
O Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, empresa responsável pelas cirurgias de catarata feitas em São Bernardo, emitiu nota na qual deixa a impressão de que o oftalmologista Paulo Barição seria o responsável pelos problemas com 21 pacientes após mutirão para cirurgia de catarata realizado no Hospital de Clínicas José Alencar. O advogado e representante do Instituto, José Luiz Macedo, nega que essa tenha sido a intenção do texto emitido e que o objetivo é somente estabelecer as competências das partes envolvidas no processo, pois há uma perícia em andamento para elucidar o caso.
Segundo o comunicado do Instituto, “Todos os profissionais médicos contratados para o serviço pelo Instituto passaram por uma rigorosa avaliação curricular e de habilidades, sendo que o responsável pelo ato cirúrgico realizado no último dia 30 de janeiro, Dr. Paulo Barição, é portador do Título de Especialista pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia e Associação Médica Brasileira, e, também, portador do RQe no Conselho Regional de Medicina (CRM). De acordo com o contrato firmado entre as partes, o material instrumental utilizado pelo médico cirurgião é de sua exclusiva propriedade e responsabilidade. Todos os profissionais médicos cirurgiões têm seu próprio equipamento e cabem a eles os cuidados necessários de esterilização do mesmo”.
A instituição afirma que forneceu “todos os insumos utilizados” com registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e também todo o material reciclável utilizado nas cirurgias. Na nota também foi relembrado que o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista presta serviços à Secretaria de Saúde de São Bernardo há mais de um ano e nesse período foram realizadas mais de mil intervenções “sem nenhuma intercorrência”.
O advogado nega que este trecho da nota oficial tenha a intenção de colocar a culpa no profissional. “Em nenhum momento o Instituto afirmou que o médico era o culpado. O objetivo do comunicado é estabelecer de quem eram as competências, tanto que informamos que o fornecimento de insumos foi de responsabilidade do Instituto. Cada um tem sua competência, o Instituto forneceu insumos, o médico usou seus instrumentos e o hospital tem responsabilidade pela sala de cirurgia. Existe uma perícia em andamento pelo Instituto Adolfo Lutz e seria leviano de nossa parte fazer qualquer afirmação antes que esse processo seja concluído”, disse Macedo.
Questionado sobre a situação contratual de Paulo Barição, o advogado respondeu que tanto o oftalmologista quanto o Instituto estão sem atividades até que a investigação seja concluída. Macedo também não quis comentar de quem seria a responsabilidade pelo ocorrido, do Instituto ou do Hospital de Clínicas. “Nada pode ser dito neste momento. O Adolfo Lutz concluirá a investigação até o final do mês. Até lá tudo o que for dito é mera especulação”.
O RD procurou a Prefeitura de São Bernardo para repercutir a nota, porém, até o fechamento desta edição não houve resposta. 27 cirurgias foram realizadas no dia 30 de janeiro deste ano. 21 pessoas apresentaram quadro de infecção causada por uma bactéria do gênero Pseudomonas aeruginosa. Seis pessoas perderam a visão, sendo que duas perderam o globo ocular. A Secretaria Municipal de Saúde abriu sindicância para apurar o caso.
Na Câmara, o vereador de oposição, Julinho Fuzari (PPS), conseguiu angariar dez assinaturas para protocolar a sua proposta de instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso. Porém, não conseguiu que sua propositura fosse colocada em votação. Durante a sessão desta semana, o popular-socialista apresentou uma representação do Ministério Público que pedia para que os mutirões fossem suspensos.
Veja abaixo, na íntegra, a nota emitida pelo Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista.
NOTA DE ESCLARECIMENTO – INSTITUTO DE OFTALMOLOGIA DA BAIXADA SANTISTA | Nº 2
Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista esclarece sobre a contratação do médico cirurgião – O Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, em atividade desde 2003, vem mais uma vez lamentar o triste episódio ocorrido no último de 30 de janeiro de 2016, no Hospital de Clínicas Municipal de São Bernardo do Campo, quando, no curso de uma sequência de cirurgias de catarata, realizadas por um prestador de serviços do Instituto, tenha surgido a contaminação de 21 pacientes pela bactéria de gênero Pseudomonas aeruginosa.
Há mais de um ano, o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista presta serviços à Secretaria Municipal da Saúde de São Bernardo do Campo, incluindo a realização cirurgias de Catarata, sendo certo que mais de 1.000 intervençõesforam realizadas sem nenhuma intercorrência. Todas as cirurgias vem sendo realizadas regularmente, sendo agendadas semanalmente e não em sistema de mutirão, como a mídia vem anunciando.
Todos os profissionais médicos contratados para o serviço pelo Instituto passaram por uma rigorosa avaliação curricular e de habilidades, sendo que o responsável pelo ato cirúrgico realizado no último dia 30 de janeiro, Dr. Paulo Barição, é portador do Título de Especialista pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia e Associação Médica Brasileira, e, também, portador do RQe no Conselho Regional de Medicina (CRM).
De acordo com o contrato firmado entre as partes, o material instrumental utilizado pelo médico cirurgião é de sua exclusiva propriedade e responsabilidade. Todos os profissionais médicos cirurgiões têm o seu próprio equipamento e cabem a eles os cuidados necessários de esterilização do mesmo.
No caso específico, coube ao Instituto de Oftalmologia o fornecimento de todos os insumos utilizados, que têm, obrigatoriamente, registro na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), assim como seguem os padrões preconizados em contrato e em consonância com mais alta tecnologia do setor.
O Instituto também foi responsável pelo envio de todo material reciclável, que passou pelo criterioso processo padrão de esterilização do próprio Hospital de Clínicas, onde se realizaram as cirurgias.
O Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista continua à disposição da imprensa, permanecendo no aguardo de um resultado da perícia requisitada.