A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) admitiu problemas de adaptação dos trens da série 7.000, que há uma semana circulam do ABC à Capital, e informa que fará mudanças nas plataformas. As 16 composições da série 7.000 serviram a linha 9 – Esmeralda da companhia durante quase uma década e foram transferidas para o trajeto entre Rio Grande da Serra e Brás como modernização da linha 10 – Turquesa. A mudança veio logo após o governo anunciar a desistência de implantar o monotrilho da linha 18 – Bronze do Metrô, entre o ABC e a Capital.
A companhia admitiu que os vãos entre os trens mais novos e as plataformas são maiores, o que traz insegurança no embarque, principalmente para quem tem mobilidade reduzida. Este problema de acessibilidade foi um dos principais apontados por usuários ouvidos pelo RD. O controlador de acesso, Sérgio Ferreira, 51, diz que o vão dificulta a passagem de cadeirantes e pessoas debilitadas. “A acessibilidade para cadeirantes só piorou. O espaço para entrar no trem é muito grande, sem condições de um deficiente físico transitar por aqui”, afirma Ferreira.
Em nota, a CPTM informa que tem ciência da situação e diz que está fazendo alterações nas plataformas. “A questão do espaço entre o vão e a plataforma é devido ao compartilhamento da via com os trens de carga e, como solução, a CPTM aplica borrachões de proteção nas estações de maior movimento e realiza reformas nas plataformas”. O transporte de passageiros nas linhas é compartilhado com o transporte de cargas, de responsabilidade da MRS Logística.
Anunciados como novos, mas com cerca de 10 anos de uso, os trens que levam e trazem 390 mil passageiros diariamente são mais modernos, têm ar-condicionado e contam com painéis informativos e monitores que passam informações aos usuários. Também foi prometido pelo vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) que o tempo de viagem seria reduzido. Em nota, a companhia informou que as viagens já estão mais rápidas. “O tempo de viagem na linha 10 -Turquesa (Brás – Rio Grande da Serra) diminuiu cerca de 10% após a modernização da frota, principal motivo de elogios dos passageiros nos canais de atendimento da CPTM. A razão é que os trens da série 7000 possuem maior taxa de aceleração”, diz o informe da CPTM.
Mas a maioria dos usuários ouvidos pelo RD tem opinião diferente. Os passageiros reclamam do tempo de parada nas estações. “Às vezes, quando o trem chega à estação de Ribeirão Pires para de 15 a 20 minutos até prosseguir viagem. Eles informam que é para aguardar outro trem passar, isso é falta de planejamento. Parece que só piorou, eu preferia os outros”, diz o frentista Jailton da Silva, 45.
Interrupção em Mauá
Outra situação que chamou a atenção dos usuários é a parada final em Mauá, em vez de seguir até Rio Grande da Serra. “Às vezes, eles simplesmente param em Mauá e, sem aviso prévio, dizem que o trem não vai prosseguir, o que causa tumultos em dias de lotação e corremos risco de acidentes”, desabafa a servidora pública de Ribeirão Pires, Carmem Estorino. Para compensar, nos horários de pico, são colocados mais trens, segundo a companhia: “São realizadas mais viagens entre Brás e Mauá, que atendem cerca de 85% de todos os passageiros da linha 10”.
A copeira Ana Paula, 35, chama atenção para outro problema que atinge quem mais necessita dos assentos no trem, a escassez de bancos preferenciais. “Os novos trens possuem poucos bancos preferenciais, o que é um grande problema para idosos, que muitas vezes ficam em pé durante a viagem”, diz. O controlador de acesso Sérgio Ferreira, 51, reclama do desconforto dos assentos, que ocasiona situações constrangedoras. “Os bancos são muito pequenos. Para quem é gordinho fica desconfortável sentar com outra pessoa do lado, que geralmente sai do lugar por se sentir incomodada”, conta.
Empresa diz que oferta de assentos aumentou
A CPTM nega a quantidade menor de assentos. “Os trens modernos têm 52 bancos a mais do que os antigos da série 2100. O número de bancos preferenciais é igual. A oferta total de lugares aumentou em 8,5% por viagem com a entrada dos trens modernos. Além disso, os trens da série 7000 contam com itens de acessibilidade, como sinalização visual para identificação de assentos preferenciais, espaço para cadeirantes”, explica em nota.
A cabeleireira Sheyla Soares, 44, não concorda com a piora dos trens e diz que aprovou a mudança embora seja discreta. “Acredito que os trens melhoraram em 80%. A tecnologia do visor digital, os bancos confortáveis, a limpeza e os vidros preservados são pontos positivos da mudança”, avalia. Já em relação ao tempo de trajeto, Sheyla acredita que não houve alterações.
O presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), Vicente Abate, considera que, com trens mais modernos, deveria ocorrer a melhora no serviço. “Teoricamente os trens têm o mesmo tamanho e seguem norma do número de assentos”, diz quanto às críticas dos usuários.
Sobre a demora gerada pelo compartilhamento das vias, Abate fala que este é um problema histórico, de mais de 20 anos e que tolhe a capacidade de crescimento, tanto da MRS, como da CPTM. Acrescenta que os trens da série 7000 são muito mais modernos e eficientes e destaca que o investimento anunciado no sistema CBTC (Controle de Trens Baseado em Comunicação, tradução da sigla em inglês) deve reduzir o intervalo de trens na linha 10. “Isso melhora a sinalização e faz girar mais trens”, afirma. (Colaborou Ingrid Santos)