A fila da adoção no Brasil conta com números que geram dúvidas sobre sua existência. Atualmente são quase 5 mil crianças e adolescentes aguardando um lar e 38 mil pretendentes. Mesmo com um número grande de pais e mães dispostos a ter os “filhos do coração”, a busca por um perfil determinado acaba gerando problemas, principalmente para as crianças acima dos seis anos. Integrantes da Comissão da Infância e Adolescência, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Santo André, apontaram os principais pontos de discórdia no atual cenário, em entrevista ao RDtv.
“Mais de 82% desses pretendentes à adoção preferem crianças menores de seis anos, sendo que essa é uma faixa muito pequena de crianças habilitadas para adoção (cerca de 800 crianças). Então um dos desafios da nossa Comissão é fazer esse trabalho de sensibilização do que é a adoção, da motivação correta para a adoção e o porquê de não adotar uma criança acima dos seis anos”, explica a advogada Priscila Frade Marques.
“Quando têm pessoas que querem adotar e não conseguem, porque é difícil, eu sempre faço uma colocação nos grupos de adoção em que eu participo: Qual foi a fila que você resolveu entrar? Você resolveu entrar na fila que aguarda uma criança branca, menina, olhos azuis e loirinha? Então você vai arcar com as consequências, porque esse perfil de criança nós não temos”, completou a advogada Shirley Van Der Zwann.
Além da idade e da cor da criança, outro ponto que gera problemas é a adoção de crianças e adolescentes que tenham algum tipo de comorbidade ou enfermidade. Tal fato é visto no preenchimento das fichas dos pretendentes, em que a maioria acaba assinalando não querer ter um filho ou uma filha com algum problema de saúde.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo conta com um programa chamado “Adote um Boa Noite”, com objetivo de chamar a atenção para a causa da adoção tardia e fora do estereótipo colocado pela maioria dos pretendentes. Para acessar o sistema basta entrar no site: https://www.tjsp.jus.br/adoteumboanoite.
A assistente social do Instituto de Hebiatria, da Faculdade de Medicina do ABC, Janete Figueiredo, lembra que a adoção é a última instância na vida de uma criança e de um adolescente. Atualmente 29 mil estão acolhidas pelo País, porém, a maioria está em programas que tentam aproximá-las da família.
A situação de vulnerabilidade é o que chama a atenção nestes casos. “Se já tínhamos (antes da pandemia) vulnerabilidades grandes como o desemprego, falta de escola, habitação, inadequação socioeconômica, você imagina com a pandemia, onde nós temos um alto índice de desemprego e de uma perda financeira. Por não ter dinheiro e não ter condições eu não vou pensar em adoção, eu tenho que fortalecer essa família e dar condições a ela de estrutura. Precisamos mudar primeiro os conceitos do que me leva a adoção”, explica.