse programa define 12 temas (combate ao mosquito Aedes aegypti; saúde ocular, auditiva, uso de álcool etc) para serem trabalhados nas escolas. O município resolveu incluir um 13º tema: promoção de saúde mental e identificação de alunos com possíveis sinais de alteração. Os professores recebem capacitação para identificar sinais de ansiedade, depressão e até potencial de suicídio.

“Nosso trabalho é orientar os professores a respeito de sinais de risco que podem passar despercebidos. É importante que as escolas estejam capacitadas a identificá-los precocemente, pois muitas vezes a criança passa mais tempo com os professores do que com os pais”, destaca Daniel Zilenovski, psicólogo da USCA.
Existe a possibilidade de que os pais notem alguma alteração de comportamento. Neste caso, eles podem se dirigir diretamente à USCA, sem necessidade de agendamento prévio.
“Eles precisam de abraço”
Com orientações do Programa Saúde na Escola, a professora de educação física, Márcia Mosca Vieira, da EMEF Prof. Olintho Voltarelli Filho, desenvolveu projeto com alunos do 6º ao 8º ano do ensino fundamental, que teve resultado surpreendente. Diante de um problema de bullying na escola, Márcia se propôs a ouvir os alunos. Pediu que cada um deles escrevesse uma carta falando sobre si e seus sentimentos, com o compromisso do anonimato. A professora, então, recebeu 360 cartas e as leu integralmente durante suas férias. “Eu me assustei. Muitas dessas cartas falavam de baixa autoestima, dificuldades de relacionamento e até tentativa de suicídio”, conta a professora.
Quando as aulas retornaram, em agosto, a professora Márcia destacou as frases mais significativas e fez cartões, que os adolescentes colaram em um mural, depois de uma roda de conversa sobre os sentimentos ali expressos. “Teve criança que disse: ‘Você me salvou’. Mas eu só dei um abraço”, lembra a professora. O resultado desse trabalho foi uma redução significativa dos problemas de bullying e brigas na escola. “Os alunos precisam de alguém que os ouça e acolha. Eles precisam de abraço”, completa Márcia.