Em meio ao cenário de indecisão em Mauá por decorrência da prisão do prefeito licenciado Atila Jacomussi (PSB), a Câmara dos Vereadores bateu cabeça durante a votação pela abertura do processo de impeachment contra o socialista. Isso porque o parlamentar Gil Miranda (PRB) disse que foi a favor aos trabalhos da comissão de cassação, mas a mesa diretora do Parlamento contabilizou o voto como “não”.
Com o “sim” de Gil Miranda, o placar do processo de impeachment fecharia em 20 votos contrários a dois, resultando pelo seu arquivamento. Apesar disso, o vereador governista se juntaria ao sufrágio do oposicionista Marcelo Oliveira (PT). O pedido de abertura do processo de cassação a Atila no Legislativo foi protocolado por integrantes da Rede Sustentabilidade em Mauá, na semana passada.
No entanto, a súmula da mesa diretora (veja foto abaixo), presidida pelo pai do prefeito afastado, Admir Jacomussi (PRP), anotou o voto de Gil Miranda como contrário aos procedimentos de cassação do socialista, preso há 28 dias, por meio da Operação Prato Feito, da PF (Polícia Federal). Dessa forma, o placar anotado foi de 21 a um contra o pedido da Rede, segundo o documento.
A votação sobre a proposta de uma comissão especial de impeachment foi conduzida pelo primeiro secretário da mesa diretora, Irmão Ozelito (SD), que anotava a súmula. Em plenário, cada vereador falava “sim”, a favor do processo, ou “não”, pelo seu arquivamento. Durante os trabalhos em plenário, parte do público fazia coro a Atila, o que atrapalhou o entendimento sobre o posicionamento de cada parlamentar.
Outro problema que colabora para falta de clareza dos trabalhos no Legislativo é a ausência de um painel eletrônico no plenário, o que naturalmente facilitaria na identificação do voto de cada vereador ao público presente. Em meio ao barulho do auditório, os vereadores se pronunciavam sem usar o microfone, situação a qual colabora ainda mais para confusão na contagem final.
Quando chegou sua vez na votação, Gil Miranda fez um gesto positivo pela mão, representando um “joia”. Esse gesto seria um “sim” aos trabalhos de impeachment no Parlamento, mas ao fim da apuração, Admir oficializou o placar de 21 a um (com Marcelo Oliveira isolado). “Votei a favor da abertura do processo. Então o placar foi 20 a dois”, afirmou, porém, o vereador do PRB, horas depois da sessão.
Por sua vez, Irmão Ozelito argumentou que o colega não foi atrás da mesa diretora para corrigi-la sobre o resultado. “Na hora da votação, estava muito barulho e ele (Gil Miranda) falou baixo. Aí o vereador deu positivo e entendi que ele estava votando contra. Então ao termino da votação, anunciei o placar e ninguém contestou. Mas se ele pedir para retificar o voto, eu faço sem problema”, explicou.
Após a apreciação do pedido de cassação a Atila, servidores do Parlamento ficaram confusos com o posicionamento de Gil Miranda, porém, acreditaram no placar de 21 a um anunciado, em voz enfática, por Admir. Mesmo assim, o vereador tem direito a retificar a súmula na sessão da próxima semana, se assim deseja, apesar de nada interferir pelo arquivamento do pedido de cassação do prefeito.
Histórico
Atrás das grades desde o dia 9 de maio, Atila é suspeito de corrupção e lavagem de dinheiro pela Operação Prato Feito, que investiga práticas fraudulentas nos serviços de merendas, uniformes escolares e materiais didáticos. Inicialmente, o socialista foi conduzido à superintendência regional da PF, na Lapa, zona oeste de São Paulo, após agentes federais encontrarem R$ 87 mil em notas vivas na sua casa, sem origem clara.
No dia 29, o prefeito afastado foi transferido para penitenciária em Tremembé, a quase 125 quilômetros da Capital. No local, Atila aguarda o parecer do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes sobre o pedido de habeas corpus, para responder ao processo em liberdade e no exercício de chefe do Executivo, atualmente ocupado pela prefeita interina Alaíde Damo (MDB).