De homem forte do governo em Mauá para o esquecimento. Esse parece ser o caminho do ex-secretário de Governo e de Transportes João Gaspar (PCdoB), preso na penitenciária do Tremembé, a 125 quilômetros de São Paulo. O comunista está encarcerado há 21 dias, junto com o prefeito afastado Atila Jacomussi (PSB). Ambos são acusados de lavagem de dinheiro e outras práticas de corrupção.
Um dia antes de ser preso pela PF (Polícia Federal), Gaspar estava presente na Câmara dos Vereadores, onde costumava ir a dia de sessão, no papel de articulador de Atila junto à base aliada. O então secretário era peça fundamental para o governo, articulando a mando do prefeito a aprovação de pautas impopulares, como a taxa do lixo em dezembro, que passou a ser cobrada no mês passado.
Entretanto, no dia 9, Gaspar recebeu a visita de agentes federais em sua residência alugada, onde foram encontrados envelopes contendo R$ 588,4 mil e € 2,9 mil (equivale a R$ 12,9 mil) em notas vivas, um total de R$ 601,4 mil. A quantia era superior à soma de todos os salários brutos que o comunista recebeu como secretário municipal de Atila – vencimento é de R$ 12 mil – em 16 meses: R$ 192,4 mil.
Ao mesmo tempo, Atila recebia a PF em sua residência, onde encontraram R$ 87 mil. Sem explicar a origem da quantia, ambos foram conduzidos à superintendência regional da PF, em São Paulo, onde permaneceram até a manhã desta terça-feira (29). Tanto prefeito como o ex-secretário são alvos da Operação Prato Feito, que investiga esquema de corrupção em serviços de merenda, uniformes escolares e materiais didáticos.
Desde então, chama a atenção a estratégia da defesa do prefeito e de seus aliados em Mauá, na tentativa de desvincular o dinheiro apreendido de Atila com a quantia encontrada na casa de Gaspar. Inicialmente, o advogado do socialista, Daniel Bialski, afirma que os valores são legais e declarados, referentes ao salário como chefe do Executivo, de imóveis alugados pertencentes à família e da pensão do filho.
A segunda etapa da defesa é afirmar no pedido de habeas corpus que Atila não possuía qualquer relação estreita com Gaspar, e que comunista já participava de gestões passadas e em diversos cargos. Ao RDtv, o superintendente da Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá), Israel Aleixo (PSB), afirmou que a PF confunde as quantias do prefeito afastado com o seu ex-secretário.
No entanto, a relação de confiança de Atila com Gaspar é de longa data, não apenas restrita ao atual governo. O comunista foi um dos articuladores para o prefeito licenciado se filiar ao PCdoB, partido o qual foi eleito deputado estadual em 2014. Em seguida, o ex-secretário foi alocado no gabinete do socialista na Assembleia Legislativa, como seu jornalista.
Justamente quando era assessor de gabinete no Parlamento paulista, Gaspar teria recebido R$ 138 mil, em 2016, de um grupo criminoso apontado pela Operação Prato Feito, tendo Atila como beneficiário final, conforme apontam as investigações da PF. Em troca, o prefeito permitiria a entrada de uma das empresas desse cartel em Mauá, o que ocorreu no serviço de confecção de uniformes escolares no ano seguinte.
Também chama a atenção que a defesa de Gaspar ainda não recorreu da prisão preventiva decretada pelo TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). Enquanto isso, Atila já tentou em vão reverter o quadro no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e agora tem como esperança para o pedido de liminar junto ao habeas corpus o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.