Neste sábado, 25 de maio, é o Dia da Indústria, mas empresários e especialistas em economia ouvidos pelo RD não revelam otimismo nem avaliam ser momento para comemorações. As expectativas estão intimamente ligadas à aprovação de reformas, principalmente a da Previdência, que levaria a uma confiança maior dos empresários no governo.
Para Eduardo Mazurkyewistz, diretor da Mazurky embalagens de papelão, com sede em São Bernardo, o mercado está estagnado à espera de mobilização do governo. “Havia muita expectativa e as coisas não têm acontecido na velocidade que se esperava”, avalia. A empresa tinha um importante investimento para ser feito em 2019, mas a direção o segurou. “Trata-se de um investimento em tecnologia, mas não vamos fazer neste clima de insegurança. Esse investimento resultaria em produtividade com treinamento de nossa equipe e contratação de pessoal novo. Vemos que o governo tem vontade de implementar as mudanças, mas não consegue fechar com a Câmara e nessa guerra política as empresas e os empregados é que sofrem”, diz o empresário ao salientar, ainda, que os dois primeiros meses do ano foram bons para a empresa, mas depois a demanda caiu.
Com 70 funcionários, a Mazurky teme que as reformas não saiam e a economia não volte a se recuperar. “Não penso em demitir, mas se não houver crescimento, podemos dar férias. Apesar disso temos de ser otimistas, pois é um prazo muito curto de governo para estas reformas, o que aconteceu é que foi criada uma expectativa muito grande que agora gera esse desconforto”, analisa.
Para o professor Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, enquanto o governo não conseguir emplacar ao menos uma medida de longo prazo o mercado vai continuar desanimado. “A combinação da dificuldade do governo em dar andamento à reforma da Previdência com a comunicação da equipe econômica, apontando-a como único caminho influencia negativamente, traz uma incerteza da capacidade e diminui o nível de confiança da indústria no governo. A repetição do recurso do governo tem um preço a pagar; se a reforma não caminhar a confiança cai por terra”, avalia.
O Observatório Econômico apresentou em abril o ICEI (Índice de Confiança da Indústria) do ABC que baixou no ano passado, ao passar de 65,6 pontos em janeiro de 2018 para 61,5 pontos em fevereiro de 2019. O resultado se deve em especial à redução do indicador sobre as condições das empresas, que saiu de uma confiança de 62,5 pontos em janeiro de 2018 para 50 pontos em fevereiro último. O próximo ICEI será divulgado em junho.
Efeito manada
Jefferson José da Conceição, responsável pelo Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Conjuscs), também considera que a economia aguarda movimentação do governo. “O investimento empresarial tem fortíssima relação com as expectativas do mercado e de uns tempos para cá elas se tornaram pessimistas e contaminaram o mercado num efeito manada. No ABC temos um quadro agravado pelo setor industrial que, desde 2013, vê a sua rentabilidade em patamares próximos de zero ou negativos e os serviços, que dependem da indústria, seguem a mesma linha”, avalia o professor.
Para o empresário Norberto Perrella – presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, que engloba também Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – o momento é de pessimismo. “Neste Dia da Indústria, pelo menos por enquanto, não há motivos para comemorar”, diz. No começo do ano havia certo otimismo pela mudança de filosofia de governo, mas agora, afirma, o Brasil está parado, pois o mercado não tem consumido e as empresas estão com medo de investir. “São raros os casos de alguns setores que estão bem. As reformas são importantes não só para o mercado interno, mas para o mercado exterior; há muitas empresas à espera das reformas saírem, pois precisam ter segurança. O Ciesp adota uma posição de otimismo, mas ainda não dá para dizer que está tudo bem”, comenta o empresário.
Alguns setores comemoram e seguem com investimento
Sem pessimismo, Erick de Souza, diretor da Maximus Embalagens Especiais, com fábrica em Ribeirão Pires, diz que o momento para o seu segmento é bom. A empresa está com demanda crescente e consolidada de um investimento recente. “Atendemos diversos setores, como automotivo, construção civil e o setor de eletrodomésticos e percebemos que o mercado está comprador. Existe uma preocupação com as reformas e isso reflete diretamente na economia, mas nós estamos otimistas”, analisa. No ano passado, a Maximus modernizou as instalações e investiu em treinamento de pessoal e teve aumento do seu contingente de funcionários em 10%. O empresário diz que dá para dizer que os negócios estão melhores do que em 2018. “Somos um dos principais players deste mercado, entre os três principais e esperamos chegar este ano pelo menos no segundo lugar do ranking”, comemora.
Na terça-feira (21) outra boa notícia que vai de encontro com as análises dos economistas e da maioria dos empresários. A Scania anunciou investimento de R$ 1,4 bilhão na planta de São Bernardo, num evento que teve a presença do governador João Doria (PSDB). “É uma demonstração de confiança no Brasil, em São Paulo e São Bernardo. Continuamos no preparo de nossos colaboradores, redefinindo o perfil de qualificação”, explicou Christopher Podgorski, presidente e CEO da Scania na América Latina. O investimento será feito entre 2021 e 2024.
Para o professor Jefferson José da Conceição, da USCS, notícias como a saída da Ford, têm impacto objetivo em que as empresas que fornecem para ela vão parar de fornecer. “Mas temos também impacto subjetivo, do investimento da Scania, que pode reverter essa situação”, avalia.
Química
Em comemoração ao Dia da Indústria, o Cofip-ABC (Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC) realiza nesta sexta-feira (24) o V Seminário Dia da Indústria, no Hotel Mercure, em Santo André. Participam do encontro Fernando Figueiredo, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim); João Luiz Zuñeda, diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado; e Robson Casali, gerente de Desenvolvimento de Negócios em Energia da Braskem. “É um encontro importante, pois reunirá representantes da cadeia de valor da indústria química para discutir caminhos rumo ao crescimento sustentável do setor na região”, diz Francisco Ruiz, gerente-executivo do Cofip.