Nicolás Maduro e sua desprestigiada assembleia constituinte emitem prenúncios categóricos de que avançarão a passos largos na direção do recrudescimento da crise política, humanitária e econômica que vem há tempos martirizando o povo venezuelano.
Delcy Rodríguez e Diosdado Cabello, figuras centrais na edificação da ditadura baseada nos ditames da corruptocracia, proferem discursos acintosos contra a inteligência e bom senso universal, principalmente no tocante ao desrespeito às cartas firmadas entre nações que estabelecem as bases para os compromissos de preservação dos princípios democráticos e observância ao estado de direito.
Porém, ambos ostentam o potencial indelével para perpetrar suas reputações na história mundial da infâmia. Provendo o devido suporte “parlamentar”, os 545 membros da constituinte avançam na imposição e cerceamento das liberdades individuais e participação política que não seja respaldada pela total devoção, submissão e servidão ao estabelichment bolivariano.
Diante desse contexto, nosso vizinho submergirá com rapidez e intensidade a confrontos cada vez mais violentos que transformarão em frangalhos qualquer resquício de coesão do tecido social. Contudo, os efeitos da fratura exposta infringida à soberania popular não se conservarão circunscritos tão somente à terra natal de Simon Bolívar, mas tendem a se alastrar por todo o continente, colocando sob suspeição e desconfiança os partidos e movimentos de esquerda que franquiam solidariedade e assentimento ao chavismo.
Tal evento pode ser verificado no Brasil, como é o caso da senadora e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleise Hoffmann, que manifestou apoio incondicional e irrestrito ao regime, da mesma forma que fizeram o PCB, PCdoB e PSOL, além de figuras como João Pedro Stédile, líder do MST, e os participantes do último Foro de São Paulo, realizado na cidade de Manágua, que dedicaram o evento às memorias póstumas de Fidel Castro e Ernesto Che Guevara.
Ou seja, o agravamento da crise venezuelana tem levado as agremiações latinas de esquerda a se posicionarem dentro de um campo onde a ordem estabelecida sob a égide de poderes independentes e promovida por meio do sufrágio livre, justo e equânime não possui a primazia para ser defendida, enquanto uma conquista inalienável da humanidade.
Igualmente, demonstram a vocação imutável de tratar como inimigos fascistas a serem destruídos qualquer escola de pensamento ou segmentos militantes que discordem de suas convicções ideológicas. Maduro e asseclas serão os grandes catalizadores da derrocada da práxis socialista, emitindo sinais irrefutáveis de comportamento obscurantista, derivados da tirania cruel e implacável que chocarão os cidadãos das mais variadas nacionalidades.
Afinal de contas, não foi por acaso que o povo venezuelano emagreceu em média de 8 kg em 2016, em decorrência da escassez de alimentos, enquanto a elite do PSUV desfruta da impunidade para lucrar com a exploração de todos os tipos de atividades da economia subterrânea e criminosa.
Em suma, apoiar essa conjuntura acarretará na morte de ideais generosos daqueles que um dia sonharam com a consolidação de sociedades mais justas e igualitárias. Sem dúvida será o maior erro histórico das esquerdas sul-americanas.
Nilton Tristão é cientista político, diretor do Instituto Opinião Pesquisa e da GovNet S/A