Três mulheres relatam histórias de luta e superação

Elas são de diferentes ramos, têm sonhos pessoais e profissionais diversos e, em comum, lutam para quebrar paradigmas e um ciclo de limitações a que foram submetidas. Para marcar o Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira (8), o RD ouviu história de três mulheres da região, que romperam preconceitos, se superaram e traçaram caminhos que ainda têm ainda muito a percorrer.

Discriminação, desmotivação e machismo foram algumas das situações vividas pelas mulheres que, com garra, decidiram superá-las. É o de Vera Lucia Rocha, 59 anos, moradora de Diadema, que dirigiu o próprio negócio de venda de veículos leves e pesados, por 27 anos, e que foi vítima de julgamentos. “Apesar de vender até mesmo para fora do Estado, já perdi licitação e vendas pelo simples fato de ser mulher”, conta. Mas a derrota apenas deu mais força para Vera se destacar no ramo de atuação.

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Em 2002, com cinco filhos, a empreendedora assumiu novo ritmo de trabalho e integrou a ACE (Associação Comercial Empresarial), em Diadema, onde conquistou confiança dos diretores. Em 2013, alcançou a presidência e se tornou a primeira mulher da história do ABC a presidir uma associação comercial e garantir sede própria.

Em paralelo ao feito, Vera fundou a Associação Lutar pelo Futuro, que hoje atende aproximadamente 550 crianças em risco de vulnerabilidade, com atividades esportivas, como jiu-jítsu. Em celebração à data, a empresária reforça que, embora enfrente dificuldades para garantir espaço, a mulher deve mostrar seu potencial. “Quando dizem que não sou capaz, aí que sigo adiante. Ser desafiada, engrandece a mulher”, afirma.

Superação e preconceito
A sexta-feira da delegada Renata Cruppi também será marcada pela lembrança de superação. Titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Diadema, passou por dificuldades para conseguir garantir o lugar na área em que atua, reduto masculino. Há 10 anos, quando ingressou no segmento, era uma das únicas plantonistas do distrito, e já se sentia desafiada nas operações. “De forma velada percebia que testavam meu conhecimento de técnicas, soluções, tudo por eu ser mulher. Precisei mostrar que era capaz”, conta.

Renata enfrentou não só o preconceito com os colegas de trabalho, mas de vítimas que deixaram de acreditar em seu potencial. Um casal certa vez foi à delegacia procurar auxílio em um caso de sequestro relâmpago e quando se deparou com titular pediu para ser atendido por um delegado. “Na hora precisei respirar fundo para lidar com a situação, mas no fim conseguimos fazer a apreensão dos criminosos, o que fez com que o casal repensasse o olhar para o trabalho feminino”, relata.

Superação, reflexão e o auto empoderamento são questões que, segundo Renata, devem ser lembrados todos os dias pela mulher, que acima de qualquer coisa, deve relembrar o seu potencial. “Nós podemos e devemos lembrar todos os dias, assim como lembro de minha luta todos os anos”, comenta.

Daniela mirou reconhecimento e diz que não deu braço a torcer

Doutoranda, mestre e coordenadora do Observatório de Direitos Humanos da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), a advogada Daniela Bucci também enfrentou discriminação no ambiente de trabalho, mas decidiu que lutaria pelo reconhecimento, igualdade de oportunidades e não deu o braço a torcer.

Atitudes, como gaslighting (abuso psicológico) e mansplaining (homem insiste em explicar algo óbvio à mulher), não são incomuns no cotidiano de Daniela, assim como no dia-a-dia de outras mulheres. “Essas ações não acontecem em um nicho específico, mas infelizmente são inevitáveis. As mulheres já sofreram, sofrem ou ainda vão sofrer com isso”, afirma.

Além disso, Daniela diz que a invisibilidade e violências física/psicológica também são comuns no Brasil. Dados da Organização das Nações Unidas, revelam que o País ocupa o 5º lugar com maior número de morte de mulheres, sendo 4.539 ocorrências somente em 2017, o que anula comemorações em torno da data. “Isso acontece independente da escolaridade, profissão e status em que a mulher se encontra […] Acima de tudo, devemos lutar por nossos direitos e exigir juntas o cumprimento, não há diversificação, todas sofrem”, analisa a pesquisadora.

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