
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) atendeu 12.366 alunos, em 2023, entre Diadema, Mauá, Rio Grande da Serra, Santo André, São Bernardo e São Caetano. As cidades informaram que vão garantir ou até aumentar o número de vagas para 2024. Se a expectativa se confirmar o número de alunos do EJA vai passar de 13 mil.
Na maior parte da região as inscrições acontecem o ano todo. Os candidatos devem apresentar documentos de identificação, comprovante de endereço e, se tiverem, histórico escolar. Da EJA participam alunos de todas as idades, desde os que estão em processo de alfabetização até aqueles que pretendem concluir os estudos porque não conseguiram terminar na idade regular.
Há várias histórias de quem conseguiu ler as primeiras palavras, quem melhorou a caligrafia, e não apenas os alunos aprendem, quem trabalha como educador revela que também aprende muito com os alunos, com as experiências de vida de cada um.
Anizia Gusmão Sirqueira, de 77 anos, voltou a estudar depois de quase 60 anos longe dos bancos escolares. Natural de Mundo Novo Bahia, no interior da Bahia, Anizia chegou a Diadema com 25 anos de idade, em 1971, e com pouco estudo; tem apenas a 6ª série do ensino fundamental. “Meu pai não deixava estudar, a gente tinha de trabalhar na roça, então eu só entrei na escola aos 17 anos, mas não gostava, porque eu tinha de trabalhar, então era muito cansativo”, relata.
Anizia conta que saia muito cedo de casa, ia buscar água na fonte para a mãe, quando voltava tomava café e já saia, às 6h, para trabalhar na roça. “Depois eu ia para atividades que tinham na escola e já ficava para a aula, chegava em casa às 23h e ainda fazia a lição de casa, porque no dia seguinte levantava às 5h. Era muito cansativo, acho que é por isso que eu não gostava”, diz.
Considerada mais paulista que baiana, Anizia afirma que as coisas aqui eram muito diferentes da terra natal e a falta de complementação dos estudos criaram mais dificuldades, na leitura e escrita. “Letra de forma eu leio muito bem, mas a letra de mão para mim é muito difícil. A minha letra também foi ficando muito feia, um garrancho, fico com vergonha ao preencher algum documento. Quando eu ia no médico e me davam uma ficha para preencher eu morria de vergonha, errava, pedia outro papel. Quando entregam alguma coisa aqui em casa e precisava assinar eu pedia para o próprio entregador assinar”, conta.
Anizia frequenta há três meses a EJA em escola do Jardim Amuhadi, onde mora. Conta que tem muitas dificuldades, por problemas de saúde, mas a professora compensa com muita paciência. “Eu tive um aneurisma e tirei também um tumor da cabeça, depois disso esqueci muita coisa e minha letra ficou ainda muito mais feia. Eu também tenho dificuldade com ditados muito longos, às vezes eu preciso parar e recomeçar depois”, relata. “Agora minha caligrafia é outra, já estou muito melhor e não tenho mais vergonha”, conta a idosa.
Ativa, como se estivesse ainda 25 anos de idade, Anizia ainda acorda bem cedo, faz caminhada, cuida das coisas de casa e faz peças de crochê, como adornos e tapetes, além de panos de prato e consertos em roupas. “Eu fico ativa o dia inteiro, começo cedo e vou até as 11 da noite”, conta. Além do aprendizado, a escola trouxe mais ânimo para Anizia. “Eu tenho meus colegas, tem uma vizinha que também estuda no EJA e a gente conversa na volta. As amizades são muito boas. Por isso eu vou voltar para a escola no ao que vem”, completa.
