ABC - domingo , 19 de maio de 2024

Lições para se tirar, com ‘Bingo’ fora da lista de pré-indicados

Em 2018, vão se completar 20 anos que o Brasil não crava uma indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar – o último foi Central do Brasil. Todo ano, as comissões que se reúnem para escolher o indicado brasileiro escolhem filmes com a cara do Oscar, seja lá o que isso for. Não tem dado certo. Talvez seja preciso mudar o foco.

Na quinta-feira, 14, a Academia divulgou a lista de nove pré-selecionados para o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2018. Dela vão sair, em janeiro, os cinco concorrentes. Tem latino-americano na parada, e é o Chile.

Newsletter RD

Coincidência ou não, os filmes indicados na categoria estão sempre em sintonia com os grandes festivais europeus. Três foram premiados em Berlim: Corpo e Alma (vencedor do Urso de Ouro), Uma Mulher Fantástica e Felicité. Três, em Cannes: The Square (o vitorioso da Palma de Ouro), Loveless e Em Pedaços. Outros dois foram premiados em Veneza – Foxtrot e The Insult.

The Insult esteve no recente Festival de Cinema do Líbano, em São Paulo. The Wound/Os Iniciados, no Mix Brasil. São todos filmes fortes. Uma transexual em Uma Mulher Fantástica. Um menino criado sem amor em Loveless. Um homem cujo segredo íntimo (a ‘ferida’) é a homossexualidade em Os Iniciados. Uma discussão sobre a arte contemporânea e os limites do politicamente correto em The Square.

Corpo e Alma é sobre um homem e uma mulher que trabalham num matadouro e compartilham o mesmo sonho – um casal de cervos numa floresta. Serão eles? Felicité é sobre a luta de uma cantora para pagar a operação do filho. Em Pedaços é sobre a vingança de uma mulher contra os neonazistas que mataram seu marido e filho. Foxtrot é sobre a dor de um pai militar que perdeu o filho na guerra. E The Insult é sobre o impasse que leva um cristão libanês e um refugiado palestino ao tribunal.

É difícil dizer o que esses filmes têm e o que falta ao brasileiro. O repórter viu a maioria – menos o libanês e o israelense. São intensos, radicais e, em quase todos, o espectador tem empatia pelos personagens. Sofre com eles, torce por eles. Talvez torça contra o diretor do museu de The Square, mas é o ponto do diretor Östlund. Três ou quatro são sobre mulheres fortes, e o empoderamento é o tema da vez. A questão é que é difícil experimentar envolvimento com o palhaço de Bingo, e não porque seja um ‘monstro’, o que basicamente é.

Augusto/Vladimir Brichta vive para o palco. Nem quando vira evangélico consegue mudar – é só outro palco para ‘brilhar’. De novo, a comissão brasileira apostou errado. Talvez, e é só uma sugestão, a passagem dos filmes brasileiros pelos festivais europeus seja um caminho. Central do Brasil havia vencido o Urso de Ouro, e Fernanda Montenegro, indicada para melhor atriz, ganhou o prêmio da categoria em Berlim. Só para lembrar, Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, mesmo não tendo sido premiado, fez sensação em Cannes no ano passado.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes