Um estudo do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, mostra que quatro em cada dez crianças desenvolvem efeitos prolongados da covid-19 nas 12 semanas seguintes à infecção. O estudo mostra que os pequenos, assim como os adultos também podem sofrer os efeitos da chamada covid longa, como a miocardite (inflamação no músculo do coração) e o diabetes. Apesar dos efeitos do novo coronovírus nas crianças as aulas presenciais nas redes estadual, municipais e nas escolas particulares estão mantidas para o início de fevereiro. Especialistas ouvidos pelo RD se dividem quanto a um adiamento ou não do retorno às salas de aula. No ABC cerca de 200 mil alunos, só das redes municipais, devem voltar às aulas no próximo mês.
Para a infectologista Elaine Matsuda o retorno às aulas presenciais poderia esperar arrefecer o momento de maior lotação dos hospitais. “Acredito que tinha que esperar para não ter pressão no sistema de saúde. É o momento de proteger as crianças, de vacinar e esperar terem o esquema completo de vacinação porque são só 28 dias de intervalo (caso do imunizante Coronavac). Já se esperou tanto tempo porque não se espera mais um pouco, pelo menos até o final de fevereiro, depois do Carnaval?. Teria que tatear e ver o número de casos, para depois da queda dessa onda aí sim pensar em ter volta às aulas. Se a gente está assim sem ter as crianças na escola, imagine com a volta”, diz a especialista.
Já para o pneumologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC, Elie Fiss, não há problemas com o retorno às aulas uma vez que a vacinação já começou. “As crianças já estão sendo vacinadas com uma dose, logo virá a segunda, então acho que deve se manter e continuar o retorno. Só acho que devem ser mantidos todos os protocolos como uso de máscara e higienização constante das mãos. Não dá mais para, toda vez que tiver um aumento de casos, ficar parando absolutamente tudo. A medida que os casos vão sendo avaliados e que o número de crianças hospitalizadas não seja excessivamente elevado pode se voltar às aulas presenciais”, opina. O professor da FMABC chama a atenção para a testagem dos professores. “Se possível os professores serem testados regularmente também”, recomenda.
Pesquisa
As prefeituras não pensam em mudar as datas de reinício das aulas. Ribeirão Pires enviou nesta quarta-feira (26/01) aos pais e responsáveis dos cerca de 7 mil alunos da rede municipal, um questionário. A pesquisa visa levantar a quantidade de alunos já imunizados, entre outras informações que irão contribuir para a atualização das medidas de segurança. Na cidade são cerca de 1,3 mil profissionais na área da Educação. Na cidade o retorno dos estudantes às salas de aula está previsto para o dia 7 de fevereiro
Em São Caetano os cerca de 22 mil alunos da rede municipal retornam às aulas dia 9. “A Prefeitura de São Caetano está empreendendo esforços para estimular a vacinação de crianças por meio do convencimento dos pais quanto à importância da imunização. A exigência da caderneta de vacinação para entrada nas escolas, por enquanto, não é pauta do governo”, informou a administração em nota.
Os 82 mil alunos da rede municipal de São Bernardo voltam as aulas no dia 7. A prefeitura diz que as aulas serão somente presenciais. “O retorno das aulas presenciais já havia sido autorizado no município desde o dia 2 de agosto de 2021 e se tornou obrigatório a partir do dia 18 de outubro do ano passado”. A prefeitura disse que 1,47% dos 8.943 funcionários da Educação está afastado de suas funções por síndrome gripal, suspeita ou diagnóstico confirmado de covid-19. A cidade vai exigir a vacinação, mas isso não será fator que impedirá ingresso nas aulas, já os servidores são obrigados a se vacinar. “Em São Bernardo, anualmente, os pais devem apresentar a carteira de vacinação dos estudantes atualizada no ato da matrícula. Além disso, todos os funcionários da pasta deverão apresentar comprovante vacinal para retomada das atividades, conforme Lei Municipal 7008/2021”, detalha a prefeitura.
Remoto
A prefeitura de Diadema assinalou a possibilidade de ensino remoto. Na cidade o início do ano letivo está previsto para o dia 7. “O que muda é a possibilidade de os pais optarem por não enviar os seus filhos às escolas. Os profissionais da rede municipal já receberam pelo menos duas doses da vacina. Além disso, a prefeitura tem realizado busca ativa para garantir que todos os estudantes sejam imunizados”, diz o paço diademense. A rede municipal da cidade conta com 31 mil estudantes. A cidade estuda ainda se irá exigir comprovante de vacina. “Esta é uma decisão que ainda está em estudo junto ao Departamento Jurídico e vai depender do ritmo da vacinação e do avanço ou não no número de infectados pela doença”, destaca nota da prefeitura.
Rio Grande da Serra ainda não definiu o dia para volta às aulas na sua rede, mas a cidade também vai garantir o ensino remoto. “O calendário escolar ainda não foi finalizado. Entretanto (a prefeitura) garantirá aulas online para os pais que não se sentirem seguros em mandar os filhos para a escola”, diz a administração em nota. A cidade tem 110 servidores por período e cerca de 1.900 alunos. O município não exigirá o comprovante de vacinação para a frequência das aulas, pois grande parte dos alunos da rede municipal têm de 0 a 5 anos.
Em Santo André o retorno das aulas na rede municipal está previsto para o dia 8. “O município acompanha e monitora os casos de covid-19 e síndrome gripal e, no momento, este cenário nos permite manter a previsão de retorno para a data planejada, seguindo todos os protocolos sanitários vigentes”, diz a prefeitura em nota. A administração andreense informa que já foram vacinados mais de 10 mil crianças de 5 a 11 anos de idade. A cidade não vai exigir comprovante de vacinação. “As unidades escolares e demais equipamentos da rede de ensino municipal estão divulgando através de cartazes a campanha de vacinação contra covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, como também incentivando e orientando os pais e responsáveis sobre a importância da vacinação e os procedimentos para agendamento no município, através dos grupos de WhatsApp das escolas. A prefeitura avalia, portanto, que a melhor ferramenta é a da conscientização dos pais e responsáveis sobre a importância da imunização das crianças”. Santo André tem 34.338 alunos e 4.504 servidores na Educação.
A prefeitura de Mauá não respondeu aos questionamentos do RD.
Estado
A Seduc –SP (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo) informou que o ano letivo de 2022 da rede estadual começará no dia 2 de fevereiro. O retorno presencial das aulas da rede estadual de São Paulo é obrigatório desde novembro de 2021, e segundo a pasta está “embasado na recuperação pedagógica dos estudantes e com o aval das autoridades sanitárias”.
O Estado, porém, vai exigir a apresentação das carteiras de vacinação no fim do 1º bimestre. A medida será publicada em forma de resolução no Diário Oficial em breve. “Apesar de não ser impedimento para realização da matrícula, uma vez que fere o direito à Educação, a escola, por lei, tem a obrigação de informar os órgãos responsáveis (Conselho Tutelar) da não apresentação do comprovante de vacinação para que as medidas cabíveis sejam tomadas”, diz a Seduc, em nota. “O Conselho Estadual da Educação estabelece (Deliberação 204/2021) a obrigatoriedade de os estudantes frequentarem as aulas e atividades presenciais na escola. Todavia, as unidades que tiverem estudante que faz parte do grupo de exceção à obrigatoriedade devem, por determinação do mesmo Conselho, manter atividades remotas para garantia do direito à educação deste estudante”, finaliza a Secretaria de Educação do Estado.