O título nada mais é que a resposta da artesã Mary Blue, de São Caetano, quando questionada, no RDtv, sobre o assunto no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho em alusão à luta e à resistência das mulheres negras em âmbito mundial.
Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) a data teve origem durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em 1992 em Santo Domingo, na República Dominicana. O evento reuniu mais de 300 representantes de diversos países para compartilhar vivências, denunciar opressões e debater soluções para a luta contra o racismo e o machismo.
De lá para cá ainda há muita coisa a ser conquistada, diz Mary Blue, para quem a data deve ser comemorada por relembrar a desigualdade de direitos das mulheres negras latino-americanas e também marcar alguns poucos avanços nos últimos anos : “Não devemos esquecer a opressão, o racismo estrutural no Brasil e no mundo inteiro, mas temos tido algumas conquistas, agora podemos gritar e ainda precisamos lutar muito para conquistar nossos direitos”, afirma.
Mariana França, atriz, gestora cultural, diretora e produtora de Santo André, o Dia Internacional da Mulher Negra é uma data que tem que celebrada com as novas gerações para reverenciar as gerações passadas. “Graças à luta das nossas mães, avós, bisavós, nós conseguimos acesso a políticas públicas, e experimentamos hoje um convívio social mais ameno, 25 de julho é uma data para que nunca esqueçamos o trabalho que elas fizeram, suas lutas alavancaram nossas conquistas atuais, que precisam ser reafirmadas” destaca.
Diretora do documentário “Clausura” (2017) que trata sobre a interferência da depressão no processo criativo de artistas, vencedor do XVII Encontros de Cinema de Viana do Castelo, em Portugal, e autora do documentário “Bonita” (2021) que aborda a solidão da mulher negra sob a perspectiva de três gerações, Mariana França declara que a permanência da mulher negra no campo das artes já é uma batalha por si só. “Passamos muito tempo ouvindo histórias de pessoas brancas, e precisamos de políticas públicas que incluam pessoas pretas, pardas, indígenas e trans dedicadas à arte para que sejam inseridas no mundo da produção e difusão cultural e possam também contar suas histórias”, assinala.
Racismo ainda é limitante para os avanços – Para Mary Blue políticas públicas para o fomento do trabalho da mulher negra na arte e na cultura são sempre necessárias para não deixar morrer os poucos espaços existentes. Na visão de Mary o racismo ainda é um fator limitante para os avanços nesse sentido. “Os espaços em que gostaríamos de estar não são oferecidos por causa do racismo, infelizmente ele impera nessas questões”, afirma.
Mariana França observa que o racismo não vem de maneira clássica, mas revestido de preconceito com o trabalho da pessoa preta, sem nem mesmo conhece-lo. “Chego a pensar porque não lemos mulheres negras, não assistimos mulheres negras nos cinemas, porque não consumimos o artesanato de mulheres pretas, a cultura preta é diminuída, desvalorizada” aponta. Para a atriz ainda falta a sociedade olhar para as mulheres e homens pretos como artistas e trabalhadores como quaisquer outros, sem a imposição de quotas, ou condições especiais para que eles estejam nesses espaços . Mary Blue faz coro com ela: “Tem que ser normal você não precisar brigar para simplesmente existir, que pena”, finaliza.