Vocação
Vocacionada para trabalhar como professora de educação especial, Pedrina Alves do Nascimento, de 41 anos, começou a dar aula para uma turma da EJA, em Mauá, neste ano. Apaixonou-se pela classe e diz que quer continuar na modalidade e também se especializar. “A educação especial foi uma escolha na minha carreira, a EJA foi meu primeiro ano agora, em 2023, e foi o que restou para mim como atribuição de aulas, mas gostei tanto que, para 2024, eu mesma já fiz a escolha. Eu poderia escolher entre educação infantil e creche, mas preferi a educação de adultos; vou continuar, porque me identifiquei”, relata a educadora, que atende uma turma com 15 alunos.

A professora relata a troca de experiências entre professor e aluno e isso a fez se apaixonar pela EJA. “A gente lida com adultos, mas não são só os não alfabetizados, tem jovens de 30 e poucos anos que estão buscando completar os estudos e é muito diferente do que trabalhar com crianças, são pessoas maduras, que trabalham o dia todo e à noite vão para a escola, chegam cansados, mas têm muita vontade de estudar”, conta.
Pedrina explica que os alunos fazem amizade e são muito apegados entre si e com os professores. “E nós nos apegamos a eles também. Acho que porque não completaram os estudos ou porque nunca estudaram eles têm maior interesse”, diz.
No EJA, as aulas seguem formato diferente do ensino regular. Não são preparadas com conteúdo específico a ser dado, se desenvolvem durante as conversas com os alunos. “Trabalhamos em cima de projetos, fazemos atividades com base no circulo de cultura do aluno e das suas vivências, para que encontrem saída para os seus problemas”, explica a professora.
A professora diz que pretende seguir atendendo a classes da EJA. “Gostei tanto que quero me especializar”, completa.
Cidades terão mais vagas para 2024
Rio Grande da Serra e São Caetano vão oferecer no próximo ano o mesmo número de vagas, 33 e 60, respectivamente. Ribeirão Pires não informou a situação do EJA, enquanto as demais cidades anunciam mais vagas.
Em São Caetano, as inscrições se encerraram dia 5 de dezembro. A cidade oferece o EJA apenas no fundamental I, séries subsequentes são atendidas pelo governo do Estado. As aulas serão ministradas pela EME (Escola Municipal de Ensino) Professora Alcina Dantas Feijão, que, em 2024, funcionará excepcionalmente nas dependências da EMEF 28 de Julho (rua Oriente, nº 501, Bairro Barcelona) durante o período noturno. Há 15 vagas disponíveis para cada um dos anos, do 2º ao 5º. Havendo número superior de candidatos em relação às vagas será utilizado como critério para a matrícula, a faixa etária, na ordem crescente, do mais novo para o mais velho”, informa a Prefeitura.
Diadema ofereceu 2.140 vagas para os cursos em 2023 e para o próximo ano estão previstas mais 2,2 mil. O processo de matrículas já teve início e podem ser feitas durante o ano todo. Os documentos necessários são RG, CPF, comprovante de endereço e declaração ou histórico escolar (caso não possua, realiza exame de classificação).
Rio Grande da Serra manterá o mesmo número de vagas deste ano, 33. O processo de matrículas está em andamento.
São Bernardo não estimou quantos alunos irá atender em 2024. Este ano foi a segunda cidade com maior número de matriculados no EJA, 3.998 alunos. A expectativa é atender 88 turmas em 20 unidades escolares com atendimento na modalidade, cinco com ensino à distância para EJA anos finais. As matrículas começam em fevereiro.
Mauá atendeu este ano 363 alunos da EJA nos anos iniciais e 184 nos anos finais e no próximo ano terá 581 e 250 vagas, respectivamente. As inscrições estão em andamento e podem ser feitas o ano todo.
A cidade com maior número de atendimentos na EJA na região em 2023 foi Santo André, com 5.588 alunos. Em 2024, o número deve se aproximar de 6 mil, sendo três mil por semestre. As inscrições são contínuas e podem ser realizadas em qualquer tempo, basta comparecer na unidade escolar de interesse com os documentos necessários para deixar incluir o nome em lista de espera, até a abertura da matrícula. As matrículas começam dia 2 de janeiro.