Em um Brasil onde o amanhã tem tudo para ser pior que o de hoje, o PSDB vive um dos maiores dilemas de sua história. Começou o ano de 2015 como o mais importante partido de oposição do país, inclusive tendo o ímpeto para ingressar com ação junto ao TSE com a finalidade de cassar a chapa “Dilma/Temer”.
Ironicamente, tempos depois, transformou-se na principal legenda fiadora da governabilidade institucional, além de tornar-se sócio, em pé de igualdade, dos derradeiros escândalos que abarcaram qualquer resquício de credibilidade na imagem de PMDB e PT.
Ainda que motivado por preocupações republicanas, entrou de cabeça no esteio da agenda reformista; porém, tudo indica que Michel Temer ficará nos anais da história com o bônus da aprovação congressual, enquanto o tucanato herdará presentemente, o ônus da sustentação política.
Imagino as caras, bocas e comentários entre Mário Covas e Franco Montoro, que observam atônitos e pasmos da outra dimensão, as desventuras em série do partido que participaram na condição de fundadores e grandes líderes. Enquanto isso, a cúpula partidária promove conjecturas a partir da leitura de pesquisas, com a mesma fadiga de quem consome Rivotril.
Nesse contexto, o melhor instrumento para a compreensão do que virá pela frente é a música de Lulu Santos que diz – “nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará, a vida vem em ondas, como um mar, num indo e vindo infinito”. A nata da cadeia alimentar da política nacional em 2019 avaliará com perspicácia e desenvoltura, mas com pesar indolente, que os postulados utilizados na campanha de 2018 foram superados pela inexorável transformação dos modelos comportamentais de um eleitorado cada vez mais sofisticado em suas aptidões para análises conjunturais e leitura da realidade manifesta. Ou seja, em momentos de profunda inflexão, a faculdade de resiliência fica comprometida, dada a grande força aplicada na saturação do arqueamento.
Assim sendo, a social democracia brasileira transmite a sensação de estar fitando o horizonte longínquo, com os olhos mareados de quem aguarda uma solução redentora. Em síntese, o PSDB abandonou o caminho do protagonismo político ao deixar de lado a capacidade de pautar a superação desse estado de coisas pela via da oposição para assumir a postura de coadjuvante dentro de um fictício sentimento de governabilidade que esvai-se diariamente.
Os tucanos talvez ainda não se deram conta, mesmos com as salva guardas promovidas por Gilmar Mendes, que sangrarão conjuntamente a cada estaca cravada por Janot no peito de Temer. Não compreenderam que esse mandato não lhes pertencia, portanto não necessitavam tornar-se fiel depositários das mazelas edificadas ao longo dos últimos quatorze anos. A defesa ideológica e programática das reformas previdenciária, trabalhista, tributária, entre outras, não exige a obrigatoriedade da viagem em primeira classe no trem fantasma.
