O que se pode esperar de um partido político que nas últimas seis eleições presidenciais venceu duas e ocupou o segundo lugar nas outras quatro? No mínimo, o protagonismo tenaz e a liderança ativista na condução dos debates temáticos de interesse estratégico para o desenvolvimento do País. Pois bem, desde a queda da presidente Dilma Rousseff, a Nação é pautada unicamente pelas controvérsias entre as reformas encaminhadas por Michel Temer em contraposição à ‘dialética amargurada’ do realismo petista, enquanto os tucanos se mantêm prostrados, mirando o firmamento em contemplação ao contínuo espaço-tempo, onde a sequência dos eventos depende da localização em que se encontra posicionado o observador.
Diante desse horizonte de eventos, o PSDB permanece brindando a sociedade com discussões de relevâncias duvidosas, como a saída ou manutenção do senador Aécio Neves da presidência nacional da agremiação, ou a antecipação, ainda para esse ano, das prévias que definirão a candidatura ao Palácio do Planalto de 2018, como se a vitória eleitoral porvindoura fosse algo predeterminado e irremissível.
Ainda promovem reuniões com seus caciques, como a realizada em São Paulo no dia 10 de julho, quando decidiram de maneira deliberativa e enfática que não era o momento para se decidir absolutamente nada. A divisão da bancada durante a sessão que apreciava a aceitação ou rejeição da denúncia proposta pela Procuradoria Geral da República contra o chefe do Poder Executivo, quando 21 parlamentares optaram pelo sim e outros 22 sufragaram a opção pelo não, passou a personificar a imagem mais bem acabada do que atualmente simboliza o PSDB para o restante da Nação.
Em suma, um grupo fraturado, incapaz de olhar por cima do muro e para além de suas fileiras encasteladas nos cargos das administrações públicas. Pois já faz algum tempo que os sociais democratas brasileiros perderam a referência do refinamento político e elegância intelectual de Fernando Henrique Cardoso, além das convicções, robustez e coerências de tantos outros líderes do passado. Não compreenderam que a borda de um buraco negro é conhecida como um ponto de não retorno, no qual nem mesmo a luz pode escapar.
No instante em que o universo tucano incorpora o papel de coadjuvante na delineação da presente narrativa, qual seria o motivo fático para o eleitorado entregar-lhes posteriormente o papel do galã principal do enredo? Deveriam saber na ocasião que qualquer segmento representativo da sociedade que exista da autojustificativa de seus próprios interesses, reentrâncias e postulados, mesmo que inconscientemente, passará a construir os mecanismos necessários para a promoção das mudanças nos quadros dirigentes, que no futuro próximo, serão os responsáveis por conduzir os desígnios da República. Assim foi na Franca, assim será no Brasil, assim caminha a humanidade.
Nilton Tristão é cientista político, diretor do Instituto Opinião Pesquisa e da GovNet S/A