ABC - terça-feira , 30 de abril de 2024

Greve acirra atrito entre médicos e prefeitura de Ribeirão Pires

Aviso na UPA Santa Luzia informa pacientes sobre paralisação (Foto: Tiago Oliveira)

Cerca de 70 médicos plantonistas que trabalham na rede municipal de Saúde de Ribeirão Pires deram início a uma paralisação nesta segunda-feira (24), por tempo indeterminado. A greve atinge o Hospital e Maternidade São Lucas e a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Santa Luzia.

Os profissionais compareceram aos locais de trabalho, mas atenderam somente casos de emergência. Pacientes com casos menos graves foram encaminhados para uma das onze UBSs (Unidades Básicas de Saúde) do município.

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A mobilização provocou uma guerra de versões entre o governo Saulo Benevides (PMDB) e o sindicato que representa a categoria. De acordo com os médicos, o principal motivo do protesto é a estrutura precária das unidades de Saúde da cidade.

A prefeitura, no entanto, alega que o real motivo da greve é outro: a implantação do controle de ponto digital, que permitiu acompanhar se os profissionais estão cumprindo a carga horária, além do corte de um bônus que era pago aos médicos.

Ratos e baratas
A lista de reclamações dos médicos inclui falta de material e remédios básicos, alimentação inadequada para os pacientes e higiene precária.

“A estrutura física é muito antiga, com encanamentos com problemas. Chove dentro do hospital. Sem contar a presença de ratos andando pelo hospital, baratas andando à vontade, ratos comendo placenta e cordão umbilical”, afirma o presidente do Sindicato dos Médicos do Grande ABC, Ari Wajsfeld, que trabalha há 16 anos no Hospital São Lucas. “Há quatro anos encontraram um pombo na caixa d´água”, relata.

De acordo com o sindicato, a empresa que administrava a cozinha do São Lucas parou de oferecer o serviço por falta de pagamento, prejudicando a preparação da alimentação balanceada que precisa ser oferecida para os pacientes.

As atividades do laboratório que fazia exames no hospital também foram interrompidas. “Os exames agora você pede 7h e ele chega depois das 19h. Tenho que esperar horas, com o paciente correndo risco de morte”, afirma Ari Wajsfeld.

Ponto e gratificação
Apesar de reconhecer falhas pontuais no atendimento de Saúde do município, como alguns casos de falta de medicamentos, a prefeitura de Ribeirão Pires alega que os médicos que cruzaram os braços estão escondendo o real motivo da greve.

“O motivo real dessa paralisação parcial é não querer bater o ponto. Eles querem chegar a qualquer hora, dando prejuízo à população. Já teve caso de médico que entra às 7h chegar às 11h e ainda querer assinar o ponto como se não tivesse atrasado”, alega o diretor administrativo da secretaria da Saúde de Ribeirão Pires, José Carlos de Jesus da Silva. Sobre a denúncia de falta de higiene, o diretor rebate de forma categórica. “Nossa higienização é impecável”.

O controle de ponto por meio de reconhecimento da digital foi implantado na rede municipal de Saúde no dia 1º de novembro. Outro motivo de insatisfação dos médicos foi que, nesta mesma data, a prefeitura cortou de forma definitiva uma gratificação de assiduidade de 30% sobre o salário que era paga desde a gestão Clóvis Volpi.

O sindicato dos médicos diz que as medidas foram retaliação do governo Saulo Benevides às seguidas reclamações que os profissionais fazem desde o ano passado.

A rede municipal de Saúde de Ribeirão Pires possui 107 médicos concursados, dos quais 70 são plantonistas – exatamente o grupo que entrou em greve nesta segunda-feira. Os demais profissionais atuam em unidades da Atenção Básica.

A UPA Santa Luzia atende cerca de 500 pacientes por dia. O Hospital e Maternidade São Lucas realiza, em média, dois partos diariamente.

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Faixa na UPA Santa Luzia mostra reivindicações dos médicos de Ribeirão Pires; Cartaz idêntico foi exibido em frente ao Hospital São Lucas (Foto: Tiago Oliveira)


Aviso na UPA Santa Luzia informa pacientes sobre paralisação (Foto: Tiago Oliveira)

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