Garantir medicamentos essenciais para a população é direito previsto na Constituição Federal (lei 8.080/1990). Entretanto, em Ribeirão Pires, a prática independe da teoria e, devido à falta de medicamentos básicos e específicos no estoque das unidades básicas de saúde (UBSs), muitos pacientes são obrigados a interromper o tratamento médico.
É o caso da auxiliar de limpeza Filomena da Conceição, de 57 anos, que não encontrou qualquer medicamento para tratar a infecção urinária desde quando foi diagnosticada, há mais de dois meses. “Simplesmente falam que não tem e te deixam a Deus dará. Agora tenho de esperar chegar ou sobrar um dinheiro para comprar na farmácia”, diz.
Moradora do Jardim Alvorada, Cacilda Francisco dos Santos, também está há pelo menos dois meses sem conseguir retirar o medicamento Puran, para tratamento da tireoide e o nitrato de miconazol, para tratamento ginecológico. Ambos remédios estão na lista do Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), que deve atender às necessidades de saúde prioritárias da população brasileira, mas segundo a moradora é impossível encontrar o medicamento em Ribeirão Pires. “Nunca tem em nenhum posto de saúde. Até desisti de procurar”, relata.
Como se não bastasse os gastos mensais com os próprios remédios, Cacilda relata ainda que a filha Gabriele também foi diagnosticada com infecção ginecológica e, mesmo com receita, não encontra os remédios necessários para tratamento na rede básica, o que obriga a gastar R$ 127. “A conta poderia ser evitada se a administração municipal garantisse o direito constitucional de acesso ao medicamento”, afirma.
Outros remédios básicos como Omeprazol, indicado para tratamento estomacal, hidroclorotiazida, para hipertensão arterial, e o antibiótico amoxicilina, utilizado para tratar infecções bacterianas, embora façam parte da relação do Rename, também estão em falta na rede municipal. Quem tenta buscar, volta com as mãos vazias. “Desde março que estou à procura de dipirona e amoxicilina, mas é em vão, mesmo com receita, nunca consigo retirar”, reclama Iodete Campina de Aguiar, moradora da Vila Suíssa.
Aposentados
Moradora do Parque Aliança, a aposentada Encarnação Beltran Martines, de 74 anos, enfrenta problemas há mais de dois anos para retirar medicamentos controlados. Usuária de Carvedilol (tratamento de insuficiência cardíaca), cloridrato de amiodarona (antiarrítmico) e levotiroxina sódica (tiroide), Encarnação compromete pelo menos R$ 150 da aposentadoria para comprar os medicamentos. “Faz anos que tento retirar, mas nunca tem no posto. Todo mês tenho de reservar parte do dinheiro que recebo para pagar os meus remédios”, lamenta.
A administração pública não esconde a falta de medicamentos no estoque, no entanto, quem responde à falha são os moradores, que passam meses à espera de medicamentos. Em contato com uma unidade de saúde, a equipe do RD foi informada que os remédios citados na reportagem não chegam à rede desde janeiro, e não há previsão para reposição no estoque.
Quem depende de medicamentos da rede de saúde mental, caso do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), também sofre com esvaziamento do estoque há mais de três meses em Ribeirão Pires. Na lista dos remédios em falta estão o cloridrato de fluoxetina, Sertralina (antidepressivo) e o Ritalina (estimulante do sistema nervoso).
Questionada, a Prefeitura informa que trabalha para regularizar o fornecimento dos itens que integram a relação de medicamentos da rede municipal, na Atenção Básica e na Saúde Mental. (Colaborou Ingrid Sousa)