Nos próximos dias os portadores de mieloma múltiplo, hanseníase, AIDS, lúpus, úlcera e outras doenças graves que forem retirar a talidomida no postos da região correm o risco voltar para casa de mãos vazias. A substância, usada no tratamento dessas enfermidades, poderá faltar em todo o Brasil. O último lote do medicamento, distribuído pelo Ministério da Saúde, vence no dia 31 de outubro e após a data os centros de especialidades estarão com os estoques vazios.
Em São Bernardo, Roseli Dall’oca, que cuida da mãe Leonor, 73 anos, portadora do mieloma múltiplo, foi retirar o medicamento na Policlínica e diz que recebeu a informação de que o medicamento não está disponível para novembro. “Estou muito preocupada, porque minha mãe sofre de uma doença grave e não pode ficar sem o remédio. Já entrei em contato com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e Ministério da Saúde, mas as respostas se contradizem e não há uma solução”, afirma.
Também portador de mieloma múltiplo Rogério Oliveira, 46 e fundador da Abramm (Associação Brasileira de Mieloma Múltiplo) está apavorado. “A falta da medicação é gravíssima e pode afetar gravemente muitos pacientes. Por se tratar de uma enfermidade extremamente agressiva, todos os pacientes e os familiares estão com medo da falta do remédio”, diz.
De acordo com Oliveira, não há outra alternativa que possa substituir este medicamento. “Este já é um medicamento de difícil acesso, que possui registro na Anvisa e temos uma grande burocracia para retirar. Se ficarmos sem o remédio, já era”, comenta Oliveira ao lamentar que o mieloma múltiplo é desconhecido, sem cura e por atingir apenas 1% da população não é alvo de interesse do poder público nas campanhas.
A talidomida não é comercializada em farmácias e só está disponível para pacientes da rede pública. Produzido pela Funed (Fundação Ezequiel Dias), instituição governamental que mantém uma fábrica de medicamentos genéricos em Belo Horizonte/MG.
Em nota, a Funed informa que o fornecimento do produto é de responsabilidade do Ministério da Saúde. Segundo a Fundação, o prazo de validade do medicamento é de 24 meses e os últimos lotes foram produzidos em 2014. Esses lotes vencem em outubro de 2016 e se encontram na Central de Armazenagem de Insumos Estratégicos para Saúde (CAIES), do Ministério da Saúde. A Fundação informa que solicitou para a Anvisa autorização para revalidação do prazo de validade destes lotes, como medida de excepcionalidade, a fim de evitar o desabastecimento na rede pública até que a produção seja normalizada. (Colaborou Amanda Lemos)
ABC já enfrenta falta do medicamento
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde de São Bernardo relata que novos lotes de talidomida não chegam desde o começo de outubro. Na cidade houve falta do produto em algumas unidades por uma semana, mas a Assistência Farmacêutica do município fez remanejamento de estoques e o medicamento continua disponível na rede até o final do mês. Informa que não há previsão de quando será normalizado o abastecimento. Conforme nota técnica de 7 de outubro enviada à Secretaria, a Anvisa informou que o desabastecimento se deve, entre outros fatores, pelas dificuldades encontradas pelo fabricante, de adquirir o insumo farmacêutico para a produção da talidomida. Diz que na relação de medicamentos padronizados do SUS não há outro similar e que aguarda o posicionamento do Ministério da Saúde.
Em Santo André, o medicamento, que é distribuído no Centro de Especialidades I, está em falta desde segunda-feira (10). Já em Ribeirão Pires, o estoque abastecerá os pacientes apenas até o final do mês. O Centro de Prevenção e Assistência às Doenças Infecciosas (Cepadi), de São Caetano, também não recebeu a medicação para novembro. Contatado, o Ministério da Saúde não retornou à reportagem até o fechamento desta edição. (AL)