Prefeitura de São Bernardo oferece remoção de tatuagem a menino torturado

O garoto de 17 anos que foi tatuado à força em São Bernardo  deve ser submetido em breve à remoção da marca. Em nota, a Prefeitura da cidade afirmou que vai garantir o procedimento por meio de um convênio com a Faculdade de Medicina do ABC. A informação foi confirmada pelo tio do menino, Vando Rocha, de 33 anos.

Algumas clínicas e estúdios de tatuagem também procuraram a família para oferecer o serviço. Além disso, o coletivo Afroguerrilha angariou R$ 18,4 mil em um site de financiamento coletivo, o qual deve ser liberado em 14 dias.

Newsletter RD

De acordo com o autor da vaquinha, que prefere não divulgar seu nome por ter recebido ameaças após a repercussão do caso, o valor será destinado à avó do menor de idade, enquanto outra parte será utilizada na compra de uma bicicleta para o homem que teria sofrido a tentativa de furto.

Adenilson Oliveira afirmou que soube da suposta tentativa de furto de sua bicicleta pela imprensa e que também critica a atuação dos torturadores, o tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, de 27 anos, e Ronildo Moreira de Araújo, de 29 anos, que moravam em uma pensão popular no centro da cidade.

Segundo ele, o veículo estava quebrado e não era mais utilizado. “Mas eu ficaria sim muito agradecido com a doação”, disse o homem, que teve uma das duas pernas amputadas e se locomove com auxílio de muletas.

Desaparecido desde o dia 31 de junho, o menino foi encontrado no sábado, 10, próximo à pensão em que foi amarrado, agredido e tatuado na testa com a frase “Sou ladrão e vacilão”. Ele reside com a avó e um tio em uma residência de dois cômodos no Bairro dos Casa, na periferia de São Bernardo. O local está com a água e a luz cortados devido a uma dívida de R$ 5 mil.

O tio diz ser a única pessoa que garante renda para a família, obtendo cerca de R$ 250 semanais com trabalhos informais como carregador de carga. Os três ainda terão de deixar a residência até o fim do mês porque o terreno está dentro do inventário da família, que será dividido entre sete pessoas.

“A vaquinha vai ajudar muito. Não sei nem como agradecer. O pessoal aqui nas proximidades também trouxe mantimentos, está nos ajudando. O que fizeram com ele não se faz com ninguém, nem mesmo com um animal”, diz Rocha.

Segundo ele, o menino está muito abalado com a situação e tem vergonha de sair de casa e se olhar no espelho. Com outros cinco filhos menores, a mãe do garoto vive em Itapecerica da Serra, também na região metropolitana de São Paulo, em uma casa de dois cômodos. A única fonte de renda da família dela vem do marido.

O caso está sendo acompanhado pelo coordenador da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos da Pessoa Humana (Condepe), Ariel de Castro Alves. “Ao suspeitar de um crime, deve-se chamar a polícia. Eles jamais poderiam ter cometido uma violência desse tipo, que prejudicou a vida do menino e deles próprios, que também são jovens e pobres”, diz o advogado.

Cirurgia

A disciplina de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC, em parceria com a Secretaria de Saúde de São Bernardo, assumirá o caso do adolescente R.R.S. O serviço de Laserterapia da FMABC agendará consulta inicial com o rapaz, a partir da qual será possível definir o tratamento mais adequado, o tipo de laser e o número de sessões para remoção da tatuagem. Todo o tratamento será feito sem custos para a família.

Segundo o dermatologista e chefe do setor de Laserterapia da Faculdade de Medicina do ABC, Simão Cohen, a remoção completa de uma tatuagem requer, em média, de 8 a 10 sessões de laser, feitas a cada 30 dias. “O clareamento da tatuagem é lento e gradativo. Apesar de termos hoje tecnologia e equipamentos de ponta, existem tatuagens impossíveis de serem removidas 100%, mas não são a maioria. Normalmente o resultado é bastante satisfatório”, explica.

As tatuagens coloridas apresentam maior resistência à remoção. Pigmentos escuros (pretos) e azuis são os mais fáceis de serem removidos. Os verdes são levemente resistentes e os vermelhos resistentes. Já a pigmentação amarela é a mais difícil de ser removida. Em pessoas com pigmentação de pele mais escura (negros e mulatos) é possível que a área tratada clareie com a aplicação do laser na tatuagem, mas na maioria das vezes é um estágio transitório e, com o tempo, a pele volta à sua pigmentação normal.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes