Um ano após determinar a abertura dos inquéritos no Supremo Tribunal Federal com base na delação da Odebrecht, o ministro Edson Fachin (foto) atendeu a um pedido que delegados da Polícia Federal consideram vital para o desfecho das investigações. Na sexta, em decisão ainda sob sigilo, o ministro, que é relator da Operação Lava Jato na Corte, permitiu que o grupo da PF que trabalha nos inquéritos do Supremo tenha acesso irrestrito aos sistemas Drousys e MyWebDay. Eles registram toda a comunicação e a contabilidade paralela do Grupo Odebrecht.
Levantamento feito nos autos dos 80 inquéritos que tramitam atualmente no STF derivados da “lista de Fachin” aponta que, em pelo menos 32 casos, há manifestações formais de ao menos sete delegados que declaram ser indispensável uma perícia técnica para a conclusão das investigações. O número pode ser maior porque há desatualização no sistema de visualização de documentos do Supremo.
Esses 32 inquéritos envolvem 40 pessoas, a maioria políticos com foro privilegiado. Incluem os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Romero Jucá (MDB-RR), Renan Calheiros (MDB-AL), Edison Lobão (MDB-MA), Antonio Anastasia (PSDB-MG) e Ciro Nogueira (PP-PI); o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os ministros Aloysio Nunes (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD). Também estão na lista o senador Humberto Costa (PT-PE) e os deputados Carlos Zarattini (PT-SP) e Zeca Dirceu (PT-PR), além do ex-ministro José Dirceu, já condenado na Lava Jato. Todos negam envolvimento em irregularidades.
Passado um ano, apenas três investigações tiveram conclusão apresentada ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República. Foram duas denúncias – uma apresentada contra o deputado Vander Loubet (PT-MS) e outra contra Jucá – e um pedido de arquivamento por falta de provas em inquérito envolvendo o deputado Irajá Abreu (PSD-TO). O caso foi arquivado.
Em março, Jucá foi o primeiro a virar réu em caso aberto com base na delação da Odebrecht – ele responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A defesa do senador diz que o recebimento da denúncia não significa que ele “tenha qualquer culpa formada” e que apresentará o “contraditório para mostrar a completa inocência”.
Impasse
O principal entrave apontado pela PF no andamento das investigações era a indisponibilidade da íntegra dos sistemas Drousys e MyWebDay. O impasse em torno do acesso completo ao material surgiu do acordo de leniência da Odebrecht firmado com o Ministério Público Federal no Paraná.
O texto conferia ao Ministério Público Federal a exclusividade no acesso aos sistemas. Em novembro, o juiz Sérgio Moro decidiu dar acesso à PF, alegando que essa previsão é “ilegal, e, na prática, torna o material probatório inútil, já que não existe previsão legal de perícia feita pelo MPF”.
Mas a PF apelou também a Fachin em fevereiro deste ano, pedindo acesso irrestrito. “Esta decisão (de Moro) estabeleceu restrições, determinando que os dados estavam disponíveis apenas para análises periciais e para a produção de laudos pontuais. Na prática, tais limitações inviabilizam os trabalhos de investigação”, disseram diferentes delegados da PF em inquéritos.
Segundo apurou a reportagem, antes de deferir o pedido, Fachin ouviu manifestações da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e de Moro, que não se opuseram.
Mesmo com o acesso ao sistema, há a preocupação de que essas informações não sejam suficientes para produzir provas. Pode haver dificuldade em provar pagamentos em espécie – as apurações têm conseguido chegar aos operadores e não aos políticos.
29 parlamentares são alvo de investigação eleitoral
Entre os alvos dos inquéritos da Odebrecht no Supremo Tribunal Federal, 29 parlamentares são investigados pelo crime de falsidade ideológica eleitoral – caixa 2 ou caixa 3, quando não há indícios de corrupção ou lavagem de dinheiro. Quando essas autoridades perderem o foro no STF, seja por fim de mandato ou por provável limitação que a Corte pode impor na aplicação da prerrogativa, há chance de os casos serem enviados para a Justiça Eleitoral.
A definição da seção de Justiça ou do tribunal para onde uma investigação deve ser encaminhada não tem uma fórmula exata. A análise tem de ser feita caso a caso, de acordo com os elementos apurados. Se, nos casos envolvendo alguns desses parlamentares, não forem identificados indícios de corrupção ou lavagem de dinheiro, é provável que sejam enviados à Justiça Eleitoral. Foi o que ocorreu em relação ao inquérito que investigava o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) a pedido da Procuradoria-Geral da República.
No STF, o relator Edson Fachin já enviou à Justiça Federal no Paraná fatos trazidos em delações que incluíam suspeita de caixa 2. Em decisões recentes da Segunda Turma da Corte, no entanto, a maioria votou em sentido contrário. Nesta semana, a Segunda Turma mandou cópias das delações dos ex-marqueteiros do PT Mônica Moura e João Santana para a Justiça Eleitoral do Distrito Federal, sem determinar interrupção de apuração em outras instâncias.
Denúncia
Um dos casos que poderiam passar para a Justiça Eleitoral, se houver perda de foro, é o que resultou na denúncia contra o deputado Vander Loubet (PT-MS) por caixa 3 eleitoral. A acusação é de que ele recebeu, em 2010, doação de R$ 50 mil registrada oficialmente na campanha como sendo das empresas Praiamar e Leyroz – ligadas ao Grupo Petrópolis. Mas o repasse era da Odebrecht.
Procurado na sexta-feira, Loubet disse, via assessoria, que as acusações relacionadas às delações da Odebrecht “não procedem, são inverídicas”.