O ex-executivo da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, alega ter financiado os candidatos Carlos Grana (PT) e Nilson Bonome (PMDB), nas eleições de 2012, com o fim de pleitear o processo de privatização do abastecimento de água em Santo André, na Grande São Paulo.
O executivo estimou que pelo menos R$ 20 milhões tenham sido doados pela Odebrecht Ambiental a candidatos, com o objetivo de manter ou obter contratos na área de saneamento. O valor mistura caixa dois e doações oficiais, muitas intermediadas entre o próprio político e a empreiteira. Na planilha, são identificados 80 nomes de políticos – 10 repasses constam com nomes genéricos, como ‘vereadores’, ‘vários’ e ‘deputado’.
Somente em São Paulo, executivos da companhia de saneamento e tratamento de água do grupo dizem ter pago R$ 9,1 milhões em caixa dois, para financiar eleições municipais com caixa dois. Eles identificaram 23 candidatos cujas campanhas foram contaminadas.
Em muitos casos, o executivo disse ter optado por financiar inclusive candidatos concorrentes para evitar que alguém que não tenha recebido doações da empreiteira vencesse as eleições e criasse obstáculos em contratos já em vigor entre a Odebrecht e a cidade. Fernando Reis, que presidiu a Odebrecht Ambiental, chamou a prática de vacina ‘anti-achaque’.
Por decisão do ministro relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o destino das 13 petições da Procuradoria Geral da República para investigar supostas propinas envolvendo a Odebrecht Ambiental nos municípios paulistas é o Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
A única doação confirmada como oficial pelos delatores da Odebrecht Ambiental se deu no município de Santo André ao candidato Carlos Grana (PT), no valor de R$ 500 mil. O adversário, Nilson Bonome (PMDB), teria pego R$ 400 mil em caixa dois. A doação oficial, neste caso, era permitida, em 2012, porque a Odebrecht não era concessionária de serviços públicos na região, contaram os delatores.
Os valores a Grana, que acabou se elegendo naquele ano, foram discutidos em um restaurante, relatou o diretor regional de São Paulo, Guilherme Paschoal. No encontro, o petista teria feito ‘questão’ de não deixar o diretor da Odebrecht pagar a conta. “A intenção era fomentar e estimular a privatização e queríamos fazer o projeto em Santo André. Ele achava interessante porque sabia quanto nos poderíamos levar de investimento ao município”.
Já os valores de Bonome foram acertados diretamente com o candidato, em São Paulo. “Chamava no Starbucks [no Shopping Eldorado, ao lado da Odebrecht], marcava a hora, e entregava pessoalmente a ele as informações. Eu sabia que não seria eleito, mas tinha uma influência no ABC que poderia fomentar o projeto caso o candidato eleito não levasse adiante”.
O delator explicou que, inicialmente, a Odebrecht apresentou um PMI (Procedimento de Manifestação de Interesse), que é um relatório entregue e bancado por uma empresa privada ao poder público para pleitear a privatização de serviços municipais.
“Ele foi eleito, autorizou em novembro de 2013, entregamos à Semasa, de Santo André, a MIP, e eles autorizavam em novembro de 2013 os estudos técnicos e econômicos para identificar a solução, que foi aprovada pelo conselho gestor do município em 14 de fevereiro de 2015. No final, definiu-se por uma PPP de redução de perdas de água – uma PPP que não tem nenhuma parecida no Brasil. Foi feito estudo, audiência pública, foi realizada a licitação em 2015. O TCE suspendeu o edital como é de costume em São Paulo. O município acatou as recomendações e republicou o edital em 13 de janeiro de 2016. A companhia entregou a proposta em 1 de março de 2016. Saímos vencedores”.
Em 2014, o diretor da Odebrecht Ambiental Guilherme Paschoal relatou ter sido procurado, mais uma vez, por Nilson Bonome (PMDB), para pedir R$150 mil à construtora. Os valores foram autorizados pelo executivo Fernando Reis, a logística determinada por Eduardo Barbosa e informada ao candidato, em reunião, de novo, em um shopping em São Paulo próximo da sede da Odebrecht. “Por ser uma personalidade do PMDB, talvez, pudesse ajudar na base dele a não criar nenhum óbice [aos contratos da empreiteira em Santo André]”.
No sistema Drousys, do departamento de propinas da Odebrecht, utilizado para repasses de valores a políticos, Nilson Bonome recebeu os codinomes ‘avesso’ e ‘futuro’. Carlos Grana ficou sem apelido, já que recebeu, de acordo com delatores, doações contabilizadas pelo TSE.
COM A PALAVRA, CARLOS GRANA
A reportagem entrou em contato com o PT, que não localizou, até a publicação desta matéria, Carlos Grana. O espaço está aberto para manifestação.
COM A PALAVRA, NILSON BONOME
A reportagem não localizou Nilson Bonome. O espaço está aberto para manifestação.